Selecione

Capítulo 8

Texto Original

Caput VIII

Quid fecerit et dixerit quando feliciter obiit.

 

109. 
1 Conversionis suae tempus iam erat viginti annorum spatio consummatum, sicut sibi divina innotuerat voluntate. 
2 Nam cum ipse beatus pater et frater Helias tempore quodam apud Fulgineum morarentur, nocte quadam cum se sopori dedissent, adstitit fratri Heliae sacerdos quidam albis indutus, grandaevae ac provectae aetatis, aspectu venerabilis, dicens: 
3 “Surge, frater, et dic fratri Francisco, quoniam expleti sunt decem et octo anni ex quo mundo renuntians, Christo adhaesit, et duobus tantum annis dehinc in hac vita manens viam universae carnis (cfr. Ios 23,14), vocante ipsum ad se Domino (cfr. Gen 3,9), introibit”. 
4 Sicque factum est ut sermo Domini, quem diu ante praedixerat, constituto termino compleretur (cfr. 2Par 36,21). 
5 Cum igitur in loco sibi valde desiderato paucis quievisset diebus, et cognosceret tempus propinquae mortis instare (cfr. Heb 9,9), vocavit ad se duos fratres et suos filios speciales, praecipiens eis de morte propinqua, immo de vita sic proxima, in exsultatione (cfr. Ps 106,22) spiritus, alta voce Laudes Domino decantare. 
6 Ipse vero, prout potuit, in illum Davidicum psalmum erupit: “Voce mea”, inquit, “ad Dominum clamavi, voce mea ad Dominum deprecatus sum (Ps 141,2-8)”. 
7 Frater autem quidam de assistentibus, quem sanctus satis magno diligebat amore, pro fratribus omnibus plurimum exsistens sollicitus, cum haec intueretur et sancti cognosceret exitum propinquare, dixit ad eum: “Benigne pater, heu absque patre (cfr. Lam 5,3) iam remanent filii, et oculorum privantur lumine vero (cfr. 1Ioa 2,8)! 
8 Recordare igitur orphanorum quos deseris, et omnibus culpis remissis, tam praesentes quam absentes omnes tua sancta benedictione laetifica”. 
9 Ad quem sanctus: “Ecce”, inquit, “ego vocor a Deo, fili! 
10 Fratribus meis tam absentibus quam praesentibus offensas omnes et culpas remitto, et eos, sicut possum, absolvo; quibus tu haec denuntians, ex parte mea omnibus benedices”.

 

110. 
1 Iussit denique codicem Evangeliorum portari, et Evangelium secundum Iohannem sibi legi poposcit, ab eo loco ubi incipit: Ante sex dies paschae, sciens Iesus quia venit hora eius, ut transeat ex hoc mundo ad Patrem (Ioa 13,1 (12,1)). 
2 Hoc etiam Evangelium legere proposuerat sibi minister, priusquam ei praeciperetur; hoc etiam in prima libri apertione occurrit, cum tota et plena Bibliotheca esset, in qua Evangelium legi debebat. 
3 Iussit proinde se superponi cilicio et conspargi cinere, qui terra et cinis (cfr. Sir 10,9; 17,31) mox erat futurus. 
4 Convenientibus itaque multis (cfr. Deut 31,11) fratribus, quorum ipse pater et dux erat (cfr. Act 14,11), reverenterque adstantibus et exspectantibus omnibus exitum beatum et consummationem (cfr. Sir 33,24) felicem, sanctissima illa anima carne soluta est, qua in abysso claritatis absorpta, corpus obdormivit in Domino (cfr. Act 7,60). 
5 Unus autem ex fratribus et discipulis eius, fama non modicum celebris, cuius nomen nunc existimo reticendum, quoniam dum vivit in carne (cfr. Gal 2,20) non vult praeconio gloriari, vidit animam sanctissimi patris recto tramite in caelum conscendere super aquas multas (cfr. Ios 8,20; Ps 28,3). 
6 Erat enim quasi stella (cfr. Sir, 50,6) quoquo modo lunae immensitatem habens, solis vero utcumque retinens claritatem, a candida subvecta nubecula (cfr. 1Cor 15,41; Apoc 14,14).

 

111. 
1 Libet de ipso propterea sic exclamare: “O quam gloriosus est iste sanctus, cuius animam vidit discipulus in caelum ascendere! 
2 Pulchra ut luna, electa ut sol (cfr. Act 2,34; Cant 6,9), in nube candida cum ascenderet, gloriosissime rutilabat (cfr. Apoc 14,14; Cant 3,6)! 
3 O vere mundi lucerna, sole splendidius lucens in Christi Ecclesia (cfr. Mat 5,15; Rom 16, 16), ecce iam lucis tuae radios subtraxisti et in illa luminosa patria secedens, pro nobis miseris Angelorum et Sanctorum frequentiam (cfr. Heb 12,22) commutasti! 
4 O insignis praeconii almitas gloriosa, noli filiorum te cura exuere, licet exutus iam sis consimili carne! 
5 Nosti, revera nosti, in quanto eos discrimine positos reliquisti, quorum labores innumeros et frequentes angustias sola tua praesentia felix omni hora misericorditer relevabat. 
6 O vere misericors, pater sanctissime, qui peccantibus filiis ‘misereri semper et parcere’ benigne paratus eras! Tibi ergo benedicimus, digne pater, cui benedixit (Tob 8,17; Gen 27,27) Altissimus, qui semper est Deus super omnia benedictus. Amen (cfr. Rom 9,5)”.

