Selecione

Capítulo 13

Texto Original

Caput XIII

De efficacia praedicationis ipsius et de primo loco quem habuit et qualiter fratres stabant ibi et quomodo inde recesserunt.

 

54. 
1 Exinde beatus Franciscus circuiens civitates (cfr. Mat 9,35) et castra coepit ubique amplius et perfectius praedicare, non in persuasibilibus humanae sapientiae verbis sed in doctrina et virtute Spiritus (cfr. 1Cor 2,4) Sancti, annuntians fiducialiter regnum Dei. 
2 Erat enim veridicus praedicator ex auctoritate apostolica roboratus, nullis utens adulationibus verborumque respuens blandimenta quia quod verbo aliis suadebat hoc primo sibi suaserat opere ut veritatem fidentissime loqueretur. 
3 Mirabantur sermonum eius virtutem ac veritatem quam non homo docuerat etiam litterati et docti plurimique, ipsum videre et audire velut hominem alterius saeculi festinabant. 
4 Coeperunt proinde multi de populo, nobiles et ignobiles, clerici et laici, divina inspiratione afflati, beati Francisci vestigiis adhaerere, abiectisque saecularibus curis et pompis sub ipsius vivere disciplina.

 

55. 
1 Conversabatur autem adhuc felix pater cum filiis in quodam loco iuxta Assisium qui dicitur Rivus Tortus, ubi erat quoddam tugurium ab omnibus derelictum. 
2 Qui locus ita erat arctus quod ibi sedere vel quiescere vix valebant. 
3 Ibi etiam saepissime pane carentes solas rapas edebant quas hinc inde in angustia mendicabant. 
4 Scribebat vir Dei nomina fratrum super trabes illius tugurii, ut quilibet volens quiescere vel orare cognosceret locum suum, et ne in angustia loci modicitate rumor insolens mentis silentium perturbaret. 
5 Quadam autem die, existentibus fratribus in dicto loco, accidit ut quidam rusticus cum suo asino veniret illuc volens in ipso tugurio cum asino hospitari, et ne repelleretur a fratribus, ingrediens cum asino dixit ad asinum suum: “Intra, intra, quia bene faciemus huic loco”. 
6 Quod sanctus pater audiens et verbum ac intentionem rustici cognoscens motus est animo super eum, maxime quia ille tumultum magnum fecerat cum suo asino, inquietans omnes fratres qui tunc silentio et orationi vacabant. 
7 Dixit ergo vir Dei ad fratres: “Scio, fratres, quod non vocavit nos Deus ad praeparandum hospitium asino et ad habendas hominum frequentationes, sed, ut hominibus quandoque viam salutis praedicantes et salutaria consilia exhibentes, orationibus et gratiarum actionibus principaliter insistere debeamus”. 
8 Reliquerunt igitur dictum tugurium ad usum pauperum leprosorum, transferentes se ad Sanctam Mariam de Portiuncula iuxta quam in una domuncula fuerant aliquando commorati priusquam ipsam ecclesiam obtinerent.

 

56. 
1 Postmodum vero ab abbate Sancti Benedicti de monte Subasio prope Assisium beatus Franciscus, voluntate et inspiratione Dei praevia, eam humiliter acquisivit. 
2 Quam ipse sanctus notabiliter et affectuose recommendavit generali ministro et omnibus fratribus, tanquam locum prae cunctis locis et ecclesiis huius saeculi dilectum a Virgine gloriosa. 
3 Ad ipsius autem loci commendationem et affectum multum fecit quaedam visio quam quidam frater vidit adhuc existens in saeculo, quem beatus Franciscus singulari dilexit affectu quamdiu fuit cum ipso, familiaritatem praecipuam ostendendo eidem. 
4 Ille ergo cupiens servire Deo, sicut postea in religione fideliter servivit, videbat in visione omnes homines huius saeculi esse caecos et stare genibus flexis in circuitu Sanctae Mariae de Portiuncula iunctisque manibus et in caelum cum facie elevatis, voce magna et lacrimabili Dominum precabantur ut omnes illuminare misericorditer dignaretur. 
5 Quibus sic orantibus videbatur quod splendor magnus exiret de caelo et descendens super eos illuminabat omnes lumine salutari. 
6 Evigilans autem ille proposuit firmius Deo servire, et parum post saeculo nequam cum pompis suis penitus derelicto, intravit religionem ubi permansit in Dei servitio humiliter et devote.

