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Prólogo

Texto Original

Prologus

In Nomine Domini.Introitus in vitam sancti Francisci.

 

1 Ad hoc quorumdam, quos speciali meritorum praerogativa Dominus privilegiare disposuit, priora quaedam in divinis eloquiis commemorantur infirma sanctorum, quatenus inscrutabilem divini consilii profunditatem mirantes pariter et laudantes, quo lapsi quidam excellentioribus super plerosque iustorum meritis sublimantur,

2 nec innocentes quasi de sua confisi iustitia (cfr. Ez 33,13) in imo vitiorum prostratos despiciant, nec tamen de suis impii flagitiis desperantes pro venia postulanda propinquare ad fontem misericordiae Dominum pertimescant.

3 Sic nimirum pia iustorum humilitas Domini iudicis iustitiam metuit, ne ruinosus eos praesumptionis tumor extollat;

4 sic tam firma quam discreta lapsorum spes de pii patris benignitate praesumit, ne horrenda ipsos vorago desperationis absorbeat;

5 sic quoque stupenda in omnibus et laudanda magnificentiae Domini gloria (cfr. Ps 144,12) praedicatur, quae et gratuito diligens sustentat justos ne corruant, et benigne commiserans erigit elisos (cfr. Ps 144,14) ne pereant.

6 Hinc Christum negasse primum eiusdem vicarium; hinc et ipsum vas electionis Christi legimus Ecclesiam persecutum (cfr. Act 9,15; Gal 1,13);

7 ob hoc etiam publicanus ille, qui et apostolus et evangelista vocatur; sed et illa specialis Christi discipula septem daemoniis obsessa narratur.

8 Hinc gloriosi confessoris et levitae Christi Francisci breviter utcumque gesta scripturi, priora quaedam ipsius infirma praemittimus,

9 ut conversationis eius ultimis, quae plene vel digne explicare non possumus, ad prima collatis, conversionis illius auctor magnifice ab omnibus collaudetur,

10 pia innocentibus humilitas augeatur, firmiorque prolapsis de venia spes donetur Explicit prologus.

Texto Traduzido

Prologus

Em nome do Senhor. Introdução à vida de São Francisco.

 

1 Nas palavras divinas recordam-se algumas fraquezas anteriores de alguns santos que o Senhor decidiu privilegiar com a prerrogativa especial dos méritos para que, admirando e louvando a inescrutável profundidade do plano divino, pelo qual alguns caídos são sublimados por seus méritos acima de muitos justos,

2 e para que não desprezem os inocentes como se, confiados em sua justiça (cf. Ez 33,13) estivessem prostrados na profundidade dos vícios, e para que algum dos ímpios, desesperados por suas faltas, não fique com medo de se aproximar do Senhor, fonte da misericórdia para pedir o perdão.

3 De fato, assim como a piedosa humildade dos justos temeu a justiça do Senhor Juiz, para que neles não se exalte o ruinoso tumor da presunção,

4 também a tão firme quanto prudente esperança dos pecadores se abandona à benignidade do Pai mise­ricordioso, para que não os devore o horroroso abismo do desespero.

5 E da mesma forma, apregoa-se em todas as coisas a estupenda e digna de louvor magnificência e glória do Senhor (Sl 144, 12) que, amando de graça, ampara os jus­tos para que não caiam e, compadecendo-se bondosamente, ergue os fracos para que não pereçam (Sl 144,14).

6 Por isso lemos que o primeiro vigário de Cristo o negou, que o próprio vaso de eleição perseguiu a Igreja de Cristo (At 9,15; Gl 1,13);

7 e também que o publica­no foi chamado apóstolo e evangelista; e se conta que a discípula predileta de Cristo foi possuída por sete demônios.

8 É por isso que, estando para escrever brevemente os feitos de Francisco, o glorioso confessor e levita de Cristo, colocamos antes algumas de suas primeiras fraquezas,

9 para que, comparando alguns de seus últimos comportamentos - que não podemos descrever plena ou dignamente - com os primeiros, seja em tudo magnificamente louvado o autor de sua conversão,

10 cresça a piedosa humildade dos inocentes e se dê mais firme esperança de perdão aos que caíram. Fim do prólogo.