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Capítulo XXVII

Texto Original

Caput XXVII

Quomodo Soldanus Babilonie fuit conversus ad fidem et baptizatus per fratres missos a b. Francisco.

 

1 Sanctissimus p.n. Franciscus, zelo fidei et fervore martirii incitatus, cum duodecim sanctissimis sociis suis ultra mare transivit, proponens recto tramite pergere ad Soldanum. 2 Cum ergo pervenisset ad quasdam paganorum partes, in quibus tam crudeles homines custodiebant itinera, quod nullus cristianus illic transiens poterat mortem evadere; Deo disponente, mortem quidem evaserunt. Tamen capti et multipliciter afflicti et ligati durissime, ducti sunt ad Soldanum; in cuius conspectu s. Franciscus, a Spiritu sancto doctus, tam divine de s. fide catholica predicavit, quod per ignem hanc se obtulit probare. 
4 Quod cernens, Soldanus magnam in ipso devotionem concepit tam pro constantia fidei quam pro contemptu mundi: qui nichil ab ipso recipere voluit, cum esset pauperrimus; quam etiam pro fervore martirii.
5 Et ex tunc eum libentissime audiebat, et rogavit quod ad ipsum frequenter accederet. 6 Et insuper s. Francisco et sociis liberaliter concessit quod, quocumque vellent, possent libere predicare. 7 Et dedit illis quoddam signaculum, quo viso a nemine ledebantur. 
8 Habita hac igitur liberali licentia, s. Franciscus illos suos electos socios binos hinc inde transmisit in diversis partibus paganorum; inter quos elegit ipse cum suo socio partem unam. Qui cum ad quoddam hospitium pervenisset, ubi erat sibi pro quiete necessarium commorari, invenit ibidem quamdam mulierem, speciosam quidem quantum ad faciem, sed mente turpissimam, que s. Franciscum de actu nequissimo requisivit. 
10 Qui ait illi: “Accepto quod dicis”.“Eamus ergo et lectum paremus”, dixit illa. 11 S. vero Franciscus ait: “Venias mecum, et ego ostendam tibi lectum pulcherrimum”. Et duxit illam ad maximum ignem, qui tunc in illa domo fiebat. 12 Et in fervore spiritus se expolians, se in lare illo ignito nudum tanquam  in lecto locavit; et vocans illam, dicebat: “Expolia te et festina frui hoc lecto splendido ac florido et mirando, quia hic oportet te esse, si vis obedire michi!” 13 Ille autem ignis nichil s. Franeiscum lesit, sed super larem illum ardenter ignitum quasi super flores facie ylari decubabat. 
14 Illa vero mulier, tam miranda cernens et stupens, non solum a stercore peccati sed etiam a tenebris infidelitatis conversa est ad D. Ihesum Cristum, et effecta est tam mirande sanctitatis et gratie quod, iuvantibus meritis s. patris, multas animas Domino in illis partibus acquisivit.
15 Videns autem s. Franciscus quod fructum ibidem facere non valebat, Domino sibi revelante, disposuit, recongregatis sociis, redire ad partes fidelium; et rediens ad Soldanum, de suo reditu propositum indicavit. 16 Soldanus vero dixit: “Fr. Francisce, ego libenter ad fidem Cristi converterer, sed timeo modo facere, quia isti me et te cum tuis sociis statim occiderent, si sentirent. 17 Cum adhuc possis multum proficere et ego quedam magna negotia pro salute anime habeam expedire, nollem libenter mortem meam et tuam ita inopinatam inducere; sed indica michi modum quo salver, et ego sum paratus in omnibus obedire”.
18 Dixit ei s. Franciscus: “Domine, ego quidem modo recedam; sed postquam ad partes meas rediero et ad celum, Domino vocante, transiero, post mortem meam secundum dispositionem divinam mittam tibi duos de fratribus meis, a quibus baptismum recipies et salvus eris, sicut michi revelavit D. Ihesus Cristus. 19 Tu autem interim ab omni negotio te dissolve, ut, cum gratia Dei venerit, inveniat te fide et devotione paratum”. Cui Soldanus gaudenter assentiens, fideliter obedivit. Sanctus autem Franciscus, valefaciens ei, rediit ad partes fidelium cum illo sanctorum sociorum venerando collegio.
20 Post aliquot vero annos predictus Soldanus infirmatus est; et expectans Sancti promissum, qui iam ad vitam beatam migraverat, posuit exploratores in portarum exitibus, ut, si quando duo fratres in s. Francisci habitu apparerent, ipsos ad eum festine traducerent. 21 In illo autem tempore apparuit b. Franciscus duobus suis fratribus, et precepit illis ut sine mora pergerent ad Soldanum et eius salutem, sicut ei promiserat, sollicite procurarent. 22 Qui perfecerunt devote mandatum; et mare transeuntes, ad dictum Soldanum per exploratores predictos adducti sunt. 
23 Quos ut vidit, Soldanus gavisus est gaudio magno valde (cfr.  Mat 2,10)dicens: “Nunc scio vere quia misit Dominus (cfr.  Act 12,11) servos suos; quia, sicut s. Franciscus promisit, Domino revelante, ita michi servavit pro salute mea sollicite transmittendo”. 24 Recipiens Soldanus a dictis fratribus fidei documenta et s. baptisma, in ipsa infirmitate regeneratus, in Domino migravit ad gaudia sempiterna, et salva facta est anima eius meritis s. patris.
Ad laudem et gloriam Domini.

