Selecione

Capítulo XXXIV

Texto Original

Caput XXXIV

De mirabili et humili obedientia fr. Rufini.

 

1 Erat fr. Rufinus propter assidue contemplationis studium ita absorptus in Deum, quod, quasi insensibilis factus, valde rarissime loquebatur; nec insuper verbi disseminandi erat preditus gratia, nam loquendi audaciam et facundiam non habebat. 2 Sanctus autem Franciscus una die precepit fr. Rufino ut iret Assisium et predicaret populo quicquid ei Altissimus inspiraret.
3 Frater vero Rufinus respondit: “Pater reverende, parce michi et non mittas me ad hoc opus, quia, sicut bene nosti, ego gratiam verbi non habeo, et sum etiam simplex et inscius ydiota”. 4 Sanctus autem Franciscus dixit: “Quia non statim obedisti michi, ideo per obedientiam tibi precipio quod nudus, solis bracis remanentibus, vadas Assisium; et intrans ecclesiam aliquam, sic nudus populo predicabis”.
5 Qui statim, sicut vere obediens, nudus perrexit Assisium; et, facta reverentia in quadam ecclesia, ad predicandum surrexit. Pueri autem et homines ceperunt ridere et dicere: “Ecce isti faciunt tantam penitentiam quod efficiuntur amentes!”. 
6 Interim vero s. Franciscus, cogitans de prompta obedientia fr. Rufini et de mandato tam duro, cepit semetipsum durissime increpare, dicens: “Unde tibi, fili Petri Bernardonis, vilis homuncio, precipere fr. Rufino, qui est de nobilioribus de Assisio civibus, ut vadat nudus ad predicandum populo? 7 Per Deum! ego faciam quod tu in te experieris quod mandas in altero!”. Et hoc dicto in fervore Spiritus sancti, nudavit se tunica et nudus ivit Assisium, ducens secum fr. Leonem, qui suam et fr. Rufini tunicam discretissime asportaret.
8 Quem cum Assisinates nudatum cernerent, velut fatuum deridebant, putantes tam eum quam fr. Rufinum propter penitentiam insanire. Beatus autem Franciscus invenit fr. Rufinum, qui iam inceperat predicare. 9 Et devote dicebat: “O carissimi, fugite mundum, dimittite peccatum, reddite alienum, si vitare vultis infernum; ser­vate autem mandata diligendo Deum et proximum, si pergere vultis ad celum; et agite penitentiam, quoniam appropinquat regnum ce­lorum (cfr. Mat 3,2)”. 
10 Et tunc s. Franciscus nudus ascendit in pergulum et pre­dicavit tam stupenda de contemptu mundi, de penitentia sancta, de paupertate voluntaria, de desiderio celestis regni, de nuditate et opprobriis et sanctissima passione Ihesu Cristi crucifixi, 11 quod cuncti mares et mulieres, qui ibi convenerant in maxima copia, ceperunt altissime flere; et incredibili devotione et compunctione misericordiam Altissimi ad sidera clamabant, ita quod quasi omnes in novum mentis stuporem conversi sunt. 12 Et fuit in illa die in Assisio tantus planctus in populo assistente, quod nunquam in illa civitate de passione D.n. Ihesu Cristi fuit similis planctus auditus.
13 Et sic edificato populo et Cristi ovibus consolatis et vocibus altissimis benedicto nomine D.n. Ihesu Cristi, s. Franciscus fecit reindui fr. Rufinum et se simul cum ipso reinduit. 14 Et sic reinduti tunicis, glorificando et laudando Deum quod semetipsos vicerant et oves Domini hedificaverant, et quam contempnendus est mundus ostenderant, ad locum Portiuncule redierunt. 15 Et beatos se reputabant qui possent eis tangere fimbriam vestimenti (cfr. Luc 8,44).
Ad laudem D.n. Ihesu Cristi. Amen.

Texto Traduzido

Caput XXXIV

Sobre a admirável e humilde obediência de Frei Rufino.

 

Por causa do empenho na contemplação assídua, Frei Rufino vivia tão absorto em Deus que, ficando como que insensível, falava muito raramente. Também não era dotado da graça de comunicar a palavra, porque não tinha ousadia nem facilidade de falar. 2 Um dia, São Francisco mandou que Frei Rufino fosse a Assis e pregasse ao povo o que Deus lhe inspirasse.
3 Frei Rufino respondeu: “Reverendo pai, poupa-me e não me mandes fazer isso porque, como bem sabes, eu não tenho a graça da palavra, e também sou um simplório, néscio idiota”. 4 Mas São Francisco disse: “Porque não me obedeceste imediatamente, eu te mando por obediência que vás a Assis despido, ficando só com as bragas. Entrando numa igreja, vais pregar ao povo assim, nu”.
5 Como verdadeiro obediente, ele foi na mesma hora para Assis, nu. Fazendo uma reverência em uma igreja, levantou-se para pregar. Os meninos e os homens começaram a rir e a dizer: “Esses aí fazem tanta penitência que ficam doidos!”.
6 Nesse meio tempo, São Francisco refletiu na obediência pronta de Frei Rufino e no mandato tão duro, começou a repreender a si mesmo com muita dureza, dizendo: “Como te deu na cabeça, filho de Pedro de Bernardone, homenzinho vil, mandar a Frei Rufino, que é dos mais nobres cidadãos de Assis, que fosse nu pregar ao povo? 7 Por Deus! Vou fazer que experimentes em ti o que mandas em outro!”. Dizendo isso, no fervor do Espírito Santo, tirou a túnica e foi a Assis despido, levando consigo Frei Leão, para levar com muita discrição a sua túnica e a de Frei Rufino.
8 Quando os assisienses viram-no despido, riam como de um doido, julgando que tanto ele como Frei Rufino tinham enlouquecido por causa da penitência. Mas o bem-aventurado Francisco foi ao encontro de Frei Rufino, que já começara a pregar. 9 E dizia devotamente: “Caríssimos, fugi do mundo, deixai o pecado, devolvei o que é dos outros, se quiserdes evitar o inferno. Observai os mandamentos amando a Deus e ao próximo, que quiserdes ir para o céu. E fazei penitência, porque o reino dos céus está se aproximando (cfr. Mt 3,2)”. 
10 Então São Francisco subiu despido ao púlpito e pregou coisas tão estupendas sobre o desprezo do mundo, sobre a santa penitência, sobre a pobreza voluntária, sobre o desejo do reino celeste, sobre a nudez, os opróbrios e a santíssima paixão de Jesus Cristo crucificado, 11 que todos, homens e mulheres, que ali se haviam reunido em grande quantidade, começaram a chorar bem alto. Com incrível devoção e compunção clamavam pela misericórdia do Altíssimo nas alturas, de modo que quase todos se converteram em um novo espanto da mente. 12 Em Assis, houve tanto pranto no povo que assistia, que nunca se ouvira naquela cidade semelhante pranto pela paixão de nosso Senhor Jesus Cristo.
13 E assim, edificado o povo, consoladas as ovelhas e abençoado em altas vozes o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, São Francisco fez com que Frei Rufino se vestisse, e se vestiu junto dele. 14 Voltando a vestir suas túnicas, glorificando e louvando a Deus porque tinham vencido a si mesmos, tinham edificado as ovelhas do Senhor e tinham mostrado como deve o mundo ser desprezado, voltaram para o lugar da Porciúncula. 15 E os que conseguiam tocar a barra de suas roupas (cfr. Lc 8,44) julgavam-se felizes.
Para o louvor de n. Senhor Jesus Cristo. Amém.