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Capítulo 143

Texto Original

Caput CXLIII

De fratre Ioanne simplici.

 

190 
1 Eunte sancto Francisco iuxta villam quamdam prope Assisium, quidam Ioannes, vir simplicissimus, qui in agro arabat, occurrit ei dicens: “Volo quod me fratrem efficias, quoniam ex multo tempore Deo sevire cupio (cfr. Act 14,3; Mat 6,24)”. 
2 Gavisus est sanctus, considerata viri simplicitate responditque ad placitum: “Si vis”, inquit, “frater, noster socius fieri, da pauperibus, si quid habes (cfr. Mat 19,21), et expropriatum recipiam”. 
3 Solvit protinus boves, et unum offert sancto Francisco. 
4 “Istum”, ait, “bovem demus pauperibus! Dignus enim sum de rebus patris mei tantam portionem (cfr. Luc 15,12) accipere”. 
5 Subridet sanctus, at non modicum probat simplicitatis affectum. 
6 Audientes hoc parentes et parvuli fratres, accurrunt cum lacrimis, plus bovem quam hominem sibi auferri dolentes. 
7 Quibus sanctus: “Animaequiores estote (cfr. Bar 4,27)! en, reddo vobis bovem, aufero fratrem”. 
8 Ducit ergo hominem secum, et pannis religionis indutum ob gratiam simplicitatis specialem socium facit.
9 Cum igitur in aliquo loco ad meditandum staret sanctus Franciscus, quoscumque faciebat gestus vel nutus, protinus in se repetebat et transformabat simplex Ioannes. 
10 Nam spuente spuebat, tussiente tussiebat, suspiria suspiriis iungens et fletus fletibus socians; levante sancto manus ad caelum (cfr. Deut 32,40), levabat et ille, intuens diligenter ipsum velut exemplar cunctaque in sese transformans. 
11 Advertit hoc sanctus, et quaerit aliquando, cur faciat talia. 
12 Respondet ille: “Omnia”, inquit, “promisi ego facere quae tu facis; periculosum mihi est aliquid praeterire”. 
13 Congaudet sanctus purae simplicitati, blande tamen prohibet, ne de caetero faciat. 
14 Itaque non post multum tempus in ista puritate migravit simplex ad Dominum. 
15 Cuius vitam frequenter sanctus imitandam proponens, non fratrem Ioannem, sed sanctum Ioannem iucundissime nominabat. 
16 Adverte piae simplicitatis proprium esse maiorum legibus vivere, sanctorum semper inniti exemplis et institutis. 
17 Quis det humanae sapientiae (cfr. Iob 6,8; 1Cor 2,4) tanto studio sequi vel regnantem in caelis, quanto pia simplicitas sibi conformabatur in terris? 
18 Quid demum? Secuta sanctum in vita, praecessit sanctum ad vitam.

Texto Traduzido

Caput CXLIII

Sobre Frei João, o simples.

 

190 
1 Passando São Francisco por uma vila perto de Assis, um certo João, homem muito simples, que estava arando o campo, foi ao seu encontro e disse: “Quero que me faças frade, porque há muito tempo desejo servir a Deus”. 
2 O santo ficou muito contente ao ver a simplicidade do homem, e lhe respondeu: “Irmão, se queres ser nosso companheiro, dá aos pobres o que podes ter e, quando não tiveres mais nada, eu te receberei”. 
3 Ele soltou os bois na mesma hora e ofereceu um a São Francisco, dizendo: 
4 “É justo que demos um aos pobres! Porque essa é a parte que me cabe dos bens de meu pai”. 
5 O santo sorriu e gostou bastante dessa prova de simplicidade. 
6 Mas os pais e irmãos mais moços, quando souberam disso, apareceram chorando, mais pesarosos de perder o boi que o homem. 
7 Disse-lhes o santo: “Não se assustem, eu devolvo o boi e fico com o irmão”. 
8 E levou o homem consigo, vestiu-o com o hábito da religião e o escolheu como companheiro especial por causa da simplicidade. 
9 Quando São Francisco se punha a rezar em algum lugar, o simples João logo imitava e repetia todos os seus gestos e expressões. 
10 Cuspia quando ele cuspia, tossia quando tossia, acompanhava-o quando suspirava e quando chorava. Se o santo levantava as mãos para o céu, ele também levantava, olhando-o atentamente como um modelo e transformando tudo em si mesmo. 
11 O santo percebeu isso e perguntou, uma vez, por que o fazia. 
12 Ele respondeu: “Prometi fazer tudo que fazes: para mim é perigoso deixar escapar alguma coisa”. 
13 O santo se alegrou com ele por essa simplicidade pura, mas proibiu com brandura que continuasse daí em diante. 
14 O homem simples viveu pouco tempo nessa pureza, e foi para junto do Senhor. 
15 O santo propunha freqüentemente sua vida como um modelo e tinha gosto de chamá-lo não de Frei João mas de São João. 
16 Observemos que é próprio da piedosa simplicidade viver de acordo com as leis dos antigos e se apoiar sempre nos exemplos e nos costumes dos santos. 
17 Quem dera à sabedoria humana seguir com tanto empenho o que reina no céu quanto a piedosa simplicidade a ele se conformou na terra! 
18 Que mais? Tendo seguido o santo em vida, precedeu-o na glória.