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Capítulo XL

Texto Original

Caput XL

Qualiter D. Ihesus Cristus fuit locutus fr. Masseo.

 

1 Illi sancti socii p.n. Francisci, pauperes quidem rebus, divites autem Deo, non querebant in auro divites fieri vel argento, sed sollicitissime procurabant ditari sanctis virtutibus, quibus ad veras et eternas divitias pervenitur. 2 Unde accidit quadam die quod fr. Masseus, unus de electis sociis s. patris, cum de Deo tam ipse quam socii loquerentur, unus eorum dixit quod erat quidam Dei amicus, qui magnam active vite et contemplative gratiam possidebat.
3 Et cum hiis habebat profundissimum humilitatis abissum, qua se peccatorem maximum existimabat; que humilitas illum sanctificabat et confirmabat, et crescere in dictis donis continue faciebat; et, quod melius est, nunquam eum a Deo cadere permittebat.
4 Que miranda ut fr. Masseus audivit et adverteret illum esse thesaurum vite et eterne salutis, tanto exarsit amore ad habendam dicte humilitatis virtutem, Dei amplexu dignissimam, 5 quod in fervore magno ad celum elevans faciem, voto se strinxit firmissimo nunquam velle in isto mundo letari, donec humilitatem illam preclarissimam in anima sua sentiret adesse.
Et hoc voto et s. proposito facto, stabat continue in cella reclusus, et coram Deo gemitibus inenarrabilibus (cfr. Rom 8,26) continue se mactabat; quia videbatur sibi se esse hominem penitus dignum inferno, 7 nisi ad illam humilitatem sanctissimam perveniret, qua ille amicus Dei, quem audierat, plenum virtutibus, inferiorem se omnibus reputabat, immo penitus se dignum extimabat inferno. 8 Et dum sic tristis fr. Masseus per dies plurimos permansisset, in fame et siti et multis lacrimis se mactando, accidit quod quadam die intravit in silvam; et eundo per ipsam, pro dicto desiderio vehementi emittebat luctuosos clamores et lacrimosa suspiria, postulando dictam virtutem a Deo sibi dari. 
9 Et quia Dominus sanat contritos corde (cfr. Luc 4,18)et exaudit voces humilium, facta est sibi vox de celo, bis clamans: “Fr. Massee, fr. Massee!”. Qui per Spiritum sanctum Cristum benedictum esse cognoscens, respondit: “Domine mi, Domine mi!”. Et Dominus ad eum: “Quid vis dare, quid vis dare ad hanc gratiam possidendam?” 10 Et fr. Masseus respondit: “Domine mi, oculos capitis mei”. Et Dominus ad eum: “Et ego volo quod oculos et gratiam habeas!”. Frater autem Masseus remansit in tanta gratia optate humilitatis et lumine Dei, quod continue erat in iubilo. 
11 Et sepe, quando orabat, faciebat quemdam iubilum uniformem, et voce obtusa faciebat, quasi columbus: “u.u.u.”, ac facie ylari et iocunda contemplationi vacabat; et super hoc humilissimus factus, se cunctis hominibus minimum reputabat.
12 Interrogavit ipsum fr. Iacobus de Fallerono, sancte memorie, quare versum non mutabat in iubilo. Qui respondit cum magna letitia: “Quia, cum in una re invenitur omne bonum, non oportet quod varietur versum”. Deo gratias!

Texto Traduzido

Caput XL

Como o Senhor Jesus Cristo falou com Frei Masseu.

 

1 Aqueles santos companheiros de nosso pai Francisco, pobres em coisas mas ricos em Deus, não procuravam ser ricos de ouro ou prata, mas tinham a maior solicitude por se enriquecerem de santas virtudes, pelas quais chega-se às verdadeiras e eternas riquezas. 2 Assim aconteceu que, certo dia, Frei Masseu, um dos companheiros escolhidos do santo pai, estava conversando com os outros companheiros sobre Deus, e um deles contou que havia um amigo de Deus que possuía uma a graça de uma grande vida ativa e contemplativa.
3 E tinha, com isso, um abismo profundo de humildade, pela qual achava-se o maior dos pecadores. Essa humildade santificava-o e o confirmava, fazendo crescer continuamente nos referidos dons. E, o que é melhor, não permitia jamais que ele se afastasse de Deus.
4 Quando Frei Masseu ouviu contar essas coisas maravilhosas e percebeu que se tratava do tesouro da vida e da salvação eterna, ficou tão inflamado de amor para ter essa virtude da humildade, que merece com toda dignidade o abraço de Deus, 5 que, levantando o rosto para o céu em grande fervor, obrigou-se por um voto muito firme a nunca se alegrar neste mundo até que sentisse que essa humildade preclaríssima estava presente em sua alma.
6 Feito esse voto e santo propósito, permanecia continuamente fechado na cela, e se imolava sem cessar diante de Deus com gemidos inenarráveis  (cfr. Rm 8,26). Pois lhe parecia que seria um homem plenamente digno do inferno, 7 se não chegasse a essa humildade santíssima, pela qual o amigo de Deus, de quem ouvira falar, cheio de virtudes julgava-se inferior a todos, e até absolutamente merecedor do inferno. 8 Ora, como Frei Masseu permaneceu triste desse jeito por muitos dias, imolando-se na fome, na sede e em muitas lágrimas, aconteceu que, um dia, entrou no bosque. Caminhando lá por dentro, soltava gritos queixosos e suspiros lacrimosos, pedindo que Deus lhe desse aquela virtude.
9 E, porque o Senhor cura os contritos de coração (cfr. Lc 4,18) e ouve as vozes dos humildes, ele ouviu uma voz do céu que clamou duas vezes: “Frei Masseu, Frei Masseu!”. Sabendo pelo Espírito Santo que se tratava de Cristo bendito, respondeu: “Meu Senhor, meu Senhor!”. E o senhor lhe disse: “O que estás disposto a dar, o que estás disposto a dar para possuir essa graça?”. 10 Frei Masseu respondeu: “Senhor meu, os olhos de minha cabeça”. E o Senhor disse: “Mas eu quero que tenhas a graça e os olhos!”. Então Frei Masseu ficou com tanta graça da desejada humildade e da luz de Deus, que permanecia em contínuo júbilo.
11 E muitas vezes, quando orava, soltava um murmúrio uniforme, dizendo com voz velada como uma pomba: “u, u. u” e, com o rosto alegre e satisfeito entregava-se à contemplação. Com isso, tornou-se humilíssimo, mas se julgava o menor de todos os homens.
12 Frei Tiago de Fallerone, de santa memória, perguntou-lhe porque não mudava o verso no júbilo. Ele respondeu com a maior alegria: “Porque, quando se encontra todo bem em alguma coisa, não é preciso variar o verso”. Graças a Deus.