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Capítulo XXX

Texto Original

Caput XXX

Qualiter s. Franciscus convertit duos nobiles de Marchia dum predicaret Bononie, scilicet fr. Peregrinum et fr. Richerium.

 

1 Quodam tempore, dum iret s. Franciscus per mundum et ad civitatem Bononie pervenisset, cum adventum eius populus cognovisset, factus est concursus omnium ad s. Franciseum, ita quod vix poterat ire per terram. 2 Omnes ipsum tanquam novum florem mundi et angelum Domini cupiebant videre, ita quod ad plateam civitatis cum pena maxima potuit pervenire.
3 Congregato ibi populo maximo hominum et mulierum et multorum scolarium, surgens s. Franciscus in medio, tam miranda et stupenda, dictante Spiritu sancto, predicavit, quod non homo sed angelus videbatur. Nam videbantur illa verba eius celestia quasi sagitte acute potentis (cfr. Ps 119,4) de arcu sapientie divine procedere, que corda omnium tam valide penetrabant, quod maximam multitudinem hominum et mulierum a statu peccati ad penitentie lamenta convertit.
5 Inter quos erant ibi studentes de nobilioribus de Marchia Anconitana, scilicet Peregrinus, qui erat de domo Falleronis, et Ricerius de Muccia. 6 Isti, inter alios per s. verba s. patris tacti intrinsecus, venerunt ad b. Franciscum, dicentes se penitus velle mundum relinquere et fratrum ipsius habitum sumere. 7 Sanctus autem Franciscus, ipsorum fervorem considerans, cognovit per Spiritum sanctum ipsos missos a Deo; et insuper intellexit cui et quali conversationi quilibet eorum se subderet. 8 Unde cum gaudio recipiens eos, dixit: “Tu, Peregrine, teneas viam humilitatis; et tu, Reccerie, servias fratribus”. Et ita factum est.
9 Nam fr. Peregrinus nunquam voluit ire ut clericus, sed sicut laicus mansit, cum esset bonus litteratus et in decretalibus eruditus. 10 Propter quam humilitatem pervenit ad maximam perfectionem virtutum, et specialiter ad gratiam compunctionis et amoris D.n. Ihesu Cristi. 11 Nam Cristi amore succensus et desiderio martirii inflammatus, perrexit Yerosolimam ad visitandum loca sacratissima Salvatoris, portans secum volumen evangelicum.
12 Et cum legeret loca sacra unde Deus et homo perrexerat, et eadem pedibus tangeret et oculis cerneret, se ibidem ad orandum Dominum inclinabat et amplexabatur brachiis fidei illa loca sanctissima et labiis obsculabatur amoris, et lacrimis devotissimis cuncta rigabat, ita quod cunctos cernentes ad devotionem maximam provocabat. 13 Ordinante vero dispensatione divina, reversus est in Italiam et, tanquam vere peregrinus mundi et civis regni celestis, suos nobiles consanguineos rarissime visitabat. 
14 Confortabat eos ad mundi contemptum et, sobrie loquens, ad divinum eos incitabat amorem; et expedite ac festinanter recedebat ab eis, dicens quod Cristus Ihesus, qui nobilitat animam, non invenitur inter cognatos et notos (cfr. Luc 2,44).
15 De hoc fr. Peregrino habuit dicere fr. Bernardus, sanctissimi p.n. Francisci primogenitus, unum verbum valde mirabile, scilicet quod ipse fr. Peregrinus erat unus de perfectioribus fratribus huius mundi. 16 Fuit siquidem vere peregrinus; nam amor Cristi, qui in corde suo semper ardebat, non permittebat eum in aliqua re creata quiescere, nec affectum eius figere in aliquo temporali, sed semper ad patriam tendere et ad patriam aspirare, et de virtute in virtutem ascendere, donec in amatum transformaret amantem. 
17 Tandem plenus virtutibus ad Cristum, quem toto corde dilexit, cum multis miraculis ante mortem et post mortem in pace quievit.
Ad laudem D.n. Ihesu Cristi. Amen.