Texto Traduzido

Caput VIII

O que fez e disse quando faleceu felizmente.

 

109. 
1 Já tinham passado vinte anos desde sua conversão e, como lhe fora comunicado por divina revelação, estava próxima sua última hora. 
2 De fato, quando o bem-aventurado Francisco e Frei Elias moravam juntos em Foligno, certa noite apareceu em sonho a Frei Elias um sacerdote vestido de branco, de idade muito avançada e aspecto venerável, e disse: 
3 “Levanta-te, irmão, e diz a Frei Francisco que já se passaram dezoito anos desde que renunciou ao mundo e aderiu a Cristo. Permanecerá só mais dois anos nesta vida e depois, chamado pelo Senhor, seguirá o caminho de toda carne mortal”. 
4 Era o que estava acontecendo, para que a seu tempo fosse realizada a palavra de Deus, anunciada com tal antecedência. 
5 Tendo descansado uns poucos dias no lugar que tanto amava, e sabendo que tinha chegado a hora de morrer, chamou dois frades, filhos seus prediletos, e lhes mandou que cantassem em voz alta os Louvores do Senhor, na alegria do espírito pela morte, ou antes pela Vida, já tão próxima. 
6 Ele mesmo entoou como pôde o Salmo de Davi: “Em alta voz clamo ao Senhor, em alta voz suplico ao Senhor” (Sl 141,2-8). 
7 Um dos frades presentes, pelo qual o santo tinha a maior amizade, e que era muito solícito por todos os irmãos, vendo isso e sabendo que a morte do santo estava próxima, disse-lhe: “Ó pai bondoso, teus filhos vão ficar sem pai, vão ficar sem a verdadeira luz de seus olhos! 
8 Lembra-te dos órfãos que estás deixando, perdoa todas as nossas culpas e alegra com tua santa bênção tanto os presentes como os ausentes!” 
9 Respondeu-lhe o santo: “Filho, estou sendo chamado por Deus. 
10 A meus irmãos, tanto presentes como ausentes, perdôo todas as ofensas e culpas, e os absolvo quanto me é possível. Leva esta notícia para todos e abençoa-os de minha parte”.

 

110. 
1 Mandou trazer, então, o livro dos Evangelhos e pediu que lessem o trecho de São João no lugar que começa: “Seis dias antes da Páscoa, sabendo Jesus que sua hora tinha chegado e devia passar deste mundo para o Pai...”(Jo 13,1 (12,1)) 
2 Era justamente o Evangelho que o ministro tinha pensado em ler, antes que lhe fosse dada a ordem. E abriram o livro nesse ponto na primeira vez, embora fosse uma Bíblia inteira o livro em que estavam procurando o Evangelho. 
3 Depois, mandou que lhe pusessem um cilício e jogassem cinzas por cima, porque dentro em breve seria pó e cinza. 
4 Estando presentes muitos irmãos, de quem ele era o pai e guia, a esperar com reverência o fim ditoso e bem-aventurado, sua alma santíssima desprendeu-se da carne e foi absorvida pelo abismo da claridade, enquanto seu corpo adormecia no Senhor. 
5 Um de seus irmãos e discípulos, não pouco famoso, cujo nome acho melhor calar agora, porque enquanto viveu na carne não quis gloriar-se desse fato, viu a alma do pai santíssimo subindo diretamente para o céu, acima das grandes águas. 
6 Era como uma estrela do tamanho da lua e com toda a claridade do sol, levada por uma nuvenzinha branca.

 

111. 
1 Possa eu exclamar agora: “Como é glorioso este santo, cuja alma um discípulo viu subir ao céu! 
2 Bela como a lua, resplandecente como o sol, subindo em uma nuvem branca, brilhava com toda a glória! 
3 Ó luzeiro do mundo, que iluminas a Igreja de Cristo com esplendor maior que o sol, agora já recolheste os raios de tua luz e foste para a pátria esplendorosa, trocando a nossa pobre convivência pela dos anjos e santos! 
4 Ó gloriosa beleza de tão insigne arauto, não deixes teus filhos desamparados, embora já não estejas mais revestido de carne semelhante à nossa. 
5 Sabes, sabes de verdade as dificuldades em que foram abandonados aqueles a quem bastava a tua feliz presença para libertar misericordiosamente, a qualquer momento, dos trabalhos sem conta e das constantes angústias. 
6 Pai santíssimo e cheio de misericórdia, sempre tão pronto a ter compaixão e a perdoar os teus filhos que pecavam! Nós te bendizemos, pai digno, abençoado pelo Altíssimo, que é o Deus eternamente bendito sobre todas as coisas. Amém!”