Texto Traduzido

Caput XXVII

Como o sultão da Babilônia foi convertido à fé e batizado por frades que o bem-aventurado Francisco enviou.

 

1 Nosso santíssimo pai Francisco, levado pelo zelo da fé e pelo fervor do martírio, viajou para o ultramar com doze de seus companheiros, pensando em ir diretamente ao sultão. 2 Então, chegando a algumas regiões dos pagãos, onde os caminhos eram guardados por homens tão cruéis que nenhum cristão que passasse por ali conseguia escapar à morte, eles escaparam de morrer por disposição de Deus. 3 Mas foram presos, atormentados de muitas maneiras e, fortemente amarrados, levados ao sultão. Diante dele, São Francisco, levado pelo Espírito santo, pregou tão divinamente sobre a fé católica que até se ofereceu para passar pela prova do fogo.
4 Vendo isso, o sultão ficou com muita devoção por ele, tanto pela constância na fé e pelo desprezo do mundo — pois não quis receber nada dele, apesar de ser paupérrimo — como também pelo fervor do martírio.
5 A partir daí, ouvia-o com a maior boa vontade e pediu que fosse vê-lo com freqüência. 6 Além disso, concedeu a São Francisco e a seus companheiros que pudessem pregar livremente onde quisessem. E lhes deu um distintivo para que não fossem molestados por ninguém que o visse.
Por isso, quando São Francisco recebeu essa liberal licença, mandou seus companheiros escolhidos dois a dois pelas diversas regiões dos pagãos. 9 Entre elas, ele escolheu uma região com seu companheiro. Quando chegaram a uma hospedaria em que precisavam ficar para descansar, lá encontrou uma mulher bonita de rosto mas muito torpe de mente, que provocou São Francisco para um ato muito mau.
10 Ele lhe disse: “Aceito o que estás dizendo”. Ela respondeu: “Então vamos preparar a cama”. 11 Mas São Francisco disse: “Vem comigo que eu vou te mostrar uma cama mais bonita”. E levou-a para um fogo bem grande, que havia então na casa. 12 No fervor do espírito, despiu-se e se acomodou nu naquele fogo como se estivesse na cama. E chamou-a dizendo: “Despe-te e vem depressa gozar comigo este leito esplêndido, florido e admirável, porque precisas estar aqui se queres me obedecer!”. 13 O fogo não fez nenhum mal a São Francisco, que ficou deitado naquela lareira com o rosto alegre, como se estivesse sobre flores.
14 A mulher, quando viu e se espantou diante de coisas tão admiráveis, saiu não só do esterco do pecado mas também das trevas da infidelidade, convertendo-se a nosso Senhor Jesus Cristo e vindo a ser de tão admirável santidade e graça que, com a ajuda dos méritos do santo pai, conquistou muitas almas para o Senhor naquelas regiões.
15 Mas São Francisco, quando viu que não conseguia frutos naquela região, resolveu, por revelação de Deus, reunir os companheiros e voltar para as terras dos fiéis. Voltando ao sultão, falou de sua intenção de retornar. 16 O sultão disse: “Frei Francisco, eu me converteria de boa vontade à fé de Cristo, mas temo faze-lo agora porque, se estes aqui percebessem, matariam na mesma hora a mim e a ti com os teus companheiros. 17 Como ainda podes fazer muito bem e eu ainda tenho que cuidar de alguns negócios importantes para a salvação da minha alma, não gostaria de provocar antes do tempo, por querer, a minha e a tua morte. Diz-me de que modo vou poder me salvar, e eu estou pronto para obedecer em tudo”.
18 Disse-lhe Francisco: “Senhor, eu, agora, vou embora. Mas, depois que tiver voltado para o meu país e passado para o para o céu, a chamado do Senhor, depois de minha morte, por disposição divina, vou te mandar dois dos meus frades, pelos quais receberás o batismo e te salvarás, como me revelou nosso Senhor Jesus Cristo. 19 Enquanto isso, desliga-te de todos os negócios, para que, quando vier, a graça de Deus te encontre preparado na fé e na devoção. O sultão concordou com alegria e obedeceu fielmente. São Francisco, despedindo-se dele, voltou para a região dos fiéis com aquele venerando grupo de companheiros santos.
20 Depois de alguns anos, o referido sultão adoeceu. Esperando que fosse cumprida a promessa do santo, que já tinha ido para a vida bem-aventurada, colocou sentinelas nas portas de saída da cidade para que, se aparecessem dois frades com o hábito de São Francisco, levassem-nos rapidamente para ele. 21 Nesse tempo, São Francisco apareceu para dois de seus frades, mandou que fossem sem demora ao sultão e cuidassem solicitamente de sua salvação, como lhe prometera. 22 Eles cumpriram devotamente o encargo. Atravessaram o mar e foram levados ao sultão pelas sentinelas.
23 Quando os viu, o sultão teve uma enorme alegria (cfr. Mt 2,10)dizendo: Agora eu sei de verdade que o Senhor enviou (cfr. At 12,11) seus servos; porque, como São Francisco prometeu, por revelação do Senhor, assim me guardou, enviando solicitamente os frades para minha salvação”. 24 Tendo recebido dos frades as doutrinas da fé e o santo batismo, o sultão foi regenerado naquela mesma doença e migrou no Senhor para as alegrias sempiternas. Sua alma foi salva pelos méritos do santo pai.
Para o louvor e glória do Senhor.