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Capítulo XIII

Texto Original

Caput XIII

Quot annis post conversionem vixit, qua die transiit, et sub quibus Romanae Sedis Pontificibus cursum suum peregit; de modo et temporibus canonizationis et translationis illius.

 

73. 

1 Iam viginti annorum spatium erat elapsum, ex quo primum gloriosus Christi confessor et levita Franciscus consiliis evangelicae perfectionis adhaeserat et in via mandatorum divinae legis inoffen-so pede cucurrerat (cfr. Ps 118,32). 

2 Transiit autem venerabilis idem pater ex huius mundi naufragio anno Dominicae Incarnationis millesimo ducentesimo vicesimo sexto, quarto nonas Octobris, die dominico, sepultus, ut dictum est, in civitate Assisio. 

3 Coeperat autem cursum suum vir iste beatus sub illustri viro domino papa Innocentio tertio, quem feliciter sub eiusdem successore consummavit (cfr. 2Tim 4,7) Honorio. 

4 Quorum prior, sicut in omnibus viro Dei, ut supra dictum est, de Ordinis institutione consensit, sic et alter, ut in Regula tangitur, omnia eidem sancto benigne postmodum confirmavit. 

5 Quibus salubriter dominus Gregorius papa succedens, qui videlicet in minore officio constitutus novellam eiusdem religionis plantationem (cfr. Ps 143,12) ab evellentium importuno impulsu defenderat et, donec firmius radicaret nutrierat, 

6 ac veluti fidelissimus hortulanus ad multimodum cum Dei adiutorio fructum provexerat, ipsum patrem sanctissimum, non solum innumeris et probatis famosum miraculis, verum etiam cuius miraculosam conversationem sensibiliter ipse cognoverat, amplius magnificandum duxit in terris, quem glorificatum iam nemo dubitabat in caelis.

 

74. 

1 Nam anno Dominicae Incarnationis millesimo ducentesimo vigesimo octavo, habito cum cardinalibus et aliis quem plurimis ecclesiarum praelatis super ipsius sancti canonizatione tractatu, 

2 cum totius curiae Romanae frequentia et omnium praelatorum qui tunc penes curtam residebant, necnon et principum terrae et infinita populi multitudine, personaliter a civitate Perusina ad sepulcrum illius accessit, 

3 eumque glorifice cum missarum mysteriis, exhortatione sermonis, miraculorum recitatione, indumentorum gloria, luminarium rutilatione, campanarum sonitu, tubarum clangoribus, laudantium concentu et inbilo, laetantium applausu et tripudio, necnon et maximis, quae longum fores enarrare, solemniis, de communi universorum consensu catalogo Sanctorum adscripsit, 

4 eiusque festivitatem die obitus sui, id est quarto nonas Octobris, universaliter per totius mundi partes solemniter celebrandam instituit ac mandavit, sicut et ipse suis postmodum litteris declaravit. 

5 Facta est autem haec ipsa beati Francisci canonizationis praeclara solemnitas die dominico, die kalendarum augusti septimo decimo.

 

75. 

1 Anno vero Domini millesimo ducentesimo trigesimo, non modica fratrum multitudine pro ipsius sancti translatione, necnon et generali Capitulo celebrandis ad saepedictam civitatem e diversis mundi partibus adunata,

2 iam praefatus eorumdem specialissimus pater, dominus papa Gregorius, cuius certa sperabatur ad hanc translationis solemnitatem praesentia personalis, sed tunc temporis aliis quibusdam urgentibus Ecclesiae praepediebatur negotiis, solemnes illuc cum suis litteris nuntios destinavit, 

3 quibus suae non solum insperatae causam absentiae necessariam declaravit, sed et filiis, quos paterno consolabatur affectu, de quodam mortuo per beatum Franciscum resuscitato certius intimavit. 

4 Ad haec per eosdem nuntios crucem auream, opere quidem gemmario pretiosam, sed omni auro et gemmis pretiosius lignum Crucis Dominicae complectentem; insuper ornamenta et vasa quaeque ad altaris ministerium pertinentia, necnon ét decentìssima solemnibus usibus indumenta transmisit. 

5 Quae omnia pretiosissima basilicae beati Francisci, quae ab omni iurisdictione inferiore exempta sua construebatur auctoritate, cuius et ipse primarium lapidem fundamenti posuerat, assignavit; 

6 sed et alia non modica tam ad eiusdem fabricae quam ad instantis solemnitatis impensas donaria deputavit.

 

76. 

1 Translatum est igitur corpus sanctissimum ad eamdem constructam foris prope muros civitatis ecclesiam, sabbato, kalendarum iunii die octavo, cum tanto videlicet apparatu solemni, qui brevi sermone describi non posset; 

2 tantaque, quae ad ipsius translationis festa confluxerat, multitudine populi, ut, civitate illum capere non valente, gregum more turmatim circumquaque per campos accumberet. 

3 Porro, sicuti gloriosus hic sanctus multis in vita claruerat miraculorum prodigiis, sic et a die transitus sui usque in praesens ad ipsius patrocinia, non solum in loco ubi pretiosus ossium suorum thesaurus reconditur, verum etiam quacumque parte terrarum pie et fideliter implorata, innumeris miraculis coruscare se gaudet Ecclesia.

4 Nam caecis et surdis, mutis et claudis, hydropicis et paralyticis, daemoniacis et leprosis, naufragis et captivis, omnium ipsius meritis aegritudinum, necessitatum seu periculorum remedia conferuntur. 

5 Sed et multi mirifice mortui suscitantur, operante haec omnia virtutis Altissimi (cfr. Luc 1,35) magnificentia, cui soli est omnis honor et gloria per infinita saeculorum saecula. Amen (cfr. 1Tim 1,17; Rom 16,27).

