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Capítulo 89

Texto Original

Caput LXXXIX

De cithara angelica quam audivit.

 

126 
1 Diebus quibus pro cura oculorum apud Reate manebat, vocavit unum de sociis, qui fuerat in saeculo citharista, dicens: “Frater, filii saeculi huius (cfr. Luc 16,8) divina non intelligunt sacramenta (cfr. Sap 2,22). 
2 Instrumenta quippe musica, divinis quondam laudibus deputata, in aurium voluptatem libido humana convertit. 
3 Vellem ergo, frater, ut secreto citharam mutuatus afferres, qua versum honestum faciens fratri corpori doloribus pleno solatium dares”. 
4 Cui respondit frater: “Verecundor non modicum, pater, timens ne levitate hac suspicentur homines me esse tentatum”. 
5 Cui sanctus: “Dimittamus ergo, frater! bonum est multa dimittere, ne laedatur opinio”. 
6 Nocte sequenti, vigilante sancto viro et meditante de Deo, repente insonat cithara quaedam harmoniae mirabilis et suavissimae melodiae (cfr. Sir 40,21). 
7 Non videbatur aliquis, sed transitus et reditus citharoedi ipsa hinc inde auditus volubilitas (cfr. Ez 10,13) innuebat. 
8 Spiritu denique in Deum directo (cfr. Iob 34,14), tanta in illo dulcisono carmine sanctus pater suavitate perfruitur, ut aliud se putet saeculum commutasse. 
9 Mane surgens (cfr. Gen 28,18) sanctus vocat fratrem praedictum, et narrans ei cuncta per ordinem (cfr. Est 15,9) subdit: “Dominus qui consolatur afflictos, numquam me sine consolatione (cfr. 2Cor 1,4) dimisit. 
10 Ecce enim, qui citharas hominum audire non potui, citharam suaviorem audivi”.

Texto Traduzido

Caput LXXXIX

Sobre a cítara angélica que ouviu.

 

126 
1 Nos dias em que esteve em Rieti tratando dos olhos, chamou um dos companheiros, que tinha sido citaredo no século, e lhe disse: “Irmão, os filhos deste século não entendem os desígnios divinos. 
2 A libido humana passou a usar os instrumentos de música, destinados antigamente aos louvores divinos, só para agradar os ouvidos. 
3 Por isso eu gostaria, meu irmão, que fosses pedir em segredo uma cítara emprestada para tocar alguma canção bonita e dar algum alívio ao irmão corpo cheio de dores”. 
4 O frade respondeu: “Pai, tenho muita vergonha, porque podem pensar que cedi a uma tentação de leviandade”. 
5 O santo disse: “Então vamos esquecer isso, irmão. Há muitas coisas que é melhor deixar de fazer para não ferir a boa fama”. 
6 Na noite seguinte, estando o santo acordado e a meditar em Deus, soou de repente uma cítara de admirável harmonia e suavíssima melodia. 
7 Não se via ninguém, mas dava para perceber pela facilidade do ouvido que o citaredo estava andando para lá e para cá. 
8 Afinal, com o espírito dirigido para Deus, o santo pai sentiu um prazer tão suave com aquela doce música, que parecia ter sido transferido para outro mundo. 
9 Quando se levantou de manhã, o santo chamou o frade de quem falamos acima, contou-lhe tudo em ordem e disse: “O Senhor, que consola os aflitos, nunca me deixou sem consolação. 
10 Eu não podia escutar as cítaras dos homens e acabei ouvindo uma outra mais suave”.