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Capítulo LII

Texto Original

Caput LII

Qualiter fr. Iohannes vidit b. Franciscum cum multis sanctis fratribus, et qualiter fr. Iacobus locutus est sibi post mortem.

 

1 Tempore quo fr. Iacobus de Fallerono, sanctus homo, infirmabatur in loco Molliani, in Firmana custodia et provincia Marchie, fr. Iohannes de Alverna orabat Dominum Deum pro dicto fr. Iacobo, graviter infirmo, oratione mentali et precordiali desiderio, quia ipsum tanquam patrem intime diligebat. 2 Et dum sic attente oraret, factus in extasi, vidit in aere exercitum angelorum multorum et sanctorum cum magna claritate supra cellam suam, que erat in silva, manentium. Et erat tanta claritas quod tota contrata in circuitu refulgebat.
3 Inter quos angelos et sanctos vidit dictum infirmum pro quo ipse rogabat, stantem speciosissimum et vestibus candidis renitentem. Vidit etiam ibidem b.p.n. Franciscum, stigmatibus sacris insignitum et gloria mirabili refulgentem. 4 Vidit etiam et recognovit fr. Lucidum sanctum et fr. Matheum antiquum de Monte Rubiano, et plures alios fratres quos nunquam in hac vita recognovit, qui cum multis sanctis simili gloria refulgebant. 5 Et, dum hec cerneret, revelatum fuit sibi pro certo de salute ipsius infirmi, et quod in ipsa infirmitate transire debebat ad Deum; sed non immediate transiturus erat ad celum, quia oportebat eum aliquantulum purgari.
6 Fr. autem Iohannes, qui hoc videbat, propter salutem et gloriam dicti fratris in tantum gaudebat, quod in dulcedine spiritus ipsum fr. Iacobum frequenter vocabat, dicens intra cordis archana: “Fr. Iacobe, mi fr. Iacobe, mi fidelissime serve Cristi; fr. Iacobe, mi pater dulcissime; fr. Iacobe, socie angelorum; fr. Iacobe, consors beatorum!”. 7 Et sic certificatus de morte fr. Iacobi et letificatus de salute anime, recessit de loco Masse, ubi hanc visionem habuerat, et ivit ad visitandum eum Molliani, ubi invenit predictum infirmum ita infirmitate gravatum quod vix poterat sibi loqui. Cui fr. Iohannes annuntiavit quod moriebatur et, tanquam leo securus et gaudens, transiret ad vitam.
9 Ipse autem fr. Iacobus, iam de salute sua certus, totus exilaratus tam mente quam facie, ipsum fr. Iohannem cum letitia et pulcherrimo risu et visu iocundo suscepit, eo quod sibi tam iocunda nova portaverat, 10 et quia ipsum tanquam filium diligebat, seque sibi intime recommendans, indicavit se iam resolutum a corpore. Unde fr. Iohannes rogavit eum, ut post mortem sibi loqui dignaretur: quod fr. Iacobus promisit, si permitteret benignitas Salvatoris.
11 Et hiis dictis, appropinquante hora exitus, fr. Iacobus incepit devote dicere: “O in pace, o in idipsum, o obdormiam, o requiescam (cfr. Ps 4,9)!”. Et, hiis dictis, cum iocunda et leta facie migravit ad Dominum. 
12 Fr. autem Iohannes, reversus ad locum Masse, expectabat promissum fr. Iacobi in die quo se sibi dixerat locuturum. Et cum expectaret, apparuit sibi Cristus cum claritate magna et comitiva mirabili angelorum et sanctorum.
13 Et recordatus est fr. Iohannes de fr. Iacobo et recommendavit eum Cristo. Post hoc, die sequenti, fr. Iohanne orante in silva Masse, apparuit sibi fr. Iacobus, comitantibus angelis, totus gloriosus et letus. 14 Cui dixit fr. Iohannes: “O pater, quare non fuisti michi locutus in die qua promiseras?”. Cui ille respondit: “Quia indigebam aliquantulum purgari; 15 sed illa eadem hora qua apparuit tibi Cristus, apparui etiam fr. Iacobo de Massa, laico sancto viventi et servienti in missa, ubi vidit hostiam sacram in hora elevationis conversam in puerum vivum pulcherrimum. 16 Et tunc locutus fui dicto fratri, dicens: Hodie cum illo puero vado ad regnum, quia nullus potest ire nisi per ipsum. Et quando, tu fr. Iohannes, recommendasti me Cristo, fuisti exauditus et eadem hora qua locutus fui fr. Iacobo predicto fui liberatus”.
17 Et hiis dictis perrexit ad Dominum, et fr. Iohannes remansit valde consolatus. Iste autem fr. Iacobus de Fallerono migravit in vigilia s. Iacobi apostoli, cuius festum colitur de mense iulii, et requiescit in monte Molliani, ubi fecit multa miracula.
Ad laudem Cristi. Amen.

