Tamanho do Texto:
A+
A-

Igreja do Rio Grande do Sul se une aos capuchinhos para o louvor e a ação de graças.

29/12/2016 - 08h17
Do Jaime Spengler, em homilia,

Durante celebração dos 120 anos, realizada na manhã da quarta-feira 28, em Garibaldi, o Arcebispo de Porto Alegre, Dom Jaime Spengler, faz homilia que destaca a trajetoria dos 120 anos dos Capucinhos no Rio Grand eod Sul.

a Homilia na Íntegra

 

 

CAPUCHINHOS - 120 ANOS DE VIDA

 

Caros irmãos,

Reunimo-nos para fazer memória de um caminho realizado ao longo de 12 décadas. Memória diz de um passado que permanece como história, como conhecimento dos fatos, dos acontecimentos vividos, experimentados, curtidos. É a memória da Província, o seu passado, a sua concreção, a sua encarnação, a sua recordação no sul do Brasil. Nesse sentido memória traz a sentido da vida da Vida Capuchinha entre nós; não o passado morto, que se encontra escrito em documentos, certamente disponíveis para pesquisa e para alimento da curiosidade dos curiosos, mas o passado de homens tocados pelo Deus-Amor – ou Luz como nos diz S. João (1ª leit.).

Memória é a vida da Província. Memória como passado, encarnado no presente. Os frades são hoje o que receberam dos que os precederam e de cuja memória são co-responsáveis.

Uma época não está separada de outras épocas. O presente é presente, porque existe passado. Cremos hoje, porque somos herança viva do passado, dispostos para o futuro!

Fazer memória destes 120 anos de história é esperançosamente re-ver, resgatar a ação de Deus na vida dos irmãos que nos precederam e com quem convivemos.

Fazer memória implica reconhecer. Isto é, trazer à memória de novo, trazer à cordialidade, ao coração, ao núcleo fontal da vida – da vida, o conhecimento, o reconhecimento da pertença ao Evangelho, do qual vivemos. Em reconhecendo a fonte da vida, somos convidados a pensar a história da ação de Deus na vida dos irmãos. Percebemos assim o que permitiu aos nos precederam realizar o que realizaram, e o que nos permite realizar o que estamos realizando. Isto é re-conhecer, fazer memória.

Fazer memória não é sinônimo de apresentação de fatos interessantes do passado. Fazer memória é essencialmente resgatar a raiz oculta, o vigor, a força interior que deu forças, que sustentou os antepassados, de cujo legado somos guardiães.

Re-cordar aponta para uma cordialidade. Cordialidade diz do íntimo do coração. Assim, fazer memória, re-cordar significa resgatar o que cada um dos irmãos trazia ou traz no íntimo do coração e que permitiu a vitalidade da fraternidade ao longo destes 120 anos.

Tal vitalidade só pode ser compreendida à luz da versão de Deus para a humanidade: o Evangelho. Versão esta que produziu aversão em Herodes. Herodes é figura do faraó dentro de Israel, dentro da Igreja e também dentro de cada um de nós. Herodes não podia suportar que uma criança pudesse ameaçar o trono. Por isso, mandou eliminar “todos os meninos de Belém e de todo o território vizinho, de dois anos para baixo”. Do que é capaz a aversão do ser humano à versão de Deus para humanidade? É capaz de per-versão! A infidelidade bestializa o ser humano!

Tal versão de Deus para o ser humano fez o Pobre de Assis, dançar de alegria e ao mesmo tempo gritar ao mundo que o ‘Amor não é amado’. Por isso, não hesitou em realizar um longo itinerário de con-versão; buscou em tudo fazer próprios os sentimentos de Cristo Jesus. Consumou seu caminho sem cair na per-versão, e por isso, se tornou originariamente humano.

Caros irmãos,

Fazemos hoje na liturgia memória dos Santos Inocentes. O texto do Evangelho que ouvimos, descreve a ferocidade de um homem, marcado por ressentimento, culpa e medo. Apresenta também a simplicidade de uma criança; recém nascida, indefesa e pobre. Ela é perseguida pelo poderoso tirano que queria eliminar Deus que se deixou envolver nos panos de nossa fragilidade.

As maquinações da maldade não conseguem impedir que a beleza e a candura de uma criança vençam tramoias de poderosos.

José, num sonho, reconhece o que deve fazer. Se, por vezes, para nós, o sonho pode parecer irreal, para José representa o início de toda realidade. José acorda para a vida com o sonho de Deus.

Caros amigos,

Teríamos histórias para contar. Temos tanto a celebrar! A história, por exemplo, do Rio Grande do Sul, não pode ser plenamente compreendida sem considerar a presença capuchinha. Foram e são tantas as formas de contribuição para a vida sócio-economica-politico-eclesial de nossa gente!

No entanto, mais importante, seja talvez resgatar o fundamental da forma de vida capuchinha e que distinguiu e distingue os irmãos.

Não é demais acentuar em que consiste a vida de um frade capuchinho: ser piedoso e estudioso, trabalhador e pobre, casto e equilibrado, saudável física e psiquicamente, talentoso e habilidoso; homem de fé e ousadia; homem do Evangelho – de Deus!

A Igreja do Rio Grande do Sul se une aos irmãos capuchinhos para o louvor e a ação de graças. Olhamos para o passado com gratidão! O presente contemplamos com paixão! É a paixão de cada um de nós por aquilo que somos que desperta em outros a mesma paixão. Assim, podemos esperar e acolher com esperança o futuro!

Recordando S. João Paulo II podemos certamente dizer que “Vocês não têm somente uma gloriosa história para recordar e contar, mas uma grande história para construir! Olhem para o futuro, no qual o Espírito vos projeta para fazer convosco ainda grandes coisas”.

Que o Espírito Santo, verdadeiro Ministro Geral da Ordem, a todos inspire e oriente.

+ Dom Jaime Spengler

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Frei João Carlos Romanini (Frat. Imaculada Conceicao)

Deixar um comentário