Texto Traduzido

Caput XXX

Como São Francisco, pregando em Bolonha, converteu dois frades da Marca, Frei Peregrino e Frei Ricério.

 

1 Certa ocasião, São Francisco ia pelo mundo e chegou à cidade de Bolonha. Quando o povo ficou sabendo da sua chegada, houve um ajuntamento de todos em torno a São Francisco, de modo que mal podia andar. 2 Todos queriam vê-lo, como a flor do mundo e um anjo do Senhor, de forma que teve a maior dificuldade para chegar à praça da cidade.
3 Quando lá se congregou a maior multidão de homens, mulheres e muitos escolares, São Francisco levantou-se no meio deles e pregou coisas tão admiráveis e estupendas, ditadas pelo Espírito Santo, que não parecia um homem mas um anjo. 4 Aquelas suas palavras pareciam celestes como as setas agudas do poderoso (cfr. Sl 119,4) que procediam do arco da sabedoria divina e penetravam tão fortemente nos corações de todos, que converteu a enorme multidão de homens e mulheres do estado de pecado para os lamentos da penitência.
Entre eles havia estudantes dos mais nobres da Marca de Ancona, isto é, Peregrino, que era da casa de Falerone, e Ricério de Múcia. 6 Estes, tocados entre outros internamente pelas santas palavras do santo pai, foram falar com o bem-aventurado Francisco, dizendo que queriam de todo jeito abandonar o mundo e tomar o hábito de seus frades. 7 São Francisco, considerando o fervor deles, soube pelo Espírito Santo que tinham sido mandados por Deus. Além disso, compreendeu a que tipo de comportamento cada um se submeteria. 8 Por isso recebeu-os com alegria e disse: “Tu, Peregrino, fica no caminho da humildade; e tu, Ricério, serve os frades”. E assim foi feito.
9 Frei Peregrino nunca quis ser clérigo. Permaneceu leigo apesar de ser um bom literato, erudito em direito. 10 Por causa dessa humildade, chegou à maior perfeição das virtudes, especialmente à graça da compunção e do amor de nosso Senhor Jesus Cristo. 11 Abrasado pelo amor de Cristo e inflamado pelo desejo do martírio, foi a Jerusalém visitar os lugares sagrados do Salvador, levando consigo o volume do Evangelho.
12 Conhecendo os lugares sagrados em que o Deus e homem caminhara, tocando-os com os pés e vendo-os com os olhos, inclinava-se lá para orar ao Senhor e abraçava com os braços da fé aqueles lugares santíssimos, beijava-os com lábios de amor e regava tudo com lágrimas devotíssimas, de modo que provocava todos os que o viam para a maior devoção. 13 mas, por ordem da dispensação divina, voltou para a Itália e, como um verdadeiro peregrino do mundo e cidadão do reino celeste, muito raramente visitava seus consanguíneos.
14 Animava-os a desprezar o mundo e, falando sobriamente, incitava-os ao amor divino. Depois se afastava deles expedita e rapidamente, dizendo que Cristo Jesus, que enobrece a alma, não se encontra entre os parentes e conhecidos (cfr. Lc 2,44).
15 Sobre esse Frei Peregrino, Frei Bernardo, primogênito de nosso santíssimo pai Francisco, disse uma palavra muito admirável, isto é, que Frei Peregrino era um dos frades mais perfeitos deste mundo. 16 Pois foi um peregrino de verdade, porque o amor de Cristo, que ardia sempre no seu coração, não permitia que ele repousasse em alguma coisa criada, nem que pusesse seu afeto em algo temporal, mas fazia-o tender sempre para a pátria e aspirar pela pátria, progredindo de virtude em virtude até transformar o amante em amado. 
17 No fim, cheio de virtudes para Cristo, a quem amou de todo o coração, descansou em paz com muitos milagres antes e depois da morte.
Para o louvor de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.