* 22.11.1934 – Ouro/SC
† 30.09.2012 – Curitiba/PR
Frei Ovídio Zanini, filho de Francisco Zanini e de Maria Gianni Zanini, nasceu em Linha Bonita/Ouro- SC, aos 22.11.1934. Foi batizado no mesmo lugar, logo após seu nascimento e, posteriormente, crismado por Dom Daniel Hostin, então bispo de Lages-SC.
Iniciou seus estudos em Linha Bonita em 1941 na Escola Municipal. Entrou no Seminário São Francisco, em Barra Fria, hoje Lacerdópolis em 1944. Continuou seus estudos em Butiatuba (1945-1949). Ingressou no noviciado também em Butiatuba, aos 13.01.1950, tendo como mestre Frei Germano de Lion. Recebeu o nome de Frei Fernando de Capinzal. Emitiu os votos temporários aos 14.01.1951. Durante seus estudos filosóficos e teológicos, emitiu a profissão perpétua (06.01.1956) e recebeu as Ordens Menores (Leitorado aos 26 de maio e Acolitado aos 2 de julho de 1950). Após o diaconato (16.03.1957) foi ordenado sacerdote por Dom Inácio de Ribeirão Preto aos 15.12.1957 em nossa Igreja Nossa Senhora das Mercês, Curitiba. De 1958 a 1963 estudou em Roma, obtendo licenciatura em Teologia Dogmática pela Pontifícia Universidade Gregoriana e em Sagrada Escritura, pelo Pontifício Instituto Bíblico.
Como sacerdote atuou nas seguintes localidades: Santo Antônio da Platina (1958), Roma (curso bíblico, 1958- 1963), Curitiba (1964-1974), Butiatuvinha (1975), Ponta Grossa 1976-1985), Londrina (1986-1987), Itapoá e Angola (1988), Uraí(1989), Florianópolis e Jaraguá do Sul (1990-2001), Curitiba (2002-2012).
Atividades
Ele próprio as descreveu em dez períodos:
Primeiro período: Atendimento aos excluídos (1965-1972) - Após ter retomado de Roma, além de ser professor, criou entidade “Dom Camilo” de promoção humana do pobre que vivia coletando lixo pela cidade, usando carros e carrinhos de mão. Passado certo tempo, criou a FREI (Fundação de Regeneração de indigentes), reconhecida pelas autoridades municipais, estatais e nacionais, e que substituiu a Dom Camilo. Não concordando com a diretoria da FREI, demitiu-se e criou a Obra Social Dom Camilo com os mesmos métodos e objetivos. Adquiriu um terreno em Butiatuvinha, construindo nele 20 casas, um barracão e organizou fabriqueta de chaveiros. Para manter a obra, começou a escrever e publicar livros e deu palestras bíblicas em mais de 92 paróquias.
Segundo período: Pastoral de Prevenção (1969- 1972) - Realizou cursos de higiene mental em 39 paróquias e exposições fotográficas de prevenção às drogas, onde vendia seus livros para sustentar a obra iniciada.
Terceiro período: Sexualidade e experiência de Deus (1970-1978) - Fez milhares de palestras em centenas e centenas de paróquias no Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, sempre com o objetivo de combater as doenças, misérias, violências e libertinagem sexual.
Quarto período: Cursos populares da Bíblia (1968- 1984)- Com mestrado em Teologia Dogmática e Sagrada Escritura ministrou cursos de Bíblia em paróquias e capelas. Para isso, organizou uma coleção de 400 diapositivos que ilustrava seus cursos nas igrejas matrizes e capelas.
Quinto período: Professor de teologia dogmática (1964-1968) - Lecionou Teologia para os Freis capuchinhos (19 anos), seminaristas maiores de Curitiba, Ponta Grossa, São Paulo e Amazonas (6 meses); Filosofia (12 anos) em Ponta Grossa e na Angola; Sagrada Escritura, História Eclesiástica (19 anos junto com a teologia), Estética e Historística (3 anos). Criou um jeito novo de dar filosofia e história dentro de uma visão franciscana, especialmente no período em que houve forte crise no estudantado de filosofia, em Ponta Grossa.
