Necrologia

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Frei Epifânio A. Menegazzo

27/07/1906
01/07/2002

Frei Epifânio nasceu em Limeira no dia 27 de julho de 1906. Seu nome de batismo e civil era Antônio Menegazzo. Era filho de Agostinho Menegazzo e Letícia Cia. Foi batizado na igreja de Vila Americana, Tatu, em Limeira, aos 1º de setembro de 1906 e crismado na mesma igreja no dia 10 de fevereiro de 1909. Fez a Primeira Eucaristia na igreja de Santana, São Paulo, em setembro de 1915. Cursou os primeiros estudos no Grupo Escolar de Santana, em São Paulo.

Vocação adulta

Entrou para o Seminário São Fidélis de Piracicaba aos 29 de janeiro de 1930, com 24 anos de idade. Sua profissão era seleiro. Tinha uma selaria num sobradinho atrás da Estação Sorocabana em São Paulo.

Noviciado e profissão

Vestiu o hábito franciscano capuchinho, iniciando o noviciado no convento Sagrado Coração de Jesus, em Piracicaba, no dia 21 de fevereiro de 1932. Foi seu Mestre Frei Felicíssimo de Prada. Fez a profissão temporária perante Frei Jacinto de Prada no convento de noviciado, no dia 26 de fevereiro de 1933. Emitiu a profissão perpétua perante Frei Salvador de Cavêdine, no convento São José de Mococa, aos 1º de março de 1936.

Filosofia, Teologia e Ordenação

Estudou Filosofia em Piracicaba, Mococa e São Paulo, nos anos 1933 a 1935 e Teologia em São Paulo e Mococa, nos anos 1936 a 1939. Recebeu a Primeira Tonsura e duas Ordens Menores conferidas por Dom Alberto José Gonçalves, em São José do Rio Pardo, aos 17 e 18 de agosto de 1937 e as outras Ordens Menores conferidas por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, em São Paulo no dia 6 de março de 1938. Foi ordenado Subdiácono aos 11 de junho de 1938 e Diácono por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, em São Paulo aos 24 de setembro de 1938. Recebeu a Ordenação Sacerdotal pela imposição das mãos, de Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, em São Paulo, no dia 8 de dezembro de 1938.

Mestre de Noviços

Concluídos os estudos em novembro de 1939, aos 7 de dezembro foi ser Vice-Mestre de Noviços no convento Santa Clara de Taubaté. Dois anos depois, em dezembro de 1942 foi nomeado Mestre de Noviços. Por oito anos desempenhou este serviço até dezembro de 1950, sendo nomeado Guardião do convento Santa Clara em Taubaté. De novembro de 1952 a dezembro de 1960 foi Mestre de Noviços em Barcelos, Portugal. De junho de 1955 a junho de 1958, Assistente do Comissário Geral de Portugal e Vice-Guardião do convento. Anos mais tarde, de 17 de janeiro de 1963 a 17 de janeiro de 1964, desempenhou outra vez o serviço de Mestre de Noviços, no convento Santa Clara, em Taubaté. Prestou serviços no noviciado por 20 anos, 3 como Vice-Mestre e 17 anos Mestre de Noviços.

Guardião e Pároco

Frei Epifânio foi Guardião em Taubaté nos anos 1951 e 1952. Em Marília foi Guardião e Pároco, de 1964 a 1969. Em Penápolis, foi Guardião e Pároco de 1975 a 1978.

Outros conventos e paróquias

Além do serviço de Mestre de Noviços, Guardião e Pároco, Frei Epifânio trabalhou em São Paulo, Imaculada Conceição, Piracicaba, no convento Sagrado Coração de Jesus, Santo André, Botucatu e Santos. Em todos estes conventos e paróquias foi Vigário Cooperador, confessor, orientador espiritual e sempre disponível para qualquer atendimento pastoral.

Obediência derradeira

Desde 1985 residia em Taubaté. Participou do último Capítulo Provincial no Seminário São Fidélis, de 13 a 16 de novembro de 2001. No início de 2002 foi para a Fraternidade Nossa Senhora dos Anjos, em Piracicaba, para tratamento de saúde. Aí recebeu a obediência derradeira, o chamado de Deus para a vida na eternidade. Frei Epifânio faleceu na Santa Casa de Piracicaba no dia 1º de julho de 2002, às 2 horas e 10 minutos da madrugada. O atestado de óbito deu como causa da morte: Septicemia, Arritmia Cardíaca, Broncopneumonia. Foi velado na igreja do convento Sagrado Coração de Jesus. Às 10 horas foi celebrada uma missa exequial. Seu corpo foi transladado para Taubaté a pedido de seus familiares.

Às 15 horas do dia 1º de julho, na igreja do convento Santa Clara, foi celebrada a missa exequial presidida por Dom Carmo João Rhoden, SCJ, Bispo diocesano de Taubaté, concelebrada pelo Ministro Provincial, Frei João Alves dos Santos, por vários sacerdotes capuchinhos, sacerdotes diocesanos, com participação dos pós-noviços, postulantes, grande multidão de fiéis, amigos e familiares. Após a celebração exequial, o corpo de Frei Epifânio foi sepultado na capela dos Frades Capuchinhos, no cemitério ao lado do convento Santa Clara, em Taubaté.

Estimado Confessor e Diretor Espiritual

Frei Epifânio era muito estimado como confessor e orientador espiritual, sendo considerado Pai Espiritual pelos fiéis, pelos sacerdotes e religiosas. Foi homem de verdadeira experiência de Deus em fervorosas e continuas orações.

Austeridade de vida

Viveu uma vida de austeridade mostrada em rigorosas abstinências, jejuns e práticas penitenciais, sendo prudente e zeloso com a saúde pessoal e dos outros. Manifestou austeridade na vida de pobreza e obediência. Até o fim da vida, em tudo dependia da obediência aos Superiores.

Gostava de fazer suas férias nos conventos da Província. Celebrava a santa missa de manhã ou nos horários permitidos, tomava refeições, lavava suas roupas pessoais e passava o dia na cela em oração.

Nos conventos onde morou era assim que vivia estando sempre atento ao chamado do porteiro ou ao toque da campainha para o pronto atendimento às confissões ou aconselhamentos na sala conventual.

Comprendia o trabalho como dom divino. Na segunda-feira, dia de folga para o descanso, ele atendia confissões, às vezes, o dia inteiro. Jamais se negava ao atendimento de quem o procurasse. A quem o questionasse sobre o cansaço respondia: “Se Deus me envia trabalho é porque sabe que darei conta”.

Apaixonado pelo Evangelho e por São Francisco

Nos Capítulos e Assembléias Provinciais, nos encontros regionais, reciclagens e retiros da Província, fazia eloqüentes intervenções em que demonstrava amor apaixonado pelo Evangelho, tendo como modelo nosso Seráfico Pai São Francisco ao escrever: “A Regra e Vida dos Frades Menores é esta: observar o Santo Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo vivendo em obediência, sem propriedade e em castidade” (RB, Cap. I).

