Morreu na festa da Santíssima Trindade
Na noite de 9 para 10 de junho de 1990, fulminado por um “Infarto agudo do miocárdio”, Frei Nelson Berto encerrou sua caminhada terrena e partiu para a casa do Pai. Tinha 51 anos de idade, quase 34 de vida religiosa e 27 de sacerdócio.
Para ele a morte chegou mesmo “como um ladrão”, como diz o Evangelho. Tão de repente, que deixou os que o conheciam aturdidos com a notícia do falecimento. Esperavam-no para presidir a missa dominical da solenidade da Santíssima Trindade, quando veio a notícia da razão do seu atraso. Morreu sem incomodar quem quer que fosse, assim como alguém que, partindo para uma viagem, não quisesse despedir-se de ninguém, pois as despedidas são sempre tristes.
Dados biográficos
Nasceu em Pau D’Alhinho aos 25 de agosto de 1938, filho de Antônio Berto e Regina Previatti. Foi batizado por Frei Félix de Rio das Pedras aos 8 de outubro de 1938, na capela Santo Antônio, no bairro Pau D’Alhinho. Fez a Primeira Comunhão aos 9 de junho de 1946. Foi crismado por Dom Ernesto de Paula, em outubro de 1947, na mesma capela Santo Antônio. Estudou as primeiras letras em Piracicaba-SP.
Seminários
Frei Nelson ingressou no Seminário São Fidélis de Piracicaba-SP, no dia 30 de janeiro de 1949, com 11 anos de idade. Em 1955, os seminaristas dos dois últimos anos de Seminário foram transferidos para o convento São José de Mococa-SP. Parte de uma ala do convento foi transformada em Seminário. Aí concluiu os estudos seminarísticos e preparou-se para o noviciado. Na época, esta preparação era uma exigência cuidadosa. Os candidatos ao noviciado aprendiam bem a recitação do Ofício Divino e toda disciplina contida no Manual do Noviço.
Noviciado, Profissão, Filosofia, Teologia e Ordenação
Frei Nelson vestiu o hábito franciscano capuchinho no convento Santa Clara, em Taubaté-SP, aos 21 de dezembro de 1955. Foi seu Mestre Frei Marcos Brevi. Fez a profissão temporária no dia 22 de dezembro de 1956, perante o Provincial Frei Anselmo Donei. Nos anos 1957, 1958 e 1959 estudou Filosofia em Mococa-SP, onde emitiu a profissão perpétua, perante Frei Anselmo Donei, ex-Provincial e Diretor dos Estudantes, no dia 23 de dezembro de 1959.
De 1960 a 1963 cursou Teologia em São Paulo-SP. Recebeu a Primeira Tonsura, na Catedral de São Paulo, aos 22 de dezembro de 1960, conferida por Dom Antônio Maria Alves de Siqueira. Dom Antônio Macedo, CSSR, conferiu-lhe as Ordens Menores aos 22 de dezembro de 1961. Foi ordenado Subdiácono aos aos 22 setembro de 1962 e Diácono por Dom Vicente Marchetti Zioni, no Seminário Verbo Divino, aos 22 de dezembro de 1962.
Os religiosos Franciscanos Capuchinhos tinham o privilégio de receber a Ordenação Sacerdotal no início do último ano de Teologia, uma vez que tivessem idade canônica requerida pelo Direito. Frei Nelson e seus colegas de turma receberam a Ordenação Sacerdotal pela imposição das mãos de Dom Bernardo José Bueno Miele, Bispo Auxiliar de Campinas, em nossa Igreja Imaculada Conceição, São Paulo, no dia 29 de junho de 1963. “Sei em Quem acreditei” (2 Tim. 1,12) é a inscrição nas lembranças distribuídas aos fiéis no dia da ordenação e da primeira missa.
Transferências e atividades
Naquele tempo não existiam experiências pastorais em fins de semana no período da formação. Depois de um ano de pastoral, em São Paulo, foi transferido para o convento Sagrado Coração de Jesus, Piracicaba, em 18 de outubro de 1964, como confessor e pregador. Um ano depois passou para o Semi-nário São Fidélis, onde foi professor. Cursou, então, a Faculdade de Pedagogia na UNIMEP e se formou aos 20 de fevereiro de 1969. Transferido para São Paulo, em janeiro de 1972, foi nomeado Diretor Pedagógico do IMACO (Instituto Imaculada Conceição), professor e vigário cooperador de 1972 a 1977. De 1978 a 1980 foi Secretário Provincial, atendendo também a paróquia de são Lourenço da Serra.
