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Sobre a contemplação do Criador nas criaturas

Texto Original

De contemplatione Creatoris in creaturis

Caput CXXIV - Sancti amor ad sensibiles et insensibiles creaturas.

 

165 
1 Mundum quasi peregrinationis exsilium exire festinans, iuvabatur felix iste viator iis quae in mundo sunt (cfr. Ioa 17,11.16) non modicum quidem. 
2 Nempe ad principes tenebrarum (cfr. Eph 6,12) utebatur eo ut campo certaminis, ad Deum vero ut clarissimo speculo bonitatis (cfr.Sap 7,26). 
3 In artificio quolibet commendant Artificem, quidquid in factis reperit, regerit in Factorem. 
4 Exsultat in cunctis operibus manuum Domini (cfr. Ps 91,5; 8,7), et per iucunditatis spectacula vivificam intuetur rationem et causam. 
5 Cognoscit in pulchris Pulcherrimum; cuncta sibi bona (cfr. Gen 1,31): “Qui nos fecit (cfr. Ps 99,3) est optimus”, clamant. 
6 Per impressa rebus vestigia insequitur ubique dilectum (cfr. Iob 23,11; Cant 5,17), facit sibi de omnibus scalam, qua perveniatur ad solium (cfr. Iob 23,3). 
7 Inauditae devotionis affectu complectitur omnia, alloquens ea de Domino, et in laudem eius adhortans. 
8 Parcit lucernis, lampadibus et candelis, nolens sua manu deturbare fulgorem, qui nutus esset lucis aeternae (cfr. Sap 7,26). 
9 Super petras ambulat reverenter, eius intuitu qui dicitur Petra. 
10 Cum opus esset illo versiculo: “In petra exaltasti me (Ps 60,3)”, ut reverentius aliquid diceret: “subtus pedes (cfr. Ps 17,39) Petrae”, inquit, exaltasti me (cfr. Ps 60,3)”. 
11 Ligna caedentes fratres prohibet totam succidere arborem, ut spem habeat iterum pullulandi. 
12 Iubet hortulanum indefossos limites circa hortum dimittere, ut suis temporibus herbarum viror et florum venustas praedicent speciosum rerum omnium Patrem (cfr. Eph 4,6). 
13 Hortulum in horto herbis odoriferis et florificis praecipit designari, ut in memoriam suavitatis aeternae avocent speculantes. 
14 Legit de via vermiculos, ne pedibus conculcentur, et apibus, ne inedia pereant in glacie hiemali, mel et optima vina iubet apponi. 
15 Fraterno vocat nomine animalia cuncta, licet in omni specie bestiarum praediligat mansueta. 
16 Quis enarrare cuncta sufficiat (cfr. Sir 18,2)? Siquidem fontalis illa bonitas, quae omnia in omnibus (cfr. 1Cor 12,6) est futura, iam sancto huic omnia in omnibus (cfr. 1Cor 12,6) clarescebat.

Texto Traduzido

De contemplatione Creatoris in creaturis

Capítulo 124 - Amor do santo para com as criaturas sensíveis e insensíveis.

 

165 
1 Embora desejasse sair logo deste mundo como se fosse um desterro onde devia peregrinar, este feliz viajante sabia aproveitar o que há no mundo, e bastante. 
2 Usava o mundo como um campo de batalha com os príncipes das trevas, mas também, para Deus, como um espelho claríssimo da bondade. 
3 Em qualquer artifício louvava o Artífice, e tudo que encontrava nos fatos, repassava ao Autor. 
4 Exultava em todas as obras das mãos do Senhor (cfr. Sl 91,5; 8,7) e, através dos espetáculos que lhe davam prazer, sabia encontrar aquele que é razão e causa de toda vida. 
5 Nas coisas belas reconhecia aquele que é o mais belo, e ouvia todas as coisas boas clamarem: “Quem nos fez é ótimo”. 
6 Seguia por toda parte o amado pelos vestígios que deixou nas coisas e fazia de tudo uma escada para chegar ao seu trono. 
7 Abraçava todas as criaturas com afeto e devoção jamais vistos, e falava com elas sobre o Senhor, convidando-as a louvá-lo. 
8 Poupava os candeeiros, lâmpadas e velas, porque não queria apagar com sua mão o fulgor que era um sinal da luz eterna. 
9 Andava com respeito por cima das pedras, pensando naquele que foi chamado de Pedra. 
10 Quando usavam o versículo: “Vós me exaltastes sobre a pedra”, para dizer alguma coisa mais reverente, exclamava: “Sob os pés da Pedra Vós me exaltastes”. 
11 Aos frades que cortavam lenha proibia arrancar a árvore inteira, para que tivesse esperança de brotar outra vez. 
12 Mandou que o hortelão deixasse sem cavar o terreno ao redor da horta, para que a seu tempo o verde das ervas e a beleza das flores pudessem apregoar o formoso Pai de todas as coisas. 
13 Mandou reservar um canteiro na horta para as ervas aromáticas e para as flores, para lembrarem a suavidade eterna aos que as olhassem. 
14 Recolhia do caminho os vermezinhos, para que não fossem pisados, e mandava dar mel e o melhor vinho às abelhas, para não morrerem de fome no frio do inverno. 
15 Chamava de irmãos todos os animais, embora tivesse preferência pelos mais mansos. 
16 Quem poderia contar tudo? Pois toda aquela Fonte de bondade, que vai ser tudo em todos, já iluminava tudo em tudo para este santo.