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Capítulo LIV

Texto Original

Caput LIV

De fratre qui vidit animam germani sui portari ab angelis.

 

1 Post obitum b.p.n. Francisci fuerunt duo germani in Ordine, scilicet fr. Humilis et fr. Pacificus, qui fuerunt mire sanctitatis et perfectionis: unus illorum mortuus est Suffiani, alter vero qui stabat in loco remoto, dum orationi vacaret in loco solitario et deserto, facta est super eum manus Domini et, positus in extasi, vidit animam germani sui in celum sine aliqua retardatione conscendere.
2 Revolutis autem multis annis, frater qui vivebat factus est de familia Suffiani, ubi germanus quondam sepultus extiterat. Tunc vero fratres ad petitionem dominorum de Brunfortio dictum locum Suffiani in locum alium mutaverunt, ita quod fratres transtulerunt illic sanctorum fratrum reliquias; 3 inter quas, cum ad sepulturam germani dicti fratris venissent, ille ossa germani sui accepit et cum vino optimo lavit et reposuit in alba tobalea; et osculari cum multa devotione et lacrimis non cessabat.
4 Fratres autem de hoc mirabantur et quasi dispiciebant, quia, cum esset frater magne sanctitatis, videbatur affectu sensibili et seculari modo plorare; et insuper allegabant quod ossa aliorum fratrum non minus erant digna honore quam illa. 5 Quibus ille, humiliter satisfaciens, ait: “Fratres mei carissimi, non miremini si ossibus germani mei feci quod non feci aliis; et benedictus Deus! quia non me, ut putatis, traxit carnalitas; sed ideo hoc feci quia, quando frater meus migravit ad Dominum a seculo, dum orarem in loco deserto et remoto ab ipso, vidi animam eius recto tramite in celum conscendere, ita quod ista ossa sunt sancta et debent esse in paradiso Dei; et propterea facio ista que cernitis”.
6 Fratres autem, videntes intentionem eius devotam, valde edificati fuerunt et laudaverunt Deum, qui facit tam magna et mirabilia in sanctis suis.
Ad laudem et gloriam D.n. Ihesu Cristi. Amen.

Texto Traduzido

Caput LIV

O frade que viu a alma de seu irmão de sangue ser levada pelos anjos

 

1 Depois da morte de nosso bem-aventurado pai Francisco, houve dois irmãos de sangue na Ordem, Frei Húmilis e Frei Pacífico, que foram de admirável santidade e perfeição; um deles morreu em Soffiano, e o outro, que estava num eremitério distante, enquanto se dedicava à oração em lugar solitário e de­serto quando pousou sobre ele a mão do Senhor e, arrebatado em êxtase, viu a alma de seu irmão subir ao céu sem nenhuma demora.
2 E, passados muitos anos, o irmão que vivia se tornou um da família de Soffiano, onde outrora o seu irmão fora sepultado. E então, os irmãos, a pedido dos senhores de Brunforte, mudaram o referido lugar de Soffiano para outra região, de modo que transladaram para lá as relíquias dos santos frades; 3 quando chegaram à sepultura do irmão do dito frade, ele tomou dentre elas os ossos de seu irmão e lavou-os com ótimo vinho e colocou-os em uma toalha branca; e não cessava de beijá-los com muita devoção e lá­grimas.
4 E os irmãos admiravam-se disso e até estranhavam, por­que, como era um frade de grande santidade, parecia chorar com afeto sensível e de maneira mundana; e alegavam, além disso, que os ossos dos outros frades não eram menos dignos de honra do que aqueles. Ele, dando-lhes satisfação humildemente, disse: “Meus caríssimos irmãos, não vos admireis se fiz aos ossos de meu irmão o que não fiz aos outros; e bendito Deus! porque não foi a carnalidade que me levou, como julgais; mas fiz isto porque, quando meu irmão migrou deste mundo para o Senhor, enquanto eu rezava num lugar deserto e distante dele, vi a sua alma subir diretamente para o céu, de modo que esses ossos são santos e devem estar no paraíso de Deus; e por isso faço o que estais vendo”.
6 E os frades, vendo sua devota intenção, ficaram muito edificados e louvaram a Deus que opera tão grandes e admiráveis coisas em seus santos.
Para o louvor e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.