Em suas cartas e anotações pessoais afirmava com segurança que os Reitores, Diretores de Estudantes, Mestres de Noviços e frades nos conventos deviam ser exemplos vivos do Evangelho, da Regra e das Constituições, como fez São Francisco, Santa Clara e um exuberante catálogo de santos franciscanos e capuchinhos. Nas afirmações orais e escritas, com freqüência, fazia citações do Evangelho e das Cartas dos Apóstolos.

Escreveu e publicou “Opúsculo” sobre a vida de São Francisco, por ocasião do jubileu de sua morte (750 anos), mais uma novena de São Francisco de Assis.

Exemplo de vida capuchina

Frei Epifânio foi um exemplo vivo de simplicidade e alegria franciscana capuchinha. Acreditava e confiava na Providência Divina. Para ele, Deus, o único e supremo Senhor, é tão bom que liberta de todas as preocupações da vida aqueles que se põem ao seu serviço e se abandonam à sua Providência Divina. Nunca se deixava levar pela angústia. Não se inquietava, nem se afligia, mas “buscava em primeiro lugar o Reino de Deus e sua justiça” (Mt 6, 33).

Os problemas da vida não lhe tiravam a alegria de viver. Acordava muito antes dos outros confrades, tomava seu suco de laranja e se dedicava ao seu cultivo espiritual nas primeiras horas da manhã. No convento onde morava e nos outros onde se realizavam encontros fraternos, era o primeiro a comparecer ao coro, à capela para o Ofício Divino e orações da comunidade.

Era muito compreensivo diante das mudanças provocadas pela renovação da Igreja e pelo progresso do mundo atual. Tinha capacidade de abertura ao novo, ao diálogo e de respeitar o diferente sem perder o que para ele era essencial. Participava intensamente de todos os eventos programados e de todos os encontros fraternos da vida da Província.

Gostava de futebol

Sem nenhum prejuízo para sua vida austera de observância regular, de orações e santas meditações, acompanhava o esporte de futebol. Conhecia tudo sobre times, jogadores, técnicos, árbitros atuais e antigos, sendo grande torcedor, especialmente da seleção brasileira quando havia copa mundial. Vibrava quando o Brasil ganhava e sofria com as derrotas. Não pôde torcer na copa de 2002 porque seu estado de saúde não permitia e foi comemorar o “Penta” no céu.

A cura pelo limão

Deixou uma pasta com muitas receitas de medicina caseira, tiradas de revistas, jornais e pequenos impressos. A principal delas, por ele fielmente utilizada, é a cura pelo limão, útil para tantas doenças, desde a simples gripe ao pior dos males. Acreditava que o limão é o remédio da longa vida, prolonga a juventude e afasta a velhice, rejuvenescendo as células do sangue e tecidos.

Frei Epifânio viveu 95 anos e 11 meses de idade. Faleceu no dia 1º de julho de 2002. No dia 27 do mesmo mês completaria 96 anos, sendo 69 de vida religiosa na Ordem Franciscana Capuchinha, 63 anos e 7 meses de ministério sacerdotal.

(Cf. “Vida Freterna” nº 237, 357 e 401. “Regra e Vida” nº 106, pag. 236-238).

Frei Joaquim Dutra Alves, O.F.M. Cap.

Frei Carlos Vendrame

21/01/1920
04/07/1985

Bondade

 

A qualidade característica de Frei Carlos Vendrame era a bondade, afirma seu colega de turma Frei José Antônio Leonel Vieira. Todos nós que o tivemos como Diretor Espiritual e Reitor do Seminário São Fidélis podemos testemunhar sua benevolência, benignidade e magnanimidade. Era de alma nobre e generosa.

 

Dados biográficos

 

Nasceu em Birigüi-SP no dia 21 de janeiro de 1920. Era filho de Antônio Vendrame e Rita Torelli. Foi batizado por Frei Leonardo de Campinas na igreja Imaculada Conceição de Birigui, aos 7 de março de 1920, e crismado por Dom Lúcio Antunes de Souza, Bispo de Botucatu, na capela Santo Antônio de Tupi, aos 2 de dezembro de 1927. Fez os primeiros estudos na escola municipal da fazenda São Roque. Entrou para o Seminário São Fidélis de Piracicaba, com 11 anos de idade, aos 23 de janeiro de 1931.

 

Noviciado e Profissão

 

Vestiu o hábito franciscano capuchinho e iniciou o noviciado no convento Sagrado Coração de Jesus, Piracicaba, aos 3 de fevereiro de 1937. Foi seu Mestre Frei Felicíssimo de Prada. Fez a profissão temporária, em Piracicaba, aos 4 de fevereiro de 1938, perante Frei Eliseu de Cavêdine, na ocasião, Provincial de Trento que visitava a Missão transformada em Custódia Provincial. Emitiu a profissão perpétua perante Frei Plácido Bruschetta no convento São José, Mococa, aos 5 de fevereiro de 1941.

 

Filosofia, Teologia e Ordenação

 

Estudou Filosofia em Mococa nos anos 1938 a 1940 e Teologia em Mococa e São Paulo, de 1941 a 1944. De 10 a 13 de junho de 1942, em Mococa, recebeu a Primeira Tonsura e as Ordens Menores conferidas por Dom Manoel Silveira Delboux, Arcebispo de Ribeirão Preto. Em São Paulo, foi ordenado Subdiácono por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, aos 19 de junho de 1943. Foi ordenado Diácono aos 18 de setembro de 1943. Recebeu a Ordenação Sacerdotal pela imposição das mãos de Dom Frei Luís Maria de Santana, em Botucatu, aos 8 de dezembro de 1943.

 

Formador no Seminário São Fidélis

 

Concluídos os estudos aos 19 de novembro de 1944, em dezembro do mesmo ano Frei Carlos foi transferido para o Seminário São Fidélis de Piracicaba, onde permaneceu seguidamente por 15 anos, sendo aí professor, Prefeito de Disciplina, Diretor Espiritual e Reitor. Com dedicação e alegria teve grande atuação na formação dos candidatos ao sacerdócio e à vida religiosa. Era enérgico, sem deixar de ser carinhoso e bondoso.

 

Professor

 

No seminário, lecionou Português durante 6 anos; Latim, 8 anos; Grego, 8 anos; Matemática, 5 anos; Italiano e Caligrafia, 10 anos.