Texto Traduzido

Caput XIII

Quantos anos viveu depois da conversão, em que dia morreu e sob que Pontífices da Sé romana viveu; o modo e o tempo de sua canonização e transladação.

 

73. 

1 Eram passados vinte anos desde que o glorioso confes­sor e levita de Cristo, Francisco, abraçara os conselhos da perfeição evangélica e se pusera a percorrer sem ferir os pés o ca­minho dos mandamentos da lei divina (S1 118,32). 

2 De fato, esse ve­nerável pai passou do naufrágio deste mundo no ano de 1226 da Encarnação do Senhor, no dia 4 de outubro e, como se disse, foi sepultado no domingo na cidade de Assis. 

3 Esse homem bem-aventurado iniciara sua caminhada sob o ilustre senhor papa Inocêncio III, e a terminou(2Tm 4,7)felizmente, sob seu su­cessor, o Papa Honório. 

4 O primeiro, como se disse acima, apro­vou a instituição da Ordem, como também muitas outras coisas, e o segundo, como se diz na Regra, mais tarde, confirmou bene­volamente tudo ao santo. 

5 Felizmente, a ambos sucedeu o Papa Gregório, que, quando tinha um cargo menor, defendeu a nova planta (Sl 143,12) de sua Religião contra as inoportunas tentati­vas dos que queriam arrancá-la e a nutriu até criar raízes mais fir­mes, 

6 e, como fidelíssimo jardineiro, com a ajuda de Deus ele a le­vou a dar muito fruto e levou o próprio pai santíssimo, famoso não só pelos inúmeros e comprovados milagres, mas também pela sua prodigiosa conversão, que ele conhecera pessoalmente, a ser mais glorificado na terra, pois ninguém duvidava que ele já estava glorificado no céu.

 

74. 

1 Pois, no ano de 1228 da Encarnação do Senhor, depois de ter discutido com os cardeais e muitos outros prelados da Igreja sobre a canonização do santo, 

2 na presença de toda a Cúria Ro­mana e dos prelados residentes na Cúria, como também dos prín­cipes da terra e de uma imensa multidão de povo, ele veio pesso­almente da cidade de Perusa até o seu sepulcro. 

3 E então, duran­te a solene celebração da missa, depois da homilia, lidos os mila­gres, no esplendor dos sagrados paramentos, no brilho das tochas, ao toque dos sinos, ao soar das trombetas, ao canto e júbilo dos cantores, sob aplausos e aclamações de alegria e ou­tros sinais de festa que seria demasiadamente longo narrar, com o consenso total da comunidade, inscreveu-o gloriosamente no ca­tálogo dos santos 

4 e estabeleceu que sua festa fosse celebrada solenemente em todas as partes do mundo no dia de sua morte, isto é, a 4 de outubro, como ele próprio declarou depois com sua bula. 

5 Essa preclara solenidade da canonização do bem-aventurado Francisco foi feita no domingo, dia 16 de julho de 1228.

 

75. 

1 No ano do Senhor de 1230, uma grande multidão de frades, vindos de várias partes do mundo, estavam presentes na cida­de muitas vezes mencionada, seja para a transladação do seu corpo, seja para celebrar o Capítulo geral. 

2 Para a solenidade da transladação, eles tinham como certa a presença pessoal do seu anunciado e especialíssimo pai, o senhor Papa Gregório, que se viu impedido por alguns outros problemas urgentes da Igreja e, por isso, designou solenes delegados com uma carta em que expunha

3 não só a causa urgente de sua inesperada ausência, mas também, ao consolar os filhos com paterno afeto, deu uma infor­mação mais segura a respeito de um morto ressuscitado pelo bem-aventurado Francisco. 

4 Para isso, enviou-lhes pelos mesmos legados  uma cruz de ouro, com precioso trabalho de ourives, e, o que é mais precioso do que o ouro e as pedras, contendo uma relíquia do lenho da Cruz do Se­nhor; além disso, diversos objetos e vasos para o serviço do altar e belíssimos paramentos para as funções solenes. 

5 Doou todas essas coisas preciosas à basílica do bem-aventurado Francisco que, sob sua autoridade e isenta de qualquer jurisdição inferior à sua, na época estava sendo construída e cuja primeira pedra fundamental ele próprio tinha posto. 

6 Doou também muitas outras coisas tanto para seu uso quanto para as despesas da solenidade que ia acontecer.

 

76. 

1 O corpo santíssimo foi transportado para a igreja construída lá fora, junto aos muros da cidade no sábado, dia 24 de maio, com tão grande solenidade que não se pode narrar numa descri­ção breve. 

2 Para a festa da transladação acorreu tão grande multidão de povo que, como a cidade não conseguiu acolhê-la, acomodou-se como os rebanhos, em grupos, pelos campos em toda a redondeza. 

3 Afinal, como este glorioso santo brilhara por muitos prodígios milagres durante a vida, da mesma forma, desde o dia de sua morte até o presente, a Igreja se alegra porque brilha pelos inúmeros milagres que acontecem não só no lugar onde se guarda o tesouro precioso de seus ossos, mas também em todas as partes do mundo onde a sua intercessão é invocada com devoção e confiança. 

4 Pois cegos e surdos, mudos e coxos, hidrópicos e paralíticos, ende­moninhados e leprosos, náufragos e prisioneiros, por seus méritos encontram remédio para todas as doenças, necessidades ou perigos. 

5 E até muitos mortos ressuscitam miraculosamente, por força do Altíssimo (Lc 1,35), que opera todas estas maravilhas, ao qual somente se deve toda a honra e a glória pelos infinitos séculos dos séculos. Amém (1Tm 1,17; Rm 16,27).