Texto Traduzido

Caput LII

Como Frei João viu o bem-aventurado Francisco com muitos santos irmãos; e como Frei Tiago lhe falou depois da morte.

 

1 No tempo em que Frei Tiago de Fallerone, homem santo, es­tava enfermo no lugar de Molliano na custódia de Fermo e Província das Marcas, Frei João do Alverne rezava ao Senhor Deus, em oração mental e com o mais profundo desejo do cora­ção, pelo dito Frei Tiago, gravemente enfermo, porque o amava intimamente como a um pai. 2 E enquanto assim orava atentamente, entrando em êxtase, viu no ar um exército de muitos anjos e santos com grande clari­dade sobre a sua cela, que ficava no bosque. E a claridade era tão grande que toda a região ao redor refulgia.
Entre os anjos e santos, ele viu o referido enfermo pelo qual rogava, que estava de pé, formosíssimo e brilhando com ves­tes cândidas. Viu também aí o nosso bem-aventurado pai Francis­co, marcado com os sagrados estigmas e refulgindo em admirável glória. 4 Viu também e reconheceu o santo Frei Lúcido e o velho Frei Mateus do Monte Rubbiano e muitos outros irmãos que nunca conheceu nesta vida, os quais com muitos santos refulgiam em se­melhante glória. 5 E enquanto via isto, foi-lhe revelado com certeza a respeito da salvação do próprio enfermo e que nesta en­fermidade devia passar para Deus; mas não passaria imediatamente ao céu, porque era necessário que ele fosse um pouquinho purifi­cado.
6 E Frei João, que via isto, alegrava-se tanto pela sal­vação e glória do irmão que, na doçura do espírito, cha­mava repetidamente a Frei Tiago, dizendo no segredo de seu coração: “Frei Tiago, meu Frei Tiago, meu fidelíssimo servo de Cristo; Frei Tiago, meu pai dulcíssimo; Frei Tiago, companheiro dos anjos; Frei Tiago, co-herdeiro dos bem-aventurados!” E assim, certifi­cado da morte de Frei Tiago e alegre pela salvação de sua alma, retirou-se do lugar de Massa, onde tivera esta vi­são, 8 e foi visitá-lo em Molliano, onde encontrou o doente tão sofrido pela enfermidade que mal podia falar com ele. Frei João anunciou-lhe que morreria e, como leão seguro e alegre, passaria à vida.
E o próprio Frei Tiago, já certo de sua salvação, todo alegre tanto na mente quanto no rosto, recebeu Frei João com ale­gria, com um sorriso muito bonito e com rosto feliz porque lhe trouxera tão agradável notícia 10 e porque o amava como a um filho, e recomendando-se intimamente a ele, mostrou que já estava desprendido do corpo. Por isso, Frei João pediu-lhe que depois da morte se dignasse falar com ele: o que Frei Tiago lhe prometeu, se a bondade do Salvador o permitisse.
11 Dito isso, aproximando-se a hora da partida, Frei Tiago começou a, dizer devotamente: “Oh em paz, oh nele, oh dor­mirei, oh descansarei!” (cf. Sl 4,9). E, depois de dizer isso, com rosto gracioso e alegre, migrou para o Senhor.
12 E Frei João, voltando para o lugar de Massa, esperava a promessa de Frei Tiago no dia em que ele dissera que lhe falaria. E, quando estava esperando, apareceu-lhe o Cristo com grande clarida­de e com admirável comitiva de anjos e santos.
13 E Frei João lembrou-se de Frei Tiago e recomendou-o a Cris­to. Depois disso, no dia seguinte, estando Frei João a orar no bosque de Massa, apareceu-lhe Frei Tiago, acompanhado por anjos, todo glorioso e alegre. 14 Disse-lhe Frei João: “Ó pai, por que não me fa­laste no dia em que me havias prometido?” Respondeu-lhe ele: “Porque eu precisava ser purificado um pouquinho; 15 mas, naquela mesma hora em que Cristo te apareceu, apareceu também a Frei Tia­go.de Massa, leigo santo em vida que servia na missa em que viu, na hora da elevação, a hóstia sagrada convertida em belíssi­mo menino vivo. 16 E então eu falei ao dito frade, dizendo: “Hoje, vou com este menino para o reino, porque ninguém pode ir, a não ser por meio dele. E quando tu, Frei João, me recomendaste a Cris­to, foste ouvido, e fui libertado, na mesma hora em que falei com o referido Frei Tiago”.
17 E, ditas essas coisas, foi para o Senhor, e Frei João ficou muito consolado. Esse Frei Tiago de Fallerone migrou na vigília de São Tiago Apóstolo, cuja festa se celebra no mês de julho, e repousa no Monte Molliano, onde fez muitos mi­lagres.
Para o louvor de Cristo. Amém.