Nos últimos anos esteve em Penápolis (de 1981 a 1983 e de 1987 a 1989) e em Birigui (de 1984 a 1986). Mudou-se em janeiro de 1990 para Piracicaba, outra vez para o Seminário São Fidélis, onde poderia dedicar-se plenamente a seus estudos de história da Província, ótimo serviço prestado a todos nós. Mas, além disso estava sendo um dedicado capelão da Santa Casa e apreciado vigário paroquial atuando no Lar Franciscano de Menores. Muitos piracicabanos gostavam bastante de seus artigos de caráter histórico no Jornal de Piracicaba. Vida Fraterna (Boletim de Animação da Vida da Província) publicou alguns destes artigos de Frei Nelson com os títulos: “100 ANOS” e “RECORDANDO”.
Trabalhos históricos publicados
1. “À Sombra do Santuário” sobre os Capuchinhos em Penápolis e região “Santa Cruz do Avanhan-dava”.
2. “Capuchinhos de São Paulo”, apontamentos de pastoral missionária de 1890 a 1980.
3. “Capuchinhos em Piracicaba”, Igreja Sagrado Coração de Jesus, 1890 a 1960.
4. “Capuchinhos no Largo São Francisco”, 1897 a 1908. Missões no litoral paulista: 1896 a 1897.
5. “Catálogo Geral dos Religiosos Professos da Província dos Capuchinhos de São Paulo”.
6. “Dados Biográficos dos Frades Falecidos”, 1889 a 1984.
7. “Dados Sobre Estudos e Formação”.
8. “Documentos e Correspondências”, 1886 a 1946.
9. “Pastoral Missionária” apontamentos de 1890 a 1980.
10. “Seminário Seráfico São Fidélis”.
11. “Tentativas de Missões Indígenas”: Campos Novos do Paranapanema-SP, Jataí-PR, Rio Verde-MS, Marrecas-SP.
“O único necessário”
Na apresentação deste trabalho: “Dados Biográficos dos Frades Falecidos (1889-1984)”, entre outras, Frei Nelson fez as seguintes afirmações: “Cada um deles nos traz mensagens para nossa vida cristã e religiosa... Muitos terão considerado suas vidas como loucuras ou inúteis, mas eles estão na paz... Até suas fraquezas e pecados são de intenso brilho, pois quando somos fracos é que se manifesta a força de Deus...
Tudo é graça do Senhor e é Ele que opera em nós, não apenas o querer mas até o realizar o bem.
Cada vida é única e cheia de mensagens.
Uns mais santos, outros menos. Uns, mais virtuosos, outros menos amadurecidos no bem.
Todos eles terão certamente lutado por viver o único necessário: O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo” (Cf. pag. VII).
Frei Nelson tinha começado a preparar a edição em livro de todos os trabalhos históricos. Pesquisou, não só as fontes existentes na Província, mas viajou para Roma, Trento e lá conseguiu ótimo material de trabalho histórico.
Frei Nelson nunca perdeu aquela simplicidade de filho de trabalhadores da roça. Uma alma verdadeiramente franciscana. De temperamento retraído, escondia um grande coração, que se tornava perceptível à medida que crescia a convivência e a amizade. Sempre disponível, quer como sacerdote, quer como pesquisador. De boa vontade procurava atender quem dele precisasse.
História pascal
Na ordenação sacerdotal de Frei Alonso, em Penápolis, Dom Irineu Danelon referiu-se a ele dizendo: “Aos 51 anos Frei Nelson foi convidado a oferecer ao Pai o sacrifício perfeito de si mesmo. Historiador, agora ele compreende bem a história que Deus tinha sobre sua pessoa e, compreendendo esta história, ele está conosco, porque a nossa história é a história pascal, é a história de todo amor sobre qualquer outra força que existe no mundo”.
A Província dos Capuchinhos de São Paulo, seus familiares e amigos sentimos profundamente a sua partida. Que o Senhor da História conceda-lhe a felicidade eterna.