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Sobre a pobreza das roupas

Texto Original

De paupertate vestimentorum

Caput XXXIX - Quomodo Sanctus reprehendit verbo et exemplo mollibus et delicatis indutos.

 

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1 Indutus homo iste virtute ex alto (cfr. Luc 24,49) plus intus igne calescebat divino, quam foris corporeo tegumento. 
2 Exsecrabatur vestitos triplicibus, et qui praeter necessitatem mollibus (cfr. Mat 11,8) utebantur in ordine. 
3 Necessitatem vero, quam non ratio sed voluptas ostentat, signum exstincti spiritus (cfr. 1The 5,19) asserebat. 
4 “Spiritu”, inquit, “tepido et pedetentim a gratia frigescente, necesse est carnem et sanguinem quae sua sunt quaerere (cfr. Phip 2,21). 
5 Quid enim”, ait, “restat, anima non inveniente delicias, nisi ut caro convertatur ad suas? 
6 Et tunc animalis appetitus necessitatis articulum palliat, tunc sensus carnis (cfr. Col 2,18) conscientiam format”. 
7 Subdebatque: “Adsit fratri meo vera necessitas, quaevis eum indigentia tangat: si satisfacere properat eamque a se longe repellere, quid mercedis accipiet (cfr. Gen 29,15)? 
8 Incidit quidem occasio meriti, sed displicuisse sibi studiose probavit”. 
9 His et similibus ignotos necessitatibus configebat, cum ipsas patienter non ferre, nhil aliud sit quam Aegyptum repetere. 
10 Denique nulla vult occasione plures duabus tunicas fratres habere, quas tamen consutis peciis resarcire concedit. 
11 Exquisitos pannos horrere iubet et contraria facientes acerrime coram omnibus mordet; atque ut tales suo exemplo confunderet, super tunicam propriam rudem consuit saccum (cfr. Iob 16,16); in morte etiam exsequialem tunica vili sacco petiit operiri. 
12 Fratribus autem quos urgeret infirmitas seu necessitas alia, mollem subtus ad carnem tunicam indulgebat, ita tamen quod foris in habitu asperitas et vilitas servaretur. 
13 Dicebat enim: “Tantum adhuc laxabitur rigor, dominabitur tepor, quod filii pauperis patris etiam scarulaticos portare, colore solum mutato, minime verebuntur”. 
14 Non tibi, pater, ex hoc mentimur filii alieni (cfr. Ps 17,46), sibi potius nostra mentitur iniquitas (cfr. Ps 26,12). 
15 Ecce enim luce clarius innotescit et crescit dies.

Texto Traduzido

De paupertate vestimentorum

Capítulo 39 - Como o santo repreendeu, por palavras e por exemplo, aos que se vestiam com roupas finas e delicadas.

 

69 
1 Revestido da virtude do alto, este homem se aquecia mais com o fogo divino que tinha por dentro do que com a roupa que lhe recobria o corpo. 
2 Não suportava os que, na Ordem, vestiam-se com roupas finas ou triplicadas. Afirmava que a necessidade que não se firma em razões válidas mas na veleidade é sinal de perda do espírito: 
4 “Quando o espírito está frio e se vai esfriando na graça, a carne e o sangue precisam procurar o que é seu”. 
5 Também dizia: “Que resta para a alma que só encontra prazer nas delícias da carne? 
6 É então que a vontade animal se disfarça em necessidade, e o sentido da carne forma a consciência”. 
7 Acrescentava: “Se um de meus frades tiver uma necessidade verdadeira, próxima da indigência, e se apressar em satisfazê-la, em afastá-la de si, que prêmio receberá? 
8 Teve uma oportunidade de merecimento, mas procurou demonstrar que não a apreciou”. 
9 Submetia os principiantes a essas necessidades e a outras semelhantes, porque não suportá-las com paciência é o mesmo que retornar ao Egito. 
10 Afinal, não queria que em nenhuma oportunidade os frades tivessem mais que duas túnicas, embora permitisse que as reforçassem com remendos. 
11 Ensinava a detestarem os panos luxuosos, e aos que faziam o contrário repreendia fortemente diante de todos. Para escarmentar tais frades com seu exemplo, costurou um saco rude sobre sua túnica. Mesmo na hora da morte pediu para cobrirem a túnica que seria sua mortalha com outro pano mais pobre. 
12 Mas aos frades que eram forçados pela doença ou por outra necessidade permitia que usassem outra túnica mais fina junto ao corpo, mas de forma que exteriormente se observasse a aspereza e pobreza. 
13 Pois dizia: “Ainda vai haver tamanho relaxamento no rigor, e um domínio tão grande da tibieza, que filhos do pobre pai não vão se envergonhar de usar até púrpura, cuidando apenas de mudar a cor”. 
14 Com isso, pai, não é a ti que enganamos como filhos falsos; nossa maldade engana a si mesma. 
15 E isso está aumentando e se fazendo cada dia mais evidente.