Texto Traduzido

Caput XIII

Da eficácia da sua pregação, da primeira morada que teve, como os irmãos ali estavam e como dali saíram.

 

54. 
1 Desde então, o bem-aventurado Francisco, percorrendo cidades e aldeias, começou a pregar por toda parte com mais amplitude a perfeição, não com palavras persuasivas de sabedoria humana, mas na doutrina e poder do Espírito Santo, anunciando com confiança o reino de Deus. 
2 Pois era pregador autêntico, confirmado pela autoridade apostólica, sem usar nenhuma adulação, rejeitando as palavras lisonjeiras, porque o que ensinava aos outros em palavras já tinha primeiro ensinado a si mesmo por obra, para poder falar a verdade com toda confiança. 
3 Até muitas pessoas letradas e cultas admiravam em seus sermões o poder e a verdade que nenhum homem lhe havia ensinado e corriam para vê-lo e ouví-lo como um homem de outro mundo. 
4 Por isso, muitos do povo, nobres e plebeus, clérigos e leigos, por divina inspiração, começaram a aderir aos exemplos do bem-aventurado Francisco e, desprezando preocupações e pompas mundanas, foram viver sob sua disciplina.

 

55. 
1 Mas o feliz pai Francisco ainda vivia com seus filhos num lugar perto de Assis chamado Rivotorto, onde havia uma cabana por todos abandonada. 
2 O lugar era tão apertado que ali mal podiam sentar e repousar. 
3 E muitas vezes, não tendo pão, só comiam nabos que mendigavam aqui e acolá naquela penúria. 
4 O homem de Deus escrevia os nomes dos frades nos caibros daquela cabana para que quem quisesse descansar ou orar soubesse o seu lugar, e para que algum barulho insolente não perturbasse o silêncio da mente por causa do aperto do lugar. 
5 Mas certo dia, estando os irmãos nesse lugar, aconteceu que um vilão ali apareceu com seu asno querendo abrigar-se no tugúrio; e, para não ser repelido pelos irmãos, entrando com o animal lhe gritava: “Entra, entra, pois faremos bem a este lugar”. 
6 O santo pai, ouvindo isto e conhecendo a intenção do vilão, sentiu muito pesar, especialmente porque havia feito barulho com o jumento, perturbando todos os irmãos entregues então ao silêncio e à oração. 
7 Disse pois o homem de Deus aos irmãos: “Irmãos, sei que Deus não nos chamou para preparar hospedagem ao burro e para sermos importunados pelos homens, mas para que pregando o caminho da salvação às pessoas de vez em quando, e dando-lhes conselhos salutares, tenhamos que insistir principalmente em orações e ações de graças”. 
8 Por isso deixaram o referido tugúrio para o uso dos pobres leprosos, transferindo-se para Santa Maria da Porciúncula, junto à qual já tinham morado uma vez numa casinha, antes de obterem a igreja.

 

56. 
1 Mais tarde, o bem-aventurado Francisco, por prévia vontade e inspiração de Deus, obteve-a humildemente do abade de São Bento do monte Subásio, perto de Assis. 
2 O próprio santo recomendou-a de forma notável e afetuosa ao ministro geral e a todos os frades, como um lugar pelo qual a Virgem gloriosa tinha predileção entre todos os lugares e igrejas deste século. 
3 Para recomendação e afeição desse lugar muito contribuiu uma visão que certo irmão teve quando ainda no século, e a quem o bem-aventurado Francisco amava com singular afeto, durante todo o tempo que esteve com ele, mostrando-lhe particular familiaridade. 
4 Ele, desejando servir a Deus, como mais tarde na Ordem fielmente o fez, viu, em visão, que todos os homens deste mundo estavam cegos e ajoelhados em torno de Santa Maria da Porciúncula, e, com as mãos juntas, o rosto voltado para o céu, em voz alta e lacrimosa, pediam ao Senhor que se dignasse, por sua misericórdia, iluminar a todos. 
5 Estando assim todos em oração, parecia vir do céu um grande esplendor, que descia sobre eles e a todos iluminava com uma luz salutar. 
6 Quando acordou, ele se propôs servir mais firmemente a Deus e, pouco depois, tendo abandonado de uma vez este século perverso com suas pompas, entrou na Ordem onde permaneceu no serviço de Deus, humilde e devotamente.