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Capítulo 115

Texto Original

Caput 115

De amore et obedientia ignis ad ipsum quando fecit sibi fieri cocturam.

 

1 Cum venisset ad eremitorium Fontis Columbarum, prope Reate, pro cura infirmitatis oculorum, ad quam faciendam erat coactus per obedientiam a domino Ostiensi et a fratre Helia generali ministro, quadam die venit medicus ad ipsum.
2 Qui, considerans infirmitatem, dixit beato Francisco quod volebat facere cocturam super maxillam usque ad supercilium illius oculi qui erat infirmior altero. 3 Sed beatus Franciscus nolebat incipere curam nisi veniret frater Helias, quia dixerat se velle interesse quando medicus inciperet curam illam. 4 Et quia timebat atque valde grave sibi erat habere tantam sollicitudinem de seipso, ideo volebat quod generalis minister illud faceret fieri totum.
5 Cum ergo exspectaret ipsum et non veniret propter multa impedimenta quae habuit, tandem permisit medicum agere quod volebat. 6 Et posito ferro in igne pro coctura facienda, beatus Franciscus volens confortare spiritum suum ne expavesceret, sic locutus est ad ignem: 7 “Frater mi, ignis, nobilis et utilis inter alias creaturas, esto mihi curialis in hac hora, quia olim te dilexi et diligam amore illius qui creavit te. 8 Deprecor etiam Creatorem nostrum qui nos creavit ut ita tuum calorem temperet quod ipsum valeam sustinere”. Et oratione finita signavit ignem signo crucis. Nos vero qui cum ipso eramus cfr. (2Pet 1,18), tunc fugimus omnes (cfr. Mar 14,15), ex pietate et compassione ad ipsum, et solus medicus cum eo remansit. 10 Facta autem coctura reversi sumus ad ipsum, qui dixit nobis: “Pusillanimes et modicae fidei (cfr. Mat 8,26), quare fugistis? In veritate dico vobis quod nec dolorem aliquem nec ignis calorem sensi. Immo, si non est bene coctum, adhuc coquat melius”.
11 Et inde miratus est valde medicus, dicens: “Fratres mei, dico vobis quod non solum de ipso, qui est ita debilis et infirmus, sed de quolibet fortissimo viro timerem ne tam magnam cocturam posset pati; ipse vero nec se movit, nec minimum signum doloris ostendit”.
12 Oportuit enim quod omnes venae ab auricula usque ad supercilium inciderentur, et tamen nihil profuit ei. Similiter et alius medicus cum ferro ignito ambas ejus auriculas perforavit et nihil ei profuit.
13 Nec mirum, si ignis et aliae creaturae aliquando obediebant ei et venerabantur ipsum; nam sicut nos qui cum illo fuimus (cfr. 2Pet 1,18) saepissime vidimus,14 ipse tantum afficiebatur ad eas et in eis tantum delectabatur, et circa ipsas tanta pietate et compassione movebatur spiritus ejus quod nolebat videre eas inhoneste tractari; 15 et ita cum eis loquebatur laetitia interiori et exteriori, sicut si essent rationales, unde illa occasione saepe rapiebatur in Deum.

Texto Traduzido

Caput 115

O amor e a obediência do fogo, quando ele foi cau­terizado.

 

1 Quando ele veio ao eremitério de Fonte Colombo, perto de Rieti, para o tratamento da doença dos olhos, obrigado sob obediência pelo senhor de Óstia e pelo ministro geral Frei Elias, um dia o médico veio até ele.
2 Considerando a doença, disse ao bem-aventurado Francisco que que­ria fazer uma cauterização sobre o maxilar até o supercílio do olho que estava mais afetado. 3 Mas o bem-aventurado Francisco não queria ini­ciar o tratamento, se não chegasse Frei Elias, porque ele havia dito que queria estar presente quando o médico começasse a operação. 4 Também porque temia e lhe era muito pesado ter tanto cuidado consigo mesmo, queria que fosse o ministro geral que mandasse fazer tudo aquilo.
5 Como o esperava mas ele não veio porque teve muitos impedimentos, afinal permitiu ao médico que fizesse o que queria; 6 Depois que o ferro foi posto ao fogo para fazer a cau­terização, querendo animar seu espírito para que não se apavoras­se, o bem-aventurado Francisco assim falou ao fogo: 7 “Meu irmão fogo, nobre e útil entre as outras criaturas, sê gentil comigo nesta hora, porque outrora te amei e te amarei por amor daquele que te criou. 8 Suplico também ao Criador que nos criou que tempere o teu calor para eu poder suportá-lo”. Terminada a oração, traçou o sinal da cruz sobre o fogo: 9 Mas nós que estávamos com ele (cf. 2Pd 1,18), fugimos to­dos (cf.Mc 14;50) por piedade e compaixão e só o médico ficou com ele. 10 Porém, terminada a cauterização, voltamos até ele, que nos disse: “Medrosos e de pouca fé (cf. Mt 8,26), por que fugistes? Na verdade vos digo que não senti dor alguma nem o calor do fogo. E até, se não estiver bem cauterizado, que se cau­terize ainda melhor”.
11 O médico ficou muito admirado e disse: “Meus irmãos, digo-vos que eu teria receio de que não só ele, que está tão fraco e doente, mas qualquer homem muito forte não pudesse suportar tão grande cauterização; mas ele não se moveu nem mostrou o menor sinal de dor”.
12 Foi necessário cauterizar todas as veias desde a orelha até o supercílio, mas de nada lhe valeu. Igualmente, outro médico per­furou-lhe ambas as orelhas com ferro em brasa e nada lhe valeu.
13 Não é de admirar que, de vez em quando, o fogo e outras criaturas lhe obedeciam e o respeitavam. Pois nós que com ele vivemos (cf. 2Pd 1,18) vimos muitíssimas vezes que 14 ele tan­to se afeiçoava a elas, tanto se alegrava e seu espírito sentia tanta piedade e compaixão por elas, que não queria vê-Ias tratadas sem respeito. 15 Falava-lhes com tanta alegria interior e exterior, como se fossem seres racionais, e nessa ocasião, muitas vezes, era arre­batado até Deus.