 

Diretor Espiritual

 

A atuação que mais marcou os aspirantes ao sacerdócio e à vida religiosa foi a direção espiritual concedida por Frei Carlos. Com o Reitor e outros sacerdotes zelava pela vida de oração e sacramental dos seminaristas. Desenvolvia direção espiritual comunitária e individual. Demonstrava zelo extraordinário pela Liturgia. Durante o primeiro semestre do ano, ensinava aos seminaristas iniciantes as funções litúrgicas desempenhadas no Seminário, especialmente o serviço de Acólito. Preparava com perfeição a equipe de Liturgia para as celebrações pontificais da Semana Santa na Catedral e Missas Pontificais em outras igrejas de Piracicaba. A limpeza da capela e da sacristia, a ornamentação dos altares, o zelo com as alfaias sagradas, roquetes, cálices, hóstias, lâmpada do Santíssimo mostravam obediência ao espírito de São Francisco.

No acompanhamento comunitário e individual, insistia na importância da oração, em primeiro lugar, na vida eucarística e devoção à Nossa Senhora para a perseverança na vocação. Aconselhava praticar a caridade, a humildade e a pureza. Recomendava a leitura espiritual a ser feita na “Concordância dos Evangelhos”.

 

Ordem Terceira Franciscana

 

A formação espiritual franciscana começava na Ordem Terceira Franciscana, hoje, OFS. A partir dos 15 anos de idade, os seminaristas eram admitidos à vestição e noviciado na Ordem Terceira Franciscana da Fraternidade do Seminário São Fidélis. O Diretor Espiritual do Seminário dava ótima assistência espiritual aos irmãos terceiros, formando-os no espírito franciscano.

 

Reitor

 

Frei Carlos foi Reitor do Seminário São Fidélis durante seis anos, de 1954 a 1960. Iniciou sua atividade no ano centenário da proclamação do dogma da Imaculada Conceição, em 1854. Era também o primeiro ano da Província de São Paulo. Grande foi o seu trabalho e intenso esforço para levar todos os seminaristas a São Paulo na celebração do centenário da Imaculada Conceição, dia 8 de dezembro de 1954. Atuações como esta marcaram os seis anos de Reitor do Seminário.

 

Vigário Provincial

 

No 2º Capítulo Provincial realizado aos 9 de janeiro de 1957, Frei Carlos foi eleito 1º Definidor e Vigário Provincial. Ocupou o serviço de Definidor Provincial durante 15 anos, sendo 1º Definidor e Vigário Provincial, 12 anos.

 

Guardião e Pároco em São Paulo

 

Em fevereiro de 1960 foi transferido para São Paulo, nomeado Guardião do convento e Pároco da paróquia Imaculada Conceição. Foi Guardião do convento por 3 triênios e Pároco 12 anos. Aí realizou muitas obras, como a continuação das reformas da igreja paroquial, o aumento do convento para abrigar os Estudantes de Teologia e construção do prédio do SASM, posteriormente transformado em SESIC, com auxílio da “Misereor”.

 

Penápolis, Sapopemba, Marília e Piracicaba

 

De São Paulo, Frei Carlos recebeu transferência para Penápolis em fevereiro de 1969, como Guardião do convento e Pároco da paróquia São Francisco de Assis. Aí permaneceu até janeiro de 1972, sendo transferido para Sapopemba, São Paulo, como Vice-Guardião e Pároco na paróquia Nossa Senhora de Fátima, na região leste de São Paulo. Sofreu muito naquela paróquia de periferia, mas ficou feliz no serviço aos pobres.

Em janeiro de 1975, pela quarta vez foi eleito Vigário Provincial. Depois de um triênio novamente em São Paulo, como Guardião do convento e Pároco da paróquia Imaculada Conceição, recebeu transferência para a paróquia São Miguel Arcanjo de Marília-SP. Aí foi Guardião e Pároco até janeiro de 1981, quando foi transferido para o Seminário São Fidélis de Piracicaba, como Guardião. Permaneceu apenas um ano no Seminário e transferiu-se para o convento Sagrado Coração de Jesus de Piracicaba, sendo Pároco da paróquia Santa Catarina na mesma cidade.

 

Derrame Cerebral

 

Quando exercia as funções de Pároco na paróquia Santa Catarina, em Piracicaba, dois anos antes de sua morte, sofreu um derrame cerebral que o deixou prostrado no leito, na cadeira de rodas, quase impossibilitado de falar e caminhar. Sem nunca lhe ter faltado o carinho e atenção dos confrades, muitos deles seus ex-alunos, dos amigos e antigos paroquianos, faleceu aos 4 de julho de 1985. Completara 65 anos de idade, sendo 48 como religioso franciscano capuchinho e quase 42 anos de ministério sacerdotal a serviço da Santa Igreja. Foi sepultado no Cemitério da Saudade de Piracicaba no Jazigo dos Frades Capuchinhos.

 

Catequista

 

No arquivo da Província, com sua ficha e documentos pessoais, encontram-se oito cadernos com suas homilias escritas. Desde a reforma litúrgica apresentada nos anos A, B e C, teve o cuidado e zelo de escrever as homilias de todos os domingos. Nelas, apresenta uma verdadeira catequese baseada na Palavra de Deus no estilo de perguntas e respostas. Nas suas pregrações, era de fato um extraordinário catequista, especialmente nas missas das crianças. A catequese a partir da Palavra de Deus está muito semelhante ao Catecismo da Igreja Católica publicado em 1993.
Muitos padres atuais da nossa Província devemos grande parte da nossa formação ao Frei Carlos Vendrame.
Dois irmãos capuchinhos
Frei Carlos era irmão de Frei José Vendrame. Era mais novo do que Frei José (+1998). Mesmo sendo mais novo, faleceu 13 anos antes do seu irmão. “Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus” (Mt. 5,12).

Frei Joaquim Dutra Alves, O.F.M. Cap.

Frei Celestino Cristofolini

13/10/1914
08/07/1982

Frei Celestino Cristofolini (Heitor Lívio Bertoldi) nasceu em Itu, na paróquia Nossa Senhora da Candelária, aos 13 de outubro de 1914. Filho de Jacó Cristofolini e Rosa Bertoldi. Foi batizado aos 25 de outubro, na mesma paróquia, pelo Padre Eliziário de Camargo Barros. Crismado em Itu, aos 15 de abril de 1924 por Dom Antônio Augusto de Assis. Primeira comunhão no dia 6 de setembro de 1923, na capela do Externato São José. Entrou para o seminário seráfico aos 13 de maio de 1926, em São Paulo. Vestiu o hábito em Piracicaba aos 21 de fevereiro de 1932, sendo mestre Frei Felicíssimo. Votos simples em Piracicaba aos 26 de fevereiro de 1933; solenes, em Mococa, a lº de março de 1936, perante Frei Salvador de Cavêdine. Estudos filosóficos em São Paulo, Piracicaba e Mococa, de 1933 a 1935; - teológicos, em Mococa e São Paulo, de 1936 a 1939. Ordenado diácono aos 24 de setembro de 1938, por Dom José Gaspar de Afonseca e Silva, em São Paulo. Ondenação aos 8 de dezembro de 1938 pelo mesmo Dom José. Recebeu as ordens menores em São José do Rio Pardo e em São Paulo.

