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48. Cauterização indolor

Texto Original

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1 Et factum est, cum quadam die veniret medicus apportans ferrum cum quo faciebat cocturas pro infirmitate oculorum, et fecisset fieri ignem ad calefaciendum ferrum, et accenso igne misit ferrum in ipsum. 
2 Beatus Franciscus ad confortandum spiritum suum, ut non expavesceret, dixit ad ignem: “Frater mi ignis, nobilis et utilis inter alias creaturas quas Altissimus creavit, esto michi in hac hora curialis, quia olim te dilexi et adhuc diligam amore illius Domini qui te creavit; 
3 deprecor etiam Creatorem nostrum qui te creavit, ut ita tuum calorem temperet quod ipsum valeam sustinere”. 
4 Et, oratione finita, crucis signo signavit ignem. 
5 Nos vero qui cum ipso eramus (cfr. 2Pet 1,18), omnes fugimus ex pietate et [com]passione illius, et solus medicus cum ipso remansit. 
6 Et, facta coctura, reversi sumus ad illum. 
7 Qui dixit nobis: “Pusillanimes et modice fidei (cfr. Mat 8,26), quare fugistis? 
8 In veritate dico vobis quod nullum dolorem sensi nec ignis calorem; immo, si non est bene coctum, adhuc coquat melius”. 
9 Et miratus est inde valde ille medicus, habens illud pro magno miraculo, quoniam penitus se non movit. 
10 Et ait medicus: “Fratres mei, dico vobis quod non solum de ipso qui est debilis et infirmus, sed de illo qui esset fortis et corpore sanus timerem, ne tam magnam cocturam posset sustinere, quod etiam in quibusdam sum iam expertus”. 
11 Nam coctura fuit longa, incipiens iuxta auriculam usque ad supercilium oculi, propter flegma multum quod die et nocte ad oculos per multos annos cotidie descendebat; 
12 unde oportuit quod secundum consilium illius medici omnes vene ab auricula usque ad supercilium oculi inciderentur, licet totum sibi esset contrarium secundum consilium aliorum medicorum; quoniam et verum fuit, quia nichil ei profuit. 
13 Similiter et alius quidam medicus ambas eius auriculas perforavit, et tamen nichil ei profuit.

Texto Traduzido

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1 E aconteceu que, um dia, veio o médico, trazendo o ferro com fazia cauterizações para a doença dos olhos; mandou fazer fogo para esquentar o ferro e, quando o fogo foi aceso, colocou nele o ferro. 
2 O bem-aventurado Francisco, para dar força ao seu espírito e não se assustar, disse ao fogo: “Meu irmão fogo, nobre e útil entre as outras criaturas que o Altíssimo criou, sê cortês comigo nesta hora, porque outrora eu te amei e ainda amarei por amor daquele Senhor que te criou. 
3 Também suplico ao nosso Criador, que te criou, que tempere teu calor de tal forma que eu possa suporta-lo”. 
4 Quando acabou a oração, fez o sinal da crua sobre o fogo. 
5 Mas nós que estávamos com ele fugimos todos, por piedade e compaixão com ele, deixando o médico sozinho com ele. 
6 Feita a cauterização, voltamos para junto dele. 
7 Ele nos disse: “Medrosos e de pouca fé, por que fugistes? 
8 Na verdade eu vos digo que não senti nenhuma dor nem o calor do fogo; até, se não está bem cozido, pode cozinhar melhor!”. 
9 O médico ficou muito admirado com isso, tendo-o por um grande milagre, porque ele não se mexeu nem um pouco. 
10 E o médico disse: “Meus irmãos, eu vos digo que, com a experiência que tenho de algumas pessoas, temo que não poderia suportar uma cauterização tão grande não só uma pessoa fraca e doente, mas mesmo alguém que fosse forte e corporalmente sadio”. 
11 Pois a cauterização foi longa, começando perto da orelha e chegando até o supercílio do olho, por causa do líquido que escorria do olho todos os dias, dia e noite, por muitos anos. 
12 Por isso foi necessário, de acordo com o pensamento daquele médico, que todas as veias da orelha até o supercílio do olho, fossem cortadas, o que era totalmente contrário de acordo com a opinião dos outros médicos; e essa era a verdade, porque de nada lhe adiantou. 
13 Do mesmo jeito, um outro médico furou-lhe as duas orelhas, e também não lhe adiantou nada.