Sexto período: Pregou numerosos cursos de retiros, prestou atendimento espiritual, coordenou cursos e dias de formação em centenas de lugares, para colégios, institutos religiosos masculinos e femininos, movimentos eclesiais, escolas até nas Faculdades. Prestou atendimento espiritual aos Irmãos Maristas do Champagnat (Curitiba), às Irmãs Ucraínas (Ponta Grossa) e outros mais.
Sétimo período: Escritor - Ao longo de sua vida, escreveu 25 livros, alguns com grande tiragem. Seu estilo sempre foi claro, acessível, preciso e atraente.
Oitavo período: Pároco e criador de novenas - Como pároco da paróquia Nossa Senhora das Mercês, em Curitiba-PR, iniciou a Novena do Cristo Partido e outras mais nos lugares onde trabalhou.
Nono período: Curso de Parapsicologia - Desde 1996 até o final de sua vida, ministrou 750 cursos de parapsicologia em 20 dioceses e numerosas paróquias. Nestes cursos, Frei Zanini fazia demonstrações públicas de hipnose ou de fenômenos do poder mental, procurando desmistificar visagens, possessões, incorporações, milagres, curandeiros, falsos argumentos de reencarnação, doenças psicológicas e outras.
Décimo período: Pastoral da cura interior - Ele mesmo disse que este período seria o último de sua vida e, de fato o foi. Com os cursos de parapsicologia e de programação mental procurou ajudar os deprimidos e psicologicamente doentes. Em Curitiba, dominicalmente das 15 às 18h ministrava esses cursos, aberto a todos.
Falecimento
Após vários dias de internamento no Hospital Nossa Senhora das Graças, com problemas cardíacos, Frei Ovídio Zanini faleceu no dia 30.09.2012. Ele que era biblista, faleceu no dia de São Jerônimo. Contava 77 anos de idade, 61 de vida religiosa e 54 de sacerdócio.
Missa exequial
Seu corpo foi velado na Igreja das Mercês e no dia seguinte, às 14h iniciou-se a missa de corpo presente. Embora fosse segunda-feira, a igreja estava lotada de fiéis. Esteve presente também o bispo auxiliar de Curitiba, Dom Rafael Biernaski, muitos sacerdotes e religiosos de nossa Província. A missa foi presidida pelo Ministro Provincial, Frei Cláudio Sérgio de Abreu, solenizada com muitos cantos. Inicialmente, Frei Juarez De Bona apresentou os dados mais importantes da vida de Frei Zanini. Os textos da missa foram indicados pelo mesmo Frei Ovídio Zanini que preparou a “missa de ressurreição” para sua missa exequial, com as leituras e orações elaboradas por ele mesmo. Na homilia, o Ministro Provincial respeitou o pedido do falecido, lendo o texto que ele tinha preparado para seus funerais, que terminou dizendo: “Posso fazer mais um pedido? Entoem cantos de alegria e ressurreição. Façam festa. Se tiverem saudades, agradeço, mas, não tenham tristeza. Lembrem do que disse Jesus: “Se me amaram, se alegrarão por eu ir para o Pai” (Jo 14,28b). Em seguida o celebrante passou a palavra aos Freis Jaimir Compagnoni (guardião do convento) e Pedro Cesário Palma (pároco). Após a oração final, o Ministro Provincial agradeceu a todos os que prestaram ajuda ao Frei Zanini, frades, leigos, religiosas e médicos do Hospital Nossa Senhora das Graças. Em seguida, o Ministro Provincial fez a encomendação do corpo, usando a oração preparada por Frei Zanini.
Sepultamento
Terminada a missa exequial na igreja Nossa Senhora das Mercês, Curitiba-PR, o corpo de Frei Zanini foi transportado para o cemitério particular dos Freis capuchinhos em Butiatuba-PR, acompanhado pelos Freis, religiosas e leigos. Ao lado do túmulo, o Ministro Provincial fez as últimas orações rituais com a prece dos fiéis. O corpo de Frei Zanini foi descido à sepultura, acompanhado com o canto “Com minha Mãe estarei” e com grande salva de palmas. O canto “A Virgem de Nazaré” e o característico cantar dos Quero-quero completaram a cerimônia de sepultamento.
Testemunhos:
- Foi professor de altíssimo nível no domínio dos conteúdos, na comunicação, no incentivo ao estudo e especialmente na sua riquíssima didática. Com sua singular inteligência tinha a capacidade de tornar as coisas difíceis fáceis com linguagem acessível.