Seu primeiro campo de apostolado foi Mococa, a partir de dezembro de 1939. Ali exerceu o magistério de Direito Canônico e Santa Escritura. Posteriormente, em 1942, o mesmo magistério em São Paulo. Aos 10 de janeiro de 1945 partia para o Alto Solimões, Amazonas, com Frei Felix de R. das Pedras e Frei Timóteo de Porangaba. Ali ficou por 2 anos, voltando aos 17 de fevereiro de 1947, quando está em Mococa como professor. Em janeiro de 1948 é transferido para Botucatu, como superior local. Após breve residência em Mococa, serviu como Assistente da Colônia Mamparra, em São Paulo (1951-1953). Em 1954, vigário de Glicério, residindo em Penápolis. Por um ano, em 1957, foi vigário de Pereira Barreto. Em janeiro de 1959, cooperador no Embaré, em Santos. Aos 10 de fevereiro de 1959 parte para Roma, como vice-secretário na Cúria Geral. Lá permanece até outubro de 1970 quando está de volta, indo residir em Marília. Posteriormente, reside em Santos e Pereira Barreto (1975). Em 1978, Santos; e em 1981, Pereira Barreto. Quando em Marília (dezembro 1970 a janeiro 1975) foi Chanceler da Cúria.

Frei Celestino distinguiu-se como bom pregador, pelo caráter catequético usado. Como professor, seguia o rigor de alguns mestres que o influenciaram, fazendo valer a autoridade. Já há vários anos sofria de diabete. Mais recentemente teve implante de marca-passo. Em meados de maio do ano de 1982, estando em Botucatu fazendo terapia, teve fortes crises de prostatite que agravaram sua saúde, com muito sofrimento para ele e muita preocupação para os que dele tratavam.

Após tratamentos até final de junho, em Botucatu, no dia 30 foi para São Paulo. De nada valeram os cuidados médicos, pois, internado no Hospital Santa Catarina teve parada cardíaca.

Permaneceu na U.T.I. até dia 7 de julho à noite. Sua situação veio a piorar, falecendo às 13,15 do dia 8 de julho de 1982.

Após missa de corpo presente e exéquias litúrgicas foi sepultado no cemitério do Santíssimo Sacramento, em São Paulo, no jazigo dos capuchinhos.

(Cf. R.V. dezembro 1982, p. 145; - REB, dezembro 1982, v. 42, p. 830). (Cf. também AOMC, 99, 181).

Frei Paulo Maria de Sorocaba

24/06/1873
11/07/1955

Quando muitos de nós éramos pequenos seminaristas, todos os dias passávamos, em fila, diante de uma porta que mostrava um cartão com a inscrição: Frei Paulo Maria de Sorocaba. Era a humilde cela de Frei Paulo, ao lado da capela do Seminário. Sempre modesto, sempre recolhido, quase se arrastando pelos corredores para ir dar-nos suas aulas de desenho e atender os inúmeros alunos da cidade.

Frei Paulo (João Batista de Melo) nasceu em Sorocaba, na antiga rua Santa Cruz da Composição. “Era a noite de São João, a mais curta e a mais fria do ano. Na sala de ensaio da banda “7 de setembro”, dirigida pelo dono da casa e seu maestro fundador Pedro Rodrigues de Melo, que a iniciara com sete músicos e havia de regê-la 36 anos e pouco, não se ouvia som de instrumento; mas, por certo que os figurantes da banda se espalhavam por aí, nos solares da serra de São Francisco e nas chácaras do Cerrado, festejando São João Batista. Os vendeiros portugueses não deixaram de colocar o sortimento de foguetes, busca-pés, pistolões, bombinhas, rodas, e em todas as frentes das casas e terreiros, as caieiras iluminavam rostos afogueados correndo de cá para lá. Balões a valer singravam os céus sorocabanos despedindo lágrimas de fogo e coloridas. No silêncio momentâneo estouravam ao longe as ronqueiras como pequenas peças de artilharia. Enfim, amanheceu o dia 24 e na casa do maestro Pedro chorou o terceiro filho que, evidentemente, levou à pia o nome de João Batista. Era o ano de 1873.

“João Batista teve por quem puxar: pai e mãe. Aprendidas as primeiras letras, talvez com o cônego Antônio Augusto Lessa, começou a enamorar-se do violino do pai, aos nove anos. O pai lhe emprestava o próprio instrumento que o filho conservou consigo, mas mandou-o ensinar por um de fora, mestre Salustiano Zeferino de Santana, afamado violinista que de qualquer rebeca tirava os sons mais suaves. E então, o menino freqüentou o presépio, principalmente os do avô materno, o armador José de Pinho. Começou a fazer figurinhas. Mais tarde armou presépios inteiros. Fazia-os com devoção intensa, pois freqüentava a igreja e os sacramentos; deliciava-se ouvindo bons pregadores e já sonhava com uma existência a serviço de Deus.

“Aos 10 anos, João Batista começou a rabiscar papéis. Apaixonou-se pelo desenho e pintura. Certo senhor Esmiel (perdeu-se o nome inteiro), em 1885 deu-lhe valiosas lições de Desenho linear, curvas, retas, circunferências tudo a mão livre, sem compasso. Era engenheiro mecânico e saiu para uma fazenda. Foi quando, aí por 1886, o menino João Batista passou a receber lições de Antônio José da Rosa, que residia há tempos em Sorocaba, onde se casara, mas era fluminense de São João Marcos. Ourives de profissão, era desenhista entalhador e músico. Deu a João Batista todas as lições de Desenho a “crayon”, de método de desenho, de gravuras litografadas e de retratos e fotografias. Mas também esse mestre mudou-se de Sorocaba. Os amigos ricos da família reuniram-se e resolveram enviar o menino à Europa, custeando-lhe os estudos. O menino, porém, sentia no âmago da alma a atração pelo Poverello de Assis e a Ordem Franciscana. De 1887 a 1891, sem esquecer o desenho e a pintura, João Batista se empregou com um tio materno a pintar paredes, imitando madeira e mármore, informação que assinala o abandono do papel pintado e a melhoria de ornatos nas nossas antigas salas de visita e de jantar. E nos oito anos seguintes o pintorzinho trabalhou, sem sair de casa, a arte fotográfica”.

