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Capítulo XLVI

Texto Original

Caput XLVI

Qualiter s. fr. Corradus convertit quemdam iuvenem et post mortem liberavit eum a purgatorio.

 

1 Mirabilis zelator evangelice regule b.p.n. Francisci, s. fr. Corradus de Offida, fuit tam religiose vite et tanti meriti apud Deum, quod tam in vita ipsius quam in morte D. Ihesus Cristus eum multipliciter honoravit. 2 Nam, cum adhuc viveret et ut forensis ad locum Offide venisset, fratres rogaverunt eum, quod amore Dei caritative quemdam fratrem iuvenculum predicaret, 3 qui tam inordinate et pueriliter se gerebat, quod tam senes quam iuvenes de illa familia plurimum conturbabat, et de horis canonicis et aliis regularibus disciplinis aut parum aut nichil curabat.
4 Unde fr. Corradus, compatiens illi iuvenculo et etiam predictis fratribus propter illum multipliciter tribulatis, ad preces illorum humiliter inclinatus, vocavit illum seorsum et in visceribus caritatis dixit sibi verba tam efficacia et divina, quod statim facta est manus Domini super (cfr. Ez 1,3) ipsum iuvenculum; et mutatus est in virum alterum (cfr. 1Re 10,6) , ita quod factus est de puero senex: 6 ita obediens et benignus, ita sollicitus et devotus, ita pacificus et obsequiosus et ad omnia opera virtutis studiosus quod, sicut per ipsum tota familia turbabatur, ita postea omnes, propter plenam conversionem quam in virtutibus fecerat, exultabant et dilectionem ad eum quasi ad angelum ferebantur.
7 Post hanc vero conversionem, paucis diebus elapsis, infirmatus est et migravit a seculo, de quo fratres multum doluerunt. Post mortem vero illius, cum fr. Corradus, qui converterat illum, staret in oratione de nocte ante altare dicti conventus; 8 et ecce venit anima dicti fratris, fr. Corradum tanquam patrem devote salutans. Qui ait: “Quisnam es tu?”. Respondit: “Ego sum anima iuvenis nuper defuncti”. 9 Cui ille: “O fili carissime, et quid est de te?”. Respondit: “Pater carissime, gratia Dei et doctrine vestre bene michi est, quia non sum dampnatus; tamen, propter aliquas meas culpas, propter modicum tempus quod habui non plene purgatas, magnas substineo purgatorias penas. 10 Sed rogo te, pater, quod, sicut tua pietate michi, dum viverem, succuristi, ita nunc michi in meis cruciatibus digneris succurrere, ut dicas pro me aliqua Pater noster, quia oratio tua est valde acceptabilis coram Deo”.
11 Fr. vero Corradus, libenter assentiens, dixit semel Pater noster cum Requiem eternam (cfr. 4Esd 2,34). Quo dicto, dixit anima illa: “O pater carissime, quam michi profuit! Rogo quod michi iterum dicas”. 12 Et cum dixisset iterum, illa replicans ait: “Pater sancte, sicut oras tota allevior; et rogo quod orare non cesses”. Fr. vero Corradus, sentiens quod anima illa suis orationibus iuvabatur, dixit sibi centum Pater noster.
13 Quibus completis, anima illa dixit: “Pater carissime, ex parte D.n. Ihesu Cristi gratias ago tibi, ut Ipse tibi de hac caritate mercedem eternam tribuat; quia propter orationem tuam ego sum a penis omnibus liberata et pergo nunc ad regna celestia”.
14 Et hiis dictis perrexit ad Dominum. Fr. vero Corradus, ut letificaret fratres, totum recitavit per ordinem quod in nocte precesserat; de quo ipse et alii fuerunt plurimum consolati.
Ad laudem et gloriam D.n. Ihesu Cristi. Amen.

Texto Traduzido

Caput XLVI

Como Frei Conrado converteu um jovem e de­pois da morte o libertou do purgatório.

 

1 O santo Frei Conrado de Offida, admirável zelador da regra evangélica de nosso bem-aventurado pai Francisco, foi de vida tão religiosa e tão meritória diante de Deus que o Senhor Jesus Cristo o honrou de muitas maneiras tanto na vida quanto na morte. 2 Pois, quando ainda vivia, chegando como foras­teiro a um eremitério de Offida, os irmãos lhe pediram que por amor de Deus pregasse com bondade a um irmão jovem que se comportava de modo tão desordenado e pueril que muito perturbava tanto os velhos quanto os jovens daquela família e pouco ou nada se importava com as horas canônicas e as outras disciplinas regulares.
4 Então, Frei Conrado, compadecendo-se daquele jovem e também dos referidos irmãos, tão atribulados por ele, acedendo humildemente aos pedidos deles, cha­mou-o à parte 5 e das entranhas da caridade disse-lhe palavras tão eficazes e divinas que imediatamente a mão do Senhor pousou sobre (cf. Ez 1,3) aquele jovem; e ele se transformou em outro homem (cf. 1Sm 10,6), de modo que de jovem tornou-se um velho 6 tão obediente e bondoso, tão solícito e devoto, tão pacífico e ob­sequioso, pronto para qualquer obra de virtude que, como antes tinha perturbado toda a família, depois, devido à sua plena conversão às virtudes, todos exultavam e eram movidos de amor para com ele como se fosse um anjo.
7 E depois dessa conversão, passados poucos dias, ele adoeceu e migrou do mundo; do que os irmãos muito se lamenta­ram; e depois de sua morte, quando Frei Conrado, que o conver­tera, estava de noite em oração diante do altar do dito convento, 8 eis que veio a alma do referido irmão, saudando devotamen­te a Frei Conrado como a um pai. Frei Conrado perguntou: “Quem és tu?” Ele respondeu: “Sou a alma do jovem recentemente falecido”. 9 Ele lhe disse: “Ó filho caríssimo, que há contigo?” Res­pondeu: “Pai caríssimo, pela graça de Deus e do vosso ensi­namento, estou bem, porque não estou condenado; contudo, por causa de algumas culpas minhas não plenamente purificadas de­vido ao pouco tempo que tive, suporto grandes penas purgatóri­as. 10 Mas eu te peço, pai, que, como me socorreste com tua piedade enquanto eu vivia, assim agora te dignes socorrer-me em meus tormentos, rezando por mim alguns Pai-nossos, por­que tua oração é muito aceita diante de Deus”.
11 Frei Conrado, concordando de bom grado, rezou uma vez o Pai-nosso com o Requiem aeternam (cf. 4Esd 2,34). Tendo-o reza­do, aquela alma disse: “Ó pai caríssimo, quanto me fez bem! Peço-te que o rezes de novo para mim”. 12 Ele rezou de novo e a alma disse: “Pai santo, à me­dida que rezas, fico toda aliviada; e peço que não pares de rezar”. E Frei Conrado, sentindo que aquela alma era ajudada por suas ora­ções, rezou cem Pai-nossos por ela.
13 Quando acabou, a alma lhe disse: “Pai caríssimo, dou graças da parte de Nosso Senhor Jesus Cristo para que, por esta caridade ele te dê a recompensa eterna; porque pela tua oração fui libertada de todas as penas e me encaminho agora aos reinos celes­tes”.
14 E, tendo dito isto, foi para o Senhor. E Frei Conrado, para alegrar os irmãos, contou tudo que se passara na noite anterior; do que ele e os outros ficaram muito consolados.
Para o louvor e glória de Nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.