Selecione

Capítulo 38

Texto Original

Caput XXXVIII

De pecunia versa in colubrum.

 

68 
1 Transeunte aliquando viro Dei (cfr. Iudc 13,6.8) cum socio per Apuliam prope Barum, invenit in via bursam magnam, denariis tumescentem, quae funda negotiatorum vocabulo nuncupatur. 
2 Monetur a socio sanctus et instanter inducitur, ut bursa tollatur e terra, et pecunia pauperibus erogetur. 
3 Attollitur pietas in egenis, et in erogatione ipsius misericordia commendatur. 
4 Recusat sanctus id penitus se facturum, et commentum affirmat fore diaboli. 
5 “Non licet”, inquit, “fili, alienum auferre; peccati poena, non meriti gloria est aliena donare”. 
6 Recedunt de loco, festinant iter perficere coeptum (cfr. Iudc 19,14). Sed nondum quiescit frater, vacua pietate delusus; addit adhuc (cfr. 2Re 5,22) praevaricationem suggerere. 
7 Acquiescit sanctus redire ad locum, non ut fratris impleat votum (cfr. Num 15,8), sed ut fatuo divinum ostendat mysterium (cfr. Dan 2,29). 
8 Advocat iuvenem quemdam, qui supra puteum sedebat (cfr. Ioa 4,6) in via, ut in ore duorum vel trium testium (cfr. Mat 18,16) Trinitatis clareat sacramentum. 
9 Reversis iam tribus ad fundam, denariis eam tumidam vident. 
10 Prohibet sanctus quemquam illorum appropinquare, ut orationis virtute daemonis prodatur fallacia. 
11 Recedens inde, quantum iactus est lapidis (cfr. Luc 22,41), orationi sacrae incumbit. 
12 Rediens ab oratione, iubet fratrem levare bursam, quae, ipso exorante, pro pecunia colubrum continebat. 
13 Tremit frater et stupet, et nescio quid iam praesentiens, alia quam solito animo volvit. 
14 Timore tandem obedientiae sanctae dubietatem abigens cordis, bursam manibus capit. 
15 Et ecce serpens non modicus de bursa exsiliens, diabolicam deceptionem fratri monstravit. 
16 Et ait sanctus ad eum: “Pecunia servis Dei (cfr. Gen 50,17), o frater, nihil aliud est quam diabolus et coluber venenosus”.

Texto Traduzido

Caput XXXVIII

Sobre o dinheiro transformado numa cobra.

 

68 
1 Passando certa vez o homem de Deus com um companheiro pela Apúlia, perto de Bari, encontrou no caminho uma bolsa grande, dessas que chamam de alforje de negociante, cheia de moedas. 
2 O companheiro chamou a atenção do santo e insistiu com ele para recolher a bolsa e dar o dinheiro aos pobres. 
3 Falou em piedade para com os necessitados e fez o elogio das obras de misericórdia que podiam ser feitas com aquele dinheiro. 
4 O santo se recusou absolutamente e disse que aquilo era manha do diabo. 
5 Disse: “Filho, não é lícito pegar o que é dos outros. Dar o que não é nosso é pecado e não merecimento”. 
6 Afastaram-se, apressando-se para terminar a viagem iniciada. Mas o frade não sossegou, iludido por sua falsa piedade. Continuou ainda a sugerir a obra má. 
7 Então o santo concordou em voltar, não para cumprir a vontade do irmão, mas para esclarecer àquele insensato o mistério e divino. 
8 Chamou um rapaz que estava sentado em cima de um poço à beira da estrada, para dar testemunho da Trindade “na boca de duas ou três testemunhas”. 
9 Quando os três chegaram onde estava a bolsa, viram-na gorda de dinheiro. 
10 Mas o santo não deixou nenhum deles se aproximar, querendo demonstrar com a força da oração a ilusão diabólica. 
11 Afastou-se à distância de uma pedrada e se dedicou à santa oração. 
12 Quando voltou da oração, mandou o frade pegar a bolsa que, por efeito de sua oração, continha uma cobra no lugar do dinheiro. 
13 O frade começou a tremer de medo, tomado de estranho pressentimento. 
14 No fim, por respeito à santa obediência deixou de duvidar e pegou a bolsa. 
15 Não era pequena a cobra que saiu lá de dentro, convencendo o frade da falsidade do demônio. 
16 Disse o santo: “Irmão, para os servos de Deus, o dinheiro é apenas o diabo e uma cobra venenosa”.