- No período em que esteve em Ponta Grossa como professor, “carregou nas costas” o estudantado de teologia, deixando fortes marcas. Naquele tempo pós- conciliar e com tantas mudanças, Frei Ovídio foi um “presente de Deus” não só no ensinando da Teologia, mas sobretudo transmitindo muitos valores franciscanos. Era homem de vanguarda. Quando terminava um curso na área de teologia, levava seus alunos, os Freis, a passeio pela natureza exuberante e ali fazia belíssimas orações com os frades estudantes. Ensinava a ver a Deus mais nas coisas ordinárias que extraordinárias. Neste aspecto, foi um mestre de oração.
- Com sua sensibilidade, percebia a presença de Deus em tudo e louvava o Criador com suas criaturas. Era acessível e sensível às pessoas, especialmente com os pobres, que procurava socorrê-los com carinho.
- Sua espiritualidade partia sempre da realidade e partilhava-a na pregação, homilias e na oração comunitária.
-Era amigo alegre, acolhedor, criativo, sonhador, realizando grande bem às pessoas com suas orientações, escritos e palestras. Quando estudante demonstrava facilidade nos estudos e, como conhecia bem o latim, traduzia muitas lições para seus colegas, ajudando-os assim a compreendê-las e superar os exames.
- Como professor transmitia seu saber com habilidade, humildade, clareza, levando-nos a nos apaixonar pelas Sagradas Escrituras. Seus livros e palestras prendiam a atenção dos ouvintes. Sua maneira de viver e ensinar era atraente e entusiasmava. Sua serenidade, alegria, simplicidade, sabedoria, amizade eram marcas fortes presentes em seu relacionamento fraternal”.
- Lutou para libertar as pessoas das prisões mentais e alertou a todos para não se tornarem escravos de si mesmos, de seus medos, compulsões e imagens.
- Dedicou-se em mostrar que uma vida simples e serena é arma poderosa contra a intolerância e a impaciência.
- Ensinava, com constância, que a imaginação sadia é meio poderoso para construir uma vida abençoada e feliz.
- Com sua vasta cultura bíblica, acreditava nos valores do Reino de Deus, mantinha-se firme na certeza da vida futura e a almejava, afirmando que “a esperança do futuro é o segredo do presente”.
Atendimentos de Frei Zanini
Entre as poucas coisas que foram encontradas no quarto de Frei Ovídio Zanini há duas agendas, onde anotou todos os atendimentos que fez nas Mercês. O primeiro atendimento que fez, nas Mercês, foi para João Carlos Loss e Ana Clara. A primeira agenda começa do n° 1 e chega até 4.874 atendimentos. A segunda agenda começa com o atendimento n° 4.876 e vai até o n° 8.196 para Gilvani dos Santos, morador em Campina Grande do Sul (Curitiba-PR). Infelizmente, nestas duas agendas, Frei Ovídio não dividiu por anos e meses. É um elenco continuado sem data de início. Sem iniciou o atendimento em 2002, porque aos 2 de março de 2002, ele foi transferido para a paróquia das Mercês como vigário paroquial e orientador psicológico.
Salmos do Novo Testamento
Talvez poucos ouviram falar que Frei Ovídio Zanini fez uma tentativa de elaborar uma série de “Salmos do Novo Testamento”. O original é escrito com as velhas máquinas de escrever e, na primeira folha, Frei Zanini escreveu assim: “Temas para Salmos do Novo Testamento - Frei Ovídio Zanini - Uraí-PR, 1o de janeiro de 1989”. Não existe apresentação ou explicação sobre o trabalho que fez. Ele fez 150 Salmos e mais 15 opções, resultando em 165, nas notas há algumas citações bíblicas e explicações. Este o primeiro salmo de sua coleção: Salmo 01: Eucaristia e Ressurreição; o salmo 150 tem esse título: Meditação. Nos 15 salmos opções, o 151 intitulou “Cristo e Maria” e o 165 “De novo, teologia da libertação”.
Ao todo, são 169 páginas A4. No índice, aparece o elenco de 165 salmos; no corpo do livro foram encontrados somente 163, faltando os dois últimos que tem estes títulos: “164: Tereza de Calcutá; 165: De novo, teologia da libertação”.