Por esses tempos, “o artesanato estava no auge. A sede de instrução manifestava-se no desenvolvimento do “Gabinete de Leituras” e .de vários jornais. A arte ia aparecendo em forma de bandas de música e orquestras de igreja e de teatros e bailes. O Teatro São Rafael, fundado em 1844, recebia companhias líricas e artistas famosos. Uma sociedade elegante de ricas famílias e seus genros portugueses dava à cidade o tom civilizado e solene dos fraques, casacas e cartolas e das saias-balão. Nem faltavam seresteiros em noites de luar, repetindo o “Perdão, Emília”, fazendo apostas de cantar no portão do cemitério que branqueava lá no alto do Piques. Faziam-se ainda belas festas religiosas, como a Semana Santa e a do Divino, ou cívico-religiosas como a de 2 de dezembro, aniversário de Pedro II. Corriam-se cavalhadas, toureavam-se bois bravios, coroavam-se reis congos. A seu tempo as folias de Reis e do Divino corriam os bairros e o centro da cidade, principalmente aquelas, visitando presépios. Célebres presépios com figurinhas de barro, esculpidas por artistas primitivos e armados tradicionalmente, anos repetidos, em casas de famílias de classe hoje chamada média, que os de mais alto coturno já davam muita importância a certos artigos anticlericais e festejavam o seu Natal na loja Perseverança III... (*)”

Tal o ambiente de infância de Frei Paulo. Como ele mesmo escreveu em folhas esparsas, “desde menino eu sentia atração para São Francisco de Assis. Meu pai contava algo a respeito dos capuchinhos do seminário de São Paulo, os quais eram capelães do convento de Santa Clara, em Sorocaba. Desejava ser frade. Diziam-me, porém, que brasileiro não o podia: era proibido por lei do Império (lei feita mas não aprovada). Como eu gostasse de desenho, os amigos de meu pai queriam mandar-me estudar na Europa; meu pai permitia de boa vontade; minha mãe era um pouco contrária. Eu, sempre fraco, adoentado, medroso e acanhado, não tinha muita vontade. Mas Deus Nosso Senhor me preservou dos perigos que podia encontrar na escola de desenho, pintura etc. Ele me guardava para ser filho de São Francisco, seu querido imitador...

“A 30 de outubro de 1899 faleceu meu pai. Como eu estava noite e dia à sua cabeceira, nesse mesmo dia resolvi entrar no convento. Após trabalhos e todas as dificuldades que se podem imaginar – sempre, porém, com a esperança de conseguir – a 25 de dezembro desse mesmo ano fui a São Paulo, ao convento de São Francisco, onde me atendeu Frei Vicente de San Giacomo que chamou o Superior, Frei Bernardino de Lavalle, Comissário Provincial. Como achasse que eu não suportaria o rigor da Ordem, aconselhou-me a ir ter com os Salesianos ou Jesuítas. – ‘Nós, para irmãos, já temos muitos, disse, e para estudar só sendo menino’. – (Ele pensava que eu desejava estudar, ao passo que eu tinha vontade de ser irmão leigo, sendo já minha idade longa)...

“Oh, que decepção! Voltei para Sorocaba triste, mas sempre com esperança. Nesse tempo começou em Sorocaba a epidemia de febre amarela, da qual fui vítima, ficando muito mal. O confessor que chamei disse-me, entretanto, que eu não morreria, pois ainda havia de ser religioso capuchinho. Tendo sarado, lembrei-me de escrever para o cônego Lessa, que já havia anos residia em São Paulo e era amigo de nossa família. Depois de ter falado com Frei Bernardino, escreveu-me fazendo-me ver os deveres do irmão capuchinho: cozinhar, lavar, varrer etc. Se eu queria sujeitar-me podia vir e experimentar se agüentaria.

“Respondi que com a graça de Deus estava pronto para tudo... Ah! Como senti o coração bater forte de contentamento! Chegado o dia da partida meu irmão casado me acompanhou até à estação, abraçamo-nos e pronto.

Em São Paulo o Cônego levou-me à igreja de São Francisco da Ordem Terceira. Era o dia 2 de agosto de 1900 e conduziu-me à igreja de Santo Antônio para lucrar a indulgência de Porciúncula. No convento de São Francisco o Padre Frei Bernardino de Lavalle mostrou-se contentíssimo. Lembrei- me do que ele me dissera em dezembro – é melhor ir com os Jesuítas – e então me veio à mente que, em pequeno, meu pai, que era alfaiate, fazia batinas para coroinhas e eu servia de manequim. Minha mãe olhava e dizia: ‘Parece Jesuíta. Magro como santo de roça, que é só rosto, mãos, e o mais, sarrafos”.

“Dia 6 Frei Bernardino me levou a Piracicaba, aonde chegamos à tarde. Depois do jantar fui entregue ao Padre Mestre de Noviços Frei Félix de Lavalle. Já no dia 7 de manhã comecei a ajudar na cozinha, lavar, serrar lenha etc. e assistir conferências do Padre Mestre. Dia 11, cerca das 4,30 da tarde, foi a vestição, quando deixei o João Batista de Melo para receber Frei Paulo Maria de Sorocaba. Era vigília de Santa Clara. – ‘Então, Frei Paulo, vamos experimentar? Você acostumará? Agüentará?’ – Oh! Se Deus quiser, com sua santa graça, havemos de perseverar. Irmãos, parentes, conhecidos e colegas: adeus!”
Os primeiros anos de Vida Religiosa Frei Paulo passou em Taubaté, como cozinheiro. Nos momentos livres dedicava-se à música e à pintura, sob obediência dos superiores. Em 1903 é enviado como Catequista missionário aos sertões de Campos Novos do Paranapanema, onde, a 28 de agosto de 1904 professa solenemente em pleno sertão, perante Frei Daniel de Santa Maria. Dali volta doente para São Paulo, em dezembro de 1906, e passa a exercer o ofício de porteiro e sacristão no Convento Imaculada. No mês de janeiro de 1908, obedecendo à Congregação Comissarial e Frei Camilo de Valda, transfere-se para o Convento do Largo São Francisco. Ali permanece até 13 de fevereiro de 1909, quando os capuchinhos deixam definitivamente aquela casa.

Ciente dos dotes artísticos do humilde irmão, o superior Frei Afonso de Condino resolve mandá-lo à Europa. Frei Paulo parte para Trento no ano de 1912. Lá se dedica à pintura sob orientação do célebre pintor Camilo Bernardi, da Escola de Munique. Em Rovereto recebe lições de Antônio Meyer, da Escola de Veneza. Torna-se amigo de outros pintores: Antonelli, Chiocheto, e outros. No convento de Trento executa seu primeiro afresco: São João Nepomuceno. Deixa ali e no seminário seráfico o original “São Francisco dormindo” e muitos outros quadros. Em Rovereto executou, a mão livre, uma ceia de Da Vinci, tela que foi furtada durante a guerra de 1914.

