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Capítulo 75

Texto Original

Caput LXXV

De conversione eiusdem fratris Silvestri, et de quadam ipsius visione.

 

109 
1 Praedicti Silvestri conversionem, qualiter eum ad intrandum Ordinem Spiritus moverit, non indignum credo praesentibus copulari. 
2 Silvester itaque sacerdos fuerat saecularis de civitate Assisii, a quo lapides pro reparanda ecclesia quondam emerat homo Dei (cfr. 4Re 1,10). 
3 Hic cum videret illo in tempore fratrem Bernardum, qui post sanctum Dei (cfr. Luc 2,34) Minorum Ordinis prima plantula fuit, sua perfecte relinquere ac dare pauperibus (cfr. Mat 19,21.29), voraci cupiditate succensus, apud virum Dei de lapidibus olim sibi venditis movet querelam, quasi non perfectum ei pretium solutum exstiterit. 
4 Subridet Franciscus animum sacerdotis advertens avaritiae veneno infectum. 
5 Sed refrigerium maledicto ardori cupiens utcumque praestare, manus eius non numerata pecunia replet. 
6 Gavisus est presbyter Silvester in datis, sed plus liberalitatem dantis miratus, domum regressus, factum saepe recogitabat, senescentem iam se diligere mundum (cfr. 1Ioa 2,15) murmure felici submurmurat, et iuvenem illum sic cuncta despicere stupet. 
7 Odore bono (cfr. 2Cor 2,15) iam proinde pleno, misericordiae suae Christus aperit sinum. 
8 Ostendit ei per visionem (cfr. Act 18,9) opera Francisci quantum valeant, quanta coram ipso eminentia fulgeant, quam magnifice totam mundi machinam compleant. 
9 Videt namque in somnis crucem auream de ore prodeuntem Francisci, ‘cuius summitas caelos tangebat (cfr. Gen 28,12)’, cuius brachia protensa in latum utramque mundi partem amplexando cingebant. 
10 Compunctus sacerdos in visu (cfr. Sir 40,7), damnosam excutit moram, relinquit mundum (cfr. Ioa 16,28), viri Dei (cfr. 4Re 5,14) perfectus imitator efficitur. 
11 Perfecte hic coepit in Ordine conversari, et perfectissime Christi gratia consummavit. 
12 Sed quid mirum, si Franciscus crucifixus apparuit, cui tantum semper cum cruce fuit? 
13 Cruce mirifica sic interius radicata, quid magnum, si de terra bona (cfr. Mat 13,8.23) exoriens flores, frondes et fructus protullit conspectivos? 
14 Nil alterius generis in illa potuit gigni, quam ita sibi totam crux illa mirabilis a principio vindicavit. 
15 Sed iam nunc ad materiam recurrendum.

Texto Traduzido

Caput LXXV

Sobre a conversão do mesmo Frei Silvestre, e sobre uma visão dele.

 

109 
1 Parece-me que não é indigno referir aqui como foi a conversão desse Frei Silvestre e como foi levado pelo Espírito Santo a entrar na Ordem. 
2 Silvestre tinha sido um sacerdote secular de Assis, de quem o homem de Deus tinha comprado pedras para reparar uma igreja. 
3 Quando viu que Frei Bernardo, primeira mudinha da Ordem dos Menores depois do santo de Deus, tinha deixado com perfeição tudo que era seu e o estava dando aos pobres, acendeu-se em voraz cobiça e queixou-se ao homem de Deus de que não tinha pago como devia pelas pedras recebidas. 
4 Francisco sorriu, percebendo o veneno da avareza que tinha atacado o padre. 
5 Mas, querendo de qualquer jeito dar alívio àquele maldito ardor, encheu-lhe as mãos de dinheiro, sem contar. 
6 O padre Silvestre ficou contente com o que recebera, e mais admirado ainda com a liberalidade de quem o tinha dado. Voltando para casa, pensou muitas vezes no que tinha acontecido e começou a levantar contra si mesmo a feliz acusação de que já estava envelhecendo e amava o mundo, enquanto aquele jovem o espantava por um desprendimento tão grande de todas as coisas. 
7 Com isso ficou penetrado do bom perfume, e Cristo lhe abriu seu coração cheio de misericórdia. 
8 Mostrou-lhe, através de uma visão, como eram valiosas e eminentes aos seus olhos as obras de Francisco e como enchiam o mundo inteiro. 
9 Pois viu, em sonhos, uma cruz de ouro que saía da boca de Francisco, tocava os céus com sua ponta e se abria para os dois lados, abraçando o mundo inteiro. 
10 Compungido pela visão, o sacerdote deixou de lado toda demora perniciosa, abandonou o mundo e se faz um imitador perfeito do homem de Deus. 11Começou a levar uma vida perfeita na Ordem e, pela graça de Cristo, chegou à mais alta perfeição. 
12 Mas como vamos ficar admirados se Francisco apareceu crucificado, se sempre esteve tão unido à cruz? 
13 E como teve essa cruz maravilhosa sempre enraizada em seu interior, também não admira que tenha feito desabrochar flores da terra boa e produzido ramos e frutos tão vistosos. 
14 Não podia produzir outra coisa esse chão desde o princípio totalmente dominado pela cruz. 
15 Mas vamos continuar agora o nosso assunto.