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26). Despotismo

A quinta culpa de Frei Elias foi que nunca quis visitar pessoalmente a Ordem. Mas morava sempre em Assis ou em um certo convento que mandara construir na diocese de Arezzo, belíssimo, ameno e agradável, convento que até agora se chama de Celle di Cortona... 
A sexta culpa foi que amargurava e desprezava os ministros provinciais se não regatavam os seus vexames mandando tributos e presentes para ele.. e os mantinha sob o seu bastão, como o junco quando é batido pela água. O como treme a cotovia quando o gavião a persegue e tenta captura-la. Não devemos nos espantar, porque, como se diz no Livro I dos Reis, 25 (1Sm 25,17): ele era filho de Belial, tanto que ninguém podia falar com ele. E na verdade ninguém ousava dizer-lhe a verdade e repreender sua vida e suas obras malvadas, com exceção de Frei Agostinho de Racanati e de Frei Boaventura de Iseo. Por isso, com leviandade cobria de desprezo os ministros que eram acusados de falsidade pelos seus comparsas, espalhados por todas as províncias da Ordem: certos irmãos leigos, cheios de malícia, pestíferos e obstinados... Depunha-os do ofício, mesmo sem nenhuma culpa, e os privava dos livros e do direito de pregar e confessar. Para alguns ainda mandava o capuz comprido (caparão) e os fazia anda do Oriente para o Ocidente... Resumindo, no tempo de Frei Elias, os ministros eram submetidos a estes três males: eram caluniados, eram submetidos a julgamentos violentos e injustos, e a justiça era perturbada em suas províncias... Quanto ao terceiro mal, é coisa conhecida, e eu o vi com meus olhos, que Elias colocava em todas as províncias um visitador, que aí estava durante todo o ano e girava pela província, como se fosse o seu ministro, e parava em alguns conventos, ele com seu companheiro, até por vinte e cinco dias ou até por um mês mais ou menos, segundo o seu capricho; e é bom dizer que as províncias eram menores do que agora. E quem queria apresentar acusações contra o seu ministro podia faze-lo e era escutado por esses visitadores. E o visitador podia anular, tirar ou diminuir o que o ministro mandava em sua província, a seu juízo... E, o que era mais grave: Elias mandava visitadores que eram mais cobradores que corretores, para que fizessem pressão sobre as províncias e seus ministros, para arrancar tributos e presentes... Foi com esse sistema que os ministros provinciais daquele tempo fizeram, por sua conta, fundir um sino para a igreja de São Francisco, grande, belo e sonoro, que eu vi; esse, com mais cinco sinos, enchia todo o vale com admirável acorde... (pp. 147-151).