Deixou, ainda, na Europa, dezenas de quadros e retratos de ilustres personagens. Em visita de estudos às igrejas de Veneza, pôde apreciar telas de Ticiano, Veronese, dos Belini, de Tintoretto.. Visitou também a cidade de Pádua e Loreto. Em Assis estudou as obras de Giotto e de Giottino. Seguindo para Roma, recebeu a bênção de São Pio X. Apreciou Murillo e Michelangelo, a Pinacoteca... Passou por Veneza e Milão, retornando à pátria em fins de 1913. Passados dois meses em São Paulo, foi para o Convento de Piracicaba onde permaneceu por 10 anos. Mais tarde residiu em Botucatu (1923) e Santos. Finalmente, a 10 de dezembro de 1928 está entre o primeiro corpo docente que inaugura o Seminário Seráfico São Fidélis em Piracicaba, onde residiu até o final de sua vida. Centenas de quadros e obras de Frei Paulo estão espalhados por nossos conventos no Estado. Em seu atelier aparecia um pouco de tudo: terra cota, paisagens e natureza morta, a óleo, aquarela, bico de pena, crayon, carvão... Além das aulas aos seminaristas, desde 1928, ensinava também graciosamente os alunos da cidade, e que hoje são artistas considerados, como: Angelino Stella, Eugênio Nardin, Manoel Martho, Álvaro Sega, e outros muitos que seria longo enumerar.

Frei Paulo foi também músico de destaque. Entre suas muitas e apreciadas composições temos: “Oremus pro Pontifice”- “Ano Novo”- “Jubileu de Ouro”- “Alvorada de São Fidélis” - “Oremus pro Antistite”- “Entrada de Maio” “Stabat Mater”.

Sempre franzino e perseguido por doenças, Frei Paulo encontrava tempo ainda para construção de meridianos e relógios solares. Averiguou com precisão um deslocamento do Eixo da Terra, anunciado pelos cientistas. Estudava e desenhava fases de eclipses. E nós, que fomos seus alunos, nos lembraremos sempre de sua dedicação, humildade e paciência como professor, tolerando a normal indisciplina, pedindo silêncio que ninguém fazia em suas aulas. Ao lado do artista, ou melhor, encerrando o artista, o homem inocente e místico exemplo de trabalho e de oração,continuamente unido a Deus. Conservamos sempre em nós aquela imagem serena de um mestre, não apenas professor, a encher nossas vidas de exemplos na paz e na bondade, nas belas músicas que executava em seu violino e nos belos quadros que invejávamos...

Participou de muitas exposições. As muitas correspondências que recebia e que se conservaram, nos dão uma idéia do quanto Frei Paulo era estimado e admirado, não somente pelos seus dotes, mas especialmente pela aura de espiritualidade que o envolvia.

Em 1954, em Piracicaba, no 2º salão de Belas Artes, foi premiada sua obra “Caveira”, atualmente no Seminário Seráfico. No dia 2 de maio do mesmo ano, foi recebido solenemente e cumprimentado no Museu Sorocabano, onde deixou quatro telas de sua autoria. E como homenagem dos Sorocabanos, o mesmo museu contém “uma maço de madeira da casa onde nasceu Frei Paulo”...

Sobre seu estilo temos uma apreciação de Antônio Osvaldo Ferraz no “Jornal de Piracicaba” de 7 de novembro de 1943, sob o título “Um pintor original” e que já publicamos no livreto “Frei Paulo de Sorocaba – 1873 - 24 de junho - 1973. Centenário do Nascimento” –.

Aos 12 de agosto de 1950, Frei Paulo comemorou, juntamente com seus confrades e amigos, o Jubileu de Ouro de Vida Religiosa, com a presença de seu grande amigo Dom José Carlos de Aguirre, bispo de sua cidade natal. Em 1954, acamado, celebrou alegremente os 50 anos de profissão solene. Seu estado de saúde foi sempre mais se abalando. Resignado e dócil à vontade divina fazia dos sofrimentos e da vida uma holocausto. Após longa enfermidade, agravada por uma queda, faleceu santamente a 11 de julho de 1955, no Seminário São Fidélis em Piracicaba. Ali residia há 27 anos e tinha 82 anos de idade. Sobre sua vida, assim resumia o documento “Regra e Vida”, órgão oficial:

...”Durante seus 55 anos de vida religiosa foi sempre um modelo de Irmão Leigo Capuchinho. Fiel aos seus propósitos do santo Noviciado, vivia para a oração, obediência e trabalho. A sua figura de religioso humilde e piedoso há de ficar registrada na História de nossa Província e de nossa Ordem como um exemplo vivo e perseverante. Com todos amável, humilde e serviçal; penetrado de viva fé em relação aos sacerdotes, zeloso pela santa Pobreza, desapegado, deixou-nos, nas últimas cartas escritas aos superiores, verdadeiros documentos de humildade e espírito de obediência. Aos 80 anos escrevia ao Superior Provincial: ‘Eu desejava um ajudante para lhe explicar e mostrar tudo: tinta, lápis, papéis crayon, pastas, livros, tudo da Ordem,do Seminário. Eu só tenho pecados e faltas. Desejo entregar tudo antes de morrer. Espero na Divina Providência e Proteção de Nossa Senhora Imaculada”... (cf. “Regra e Vida”- Ano VI - nº 1 - p. 5.). (A.F. 1955 - pp. 246-247.)

Frei Paulo será sempre lembrado por seus dotes e mais ainda, por suas virtudes.

Por ocasião do Centenário de seu nascimento, a Ordem e seus ex-alunos piracicabanos realizaram celebrações religiosas e culturais muito bem elaboradas e programadas. Já aos 4 de maio de 1973 o Prefeito Adílson Maluf trazia tais comemorações para o âmbito municipal e oficial, nomeando uma Comissão para o Centenário. Constituíram-na Archimedes Dutra, Jairo Ribeiro de Matos, Lino Vitti, Eugênio Nardin e Angelino Stella. Outra portaria nomeia comissão para elaborar Regulamento da Pinacoteca Municipal. Foram designados: Jairo R. de Matos, Frederico A. Brauw, Archimedes Dutra, Ermelindo Nardin, Guilherme Vitti.

Oficialmente foram determinados os dias 18 a 24 de junho de 1973 para a SEMANA FREI PAULO MARIA DE SOROCABA, quando houve grande Exposição de pinturas e obras artísticas na Pinacoteca Municipal.

Dessas obras, 52 (cinqüenta e duas) eram de autoria de Frei Paulo; 39 (trinta e nove), eram de seus ex-alunos; 17 (dezessete), de outros artistas piracicabanos; as demais, pertenciam ao acervo municipal.

Foi uma semana de grande participação e envolvimento de toda a comunidade piracicabana que lembrou-se, saudosa, da figura humilde e cara do artista Frei Paulo. Posteriormente a Exposição protelou-se até lº de julho, aumentando a freqüência de seus admiradores.

Aos 28 de junho, o deputado Francisco Antônio Coelho requeria fosse consignado em Atas um voto de congratulações com o povo piracicabano pelo brilhantismo com que comemorou a SEMANA DE FREI PAULO M. DE SOROCABA.

A Igreja Sagrado Coração de Jesus e a comunidade capuchinha programaram também celebrações religiosas, entre as quais solene missa no dia 24 de junho, data do nascimento do artista. Foi presidida pelo Sr. Bispo Dom Aníger Francisco M. Melilo, concelebrada pelos superiores e demais frades. Abrilhantou a cerimônia, o coral de Ernest Mahle. Os restos mortais de Frei Paul ficaram expostos no Presbitério, durante as funções. Convidado pelo guardião Frei Saul Peron, o Mons. José Nardin proferiu eloqüente sermão.

Muitos jornais deram cobertura aos acontecimentos: DIÁRIO DE PIRACICABA, JORNAL DE PIRACICABA, o CRUZEIRO DO SUL, de Sorocaba, DIÁRIO DE SÃO PAULO... Os recortes alusivos conservam-se nos arquivos do convento de Piracicaba.

Podemos encerrar esses dados sobre Frei Paulo, com as palavras que constam no Livro Tombo do convento de Piracicaba:... “em tudo o que se disse ou se escreveu sobre Frei Paulo, destaca-se a admiração profunda pela pessoa marcante do frade capuchinho, obediente, pobre, humilde e caridoso. De fato, se ele conseguiu ser um grande artista expressando nas telas e paredes o belo, ele foi muito mais artista imprimindo na sua pessoa, na sua vida, a imagem perfeita do grande Artista e Santo Francisco de Assis”. (3º Livro-Tombo local, fls. 68v). Frei Frederico Lorenzi sintetizou muito bem nessas expressões, o que foi o Centenário de Frei Paulo... (Cf. AOMC, 71, 220).

FREI PAULO é nome de Rua em São Paulo e em Piracicaba.

(*) ALUÍSIO DE ALMEIDA, em JORNAL DE PIRACICABA, 7 abril 1948, pp. 1-2. Cf. também O ESTADO DE SÃO PAULO, 6 de abril-1948, artigo re-publicado por várias ocasiões.

Frei Modesto de Taubaté

03/10/1884
11/07/1960

Frei Modesto de Taubaté (Francisco Miguel Gonçalves de Rezende), filho de Paulino José Gonçalves e de Cecília Maria de Rezende, nasceu aos 3 de outubro de 1884. Foi batiza do no dia 15, pelo Padre Antônio do Nascimento Castro. Crismado a 7 de abril de 1897 por Dom José Pereira da Silva Barros, no palácio episcopal. Primeira comunhão no convento Santa Clara, aos 16 de julho de 1893.

Fez seus estudos ginasiais no Colégio Sagrado Coração de Jesus, em Taubaté, de 1897 a 1900. Não freqüentou o Colégio Seráfico mais que uma semana. E salientava isso, não sabemos porque...

Vestiu o hábito em Piracicaba aos 13 de junho de 1900, tendo como Mestre Frei Félix de Lavalle, fundador da Missão. Votos solenes na mesma cidade, aos 21 de junho de 1904, perante Frei Bernardino de Lavalle, comissário provincial. Estudos filosóficos em Piracicaba, de 1901 a 1903. Teologia também nessa cidade (1904 e 1905) e em São Paulo (1906 e 1907). Recebeu a Ordem do Diaconato na antiga Sé paulistana a 13 de janeiro de 1907, das mãos de Dom José Marcondes Homem de Mello. Na mesma Sé foi ordenado sacerdote por Dom Duarte Leopoldo e Silva, a 16 de junho de 1907; foram as últimas ordenações na antiga Catedral. Concluiu os estudos no fim do ano de 1907.

No ano seguinte já lecionava Latim, Dogmática, Eloqüência Sagrada para seus colegas clérigos. Em 1909 foi residir em Piracicaba. Já em abril foi residir em Botucatu, para acompanhar o bispo diocesano Dom Lúcio Antunes de Souza em suas visitas pastorais e praticamente inaugurando aquela nova residência dos frades. Depois, residiu em São Paulo por certo tempo. Aos 27 de julho de 1911 está novamente em Botucatu onde exerce ofício de guardião até 1914, e acumulando o ofício de Secretário do Bispado, Consultor diocesano (1911 a 1916), Cura da Catedral (por um ano). Foi também Procurador da Mitra, por dois anos, e Governador do Bispado, por seis meses.

Como superior em Botucatu, deu início à igreja Na. Sra. de Lourdes. Aos 30 de julho de 1914 vai para as Missões às margens do Ribeirão das Marrecas, próximo aos Xavantes e Coroados. De junho a dezembro de 1920 foi visitador na Diocese de Botucatu, sendo oficialmente nomeado para tal cargo em maio de 1923, com honras de Monsenhor. Consultado pelo Núncio Apostólico, fez as demarcações das dioceses de Sorocaba, Cafelândia e Assis e prestou valiosas informações sobre a diocese de Santos (4 de julho de 1924), conhecedor que era dessas regiões pelas suas andanças em visita com Dom Lúcio.

Paroquiou as freguesias de Bofete, Embú (onde construíu casa paroquial), Praínha, Juquiá, Catedral de Botucatu, Vila Rezende de Piracicaba (onde renovou e reanimou a juventude católica e a catequese paroquial em 1919, ao substituir o vigário). Foi cura da Catedral de Lorena( 1915) e vigário geral em Taubaté (1941), cargos que exerceu por nomeação especial.

Muito bem informado sobre a diocese de Botucatu e seus problemas, em junho de 1938 atendeu um emissário do Papa, o Arquiabade de Treves, o qual estava a colher informações sigilosas.

Foi redator da Revista “Anais Franciscanos” (1915-1916; -1930-1931) e diretor do Externato de Piracicaba (1924-1926). Como delegado provincial da O.F.S. visitou as fraternidades de Taubaté, Caçapava, Itapetininga, Avaré, Botucatu, Barretos, Araraquara, Atibaia, Jundiaí, Franca, Palmeiras, Campinas.

Com Dom Lúcio e comitiva, visitou a extensíssima diocese de Botucatu por várias vezes; visitou-a também sozinho, em nome do bispo, ressaltando-se que Botucatu abrangia, de início, também a atual diocese de Santos, além das atuais dioceses de Lins, Assis, Bauru, e outras. Frei Modesto registra uma intensa e extensa visita feita com Dom Lúcio, de 24 de abril de 1909 a lº de maio de 1910. De trem, a cavalo ou em troles visitaram 66 freguesias e paróquias (providas ou não de vigário). Deixou interessante relato das peripécias dessas viagens, descrevendo a situação geral de cada localidade visitada, como também de seus bons ou maus pastores.

Consignamos aqui algumas das Missões pregadas por Frei Modesto e seus companheiros:

Aos 16 de abril de 1921 dá início a grandes missões em Santa Bárbara, Americana, Ressaca, Monte-Mór, Valinhos, Rebouças, Rocinha. Teve como companheiro Frei Liberato de Gries e chegaram a Santa Bárbara após várias horas de trole.

Em 1920 missionara por cerca de 20 dias as capelas e o Centro de Ribeirão Preto, com Frei Afonso de Condino. Em 1922, grandes missões no litoral paulista, com Frei Tiago de Cavêdine. Partem de São Paulo dia 26 de junho, e após uma parada em Santos missionam Juquiá, Xiririca, Porto Cabral, Capinzal, Araquara, Pinduva, Costão do Ribeira, Juréia, Rio Verde, Barra do Icaparra, Iguape. Ao todo, um mês e meio, pregando e atendendo o povo. Quatro mil confissões, 156 casamentos legitimados ou realizados. Somente os dois poderiam contar o quanto sofreram nessas missões, entre doenças e mil privações...

De 24 de julho a 19 de setembro de 1923, com Frei Vito, novamente missiona o litoral, em visita pastoral: Iguape, Eldorado Paulista, Itaúna, Iporanga, Apiaí, Itapeva. Sobre tudo o que realizou prestou minuciosas contas ao Bispo amigo Dom Lúcio, o qual veio a falecer a 19 de outubro desse ano.

Em 1926, Santos tem seu bispo: Dom José M. Parreiras. Sabedor da grande atividade missionária dos capuchinhos pede que Frei Modesto e Frei Lourenço missionem novamente a diocese. Partem para São Vicente aos 24 de abril desse ano, percorrendo São Vicente, Itanhaém, Peruíbe, Itariri, Alecrim, Praínha, Juquiá, Ariri, Cananéia, Iguape, Santo Agostinho, Registro, Sete Barras, Eldorado, até 20 de setembro... Igualmente aqui, somente os dois missionários poderiam relatar os sacrifícios feitos nessa longa peregrinação por terra e mar, a pé, em canoa, em trole... sãos e doentes...

No ano seguinte, 1927, Frei Modesto missiona São João da Boa Vista, Barro Preto, Alfenas, Gimirim, Barra, Paço Fundo, Quatis, Areia, Conceição Aparecida, Lambari, Carvalho, Fama, localidades de Minas e de São Paulo. Isso, de 10 de abril a 27 de junho.

Mas, as visitas pastorais de Frei Modesto não se reduzem a São Paulo. Visitou toda a diocese de Guaxupé, por vezes acompanhando o bispo, ou em nome dele. Nove bispos tiveram o auxílio de Frei Modesto em suas visitas.

Era apreciado pregador, catequista, músico, poeta, historiador. Compôs mais de 50 peças musicais a uma, duas ou três vozes. Escreveu livros de piedade. Amou a Ordem. Contou-lhe as glórias de quatro séculos, escrevendo, de parceria com Frei Fidélis, OS MISSIONÁRIOS CAPUCHINHOS NO BRASIL e CAPUCHINHOS EM TERRA DE SANTA CRUZ. Sobre seu apostolado predileto, escreveu: COMO PREGAREMOS AS MISSÕES (1937) e NA ESCOLA DAS MISSÕES (1955), onde conta as mais interessantes experiências nesse apostolado popular. Colaborou também com artigos em revistas e jornais.

Seu “Diário de Missas” é um contínuo desfile de nomes de cidades em que pregou missões, novenas, tríduos, retiros, para as mais diversas classes de pessoas: religiosos, seminaristas, padres, associações, colégios etc. Apenas para um visual, damos aqui algumas anotações de seu Diário, e nas quais percebemos por quantos locais transitava no mesmo mês:

1928: - Julho: Pouso Alegre, Alfenas, Fama, Conceição Aparecida, Barro Preto, Santa Rita do Sapucaí, Campinas, São Paulo, Caxambu...
Em Setembro: - Passos, Alpinópolis, Carmo do Rio Claro, Conceição Aparecida, Campinas, Itapira, Jacutinga, Esp. Santo Pinhal, Atibaia.
1929: Outubro: - São Paulo, Barretos, Botucatu, Taubaté, Aparecida, Carmo do Rio Claro, Monte Belo, Colônia Mineira (Paraná): três Estados...
1933: Agosto: - Poloni, Colombo, M. Aprazível, Macaúbas, Montedouro, Sebastianópolis, Nhandeara, Castilhos, Araçatuba, Penápolis...
Esses poucos exemplos de cidades percorridas pelo missionário em um mês apenas, nos dão a idéia de seu Diário, todo um tecido de cidades visitadas, percorridas, levando sempre a Palavra Divina... Grande missionário!

Frei Modesto tinha o dom de conversar e relacionar-se com os irmãos protestantes. Nunca os atacou. Com eles fez muitas amizades e com eles gostava de trocar idéias. Conforme Frei Epifânio, que o conheceu bem, Frei Modesto tinha muita facilidade para pregar, voz clara e bonita. Muito comunicativo. Ressentia-se muito quando algo não lhe agradava e o dizia para quem quisesse ouvi-lo. E guardava ressentimento. Era moreno escuro, trigueiro. Tinha uma técnica especial para atrair as pessoas às Missões: ajuntava os meninos, ensinava-lhes cânticos e percorria a cidade cantando e avisando a hora do sermão... Sua missa era rápida, cerca de 20 minutos, pois como dizia, “no altar é para se rezar, não para se dormir”. Seu irmão Frei Ângelo era o oposto, pois sua missa era de 45 minutos, “pois no altar não se deve correr”...

Deixou interessantíssimos escritos sobre suas peregrinações apostólicas, com finas e argutas observações que nos dão uma idéia exata de lugares e pessoas da época. Está registrado em seu necrológio:

“Dono de invejável cultura lingüística, religiosa e humanística, suas pregações e conferências faziam sucesso e deixavam marca nas almas. Não contente de semear a palavra de Deus pela pregação, deixou várias obras escritas, num belo estilo e repletas de sabedoria. Foi professor de numerosas gerações de frades da Província de São Paulo, que ainda o veneravam como o “Padre Mestre”. E das qualidades artísticas de Frei Modesto, nem falemos. Quantas peças de música religiosa deixou espalhadas pelos seus caminhos de missionário, pelas casas religiosas; quantas poesias de puro quilate deixou escritas, espalhadas por aqui e ali. Mas Frei Modesto era muito despretensioso; suas produções não viram publicação e até se perderam, infelizmente”. (REB, setembro 1960, p. 845).

Frei Modesto faleceu repentinamente em São Paulo, aos 11 de julho de 1960, logo após ter rezado a santa Missa da manhã, na casa das Irmãs de Jesus Crucificado. Subia para o quarto quando foi atingido por um ataque fulminante. Na noite anterior o pregador fizera a abertura do retiro anual, considerando que aquele poderia ser o último retiro para qualquer um dos presentes. E o foi, para Frei Modesto.

Outros dados sobre missões de Frei Modesto podem ser consultados em seu Diário (um deles, que sobrou), e no livrinho que escrevemos: “Pastoral Missionária , – 1890-1980”.

(Cf. AOMC. 76, 271; R. V. - julho - 1960, p. 62; REB, setembro 1960, p. 845)

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