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18/05/2020 - 10h55
Por Frei Luan Dantas dos Santos, OFMCap

     Nas terras do Nordeste brasileiro, dentre as tantas tradições trazidas pelos missionários capuchinhos, uma teve maior destaque e se popularizou entre aqueles que acorrem às nossas Igrejas conventuais e paróquias capuchinhas. É o sacramental conhecido como Benção de São Félix, que semanalmente lota nossas igrejas e neste ano de 2020 tem provocado feridas de saudade nos corações de muitos fiéis. 

     Com a pandemia do novo Corona Vírus (Covid19), todas as igrejas católicas no Brasil, e também na maioria dos outros países, fecharam suas portas e o acesso presencial dos fiéis aos ritos sagrados foi interrompido. Dessa forma, já estamos a dois meses observando as sextas-feiras vazias e silenciosas em nossos santuários. Os fiéis questionam: como lidar com a saudade? Como em plena sexta-feira não ter um capuchinho para nos abençoar e nos atender no sacramento da confissão? Como no meio de uma pandemia ficar sem a benção da saúde? 

     Para nós frades também é doloroso: como atender a ligação dos fiéis que pedem o retorno das bênçãos e lhes fazer entender que é para seu próprio bem? Como neste dia 18 celebrar a festa de um santo tão amado sem a presença do fervor popular com o qual estamos tão acostumados?

     Busquemos as respostas na cidade de Roma, entre os anos de 1547 e 1587, quando entre as ruas e vielas da cidade, um pobre frade de hábito humilde e espirito alegre, conhecido e admirado por aqueles que o encontravam, fazia seu caminho.  Esse frade, filho do “poverello” de Assis, chamado de Félix, trazia consigo grande discernimento sobre as coisas do Senhor e era conhecido de bispos e papas que, sendo doutos, recorriam a seus humildes conselhos. Qual seria o ensinamento apresentado nas palavras desse religioso, que nem se quer era alfabetizado? Acredito que a resposta esteja no apelido dado a ele, que nos é conhecido até hoje: o santo “Deo gracias”. 

     Exercendo seu ministério de esmoleiro, Frei Félix encontrava muitas portas abertas e cheias de afetos, mas também muitas portas fechadas e xingamentos inóspitos. Independente da resposta recebida, o santo homem entoava louvores a Deus, que lhe permitia passar por essas dificuldades, além de tantas outras que já tivera de enfrentar. Neste sentido é possível recordar que as sagradas escrituras estão cheias de personagens que procederam da mesma forma, e que nos momentos mais difíceis, estavam protegidos à sobra do Senhor. Talvez essa atitude de aceitação da realidade presente devesse ser mais praticada por todos nós que lastimamos tanto as restrições exigidas no momento. Ao exemplo do humilde frade pedinte de Roma, deveríamos dar mais graças a Deus pelas provações que temos de enfrentar e pelo aprendizado que receberemos delas.

     Outra característica que São Felix nos ensina com sua vida é a atenção para com os enfermos da cidade. Uma conhecida biografia sua, bastante presente nos territórios de nossa circunscrição provincial, e editada em comemoração aos 500 anos de seu nascimento, frisa mais de uma vez que não havia enfermo na cidade eterna que não tivesse recebido a visita do santo frade, pelo menos uma vez. Nessas visitas, o santo buscava sempre levar algum mantimento, em algumas ocasiões até algum tipo de remédio primitivo, na tentativa humilde de consolar ou minimizar a dor dos agonizantes. 

     Oxalá que cada devoto de São Félix trouxesse em seu coração o desejo de ajudar os enfermos nestes dias tão sombrios. Não na mesma forma prática, que seria inconsequente e arriscada, mas inspirados pelo mesmo ardor de consolação dos enfermos, movidos em uma prática contrária, ficando em casa e respeitando as medidas de contenção da doença, para que aqueles que lutam pela vida, possam o fazer sabendo que o número de contágios está sendo controlado e seus entes queridos não enfrentaram a mesma situação que enfrentam. 

     Que nesta semana em que celebramos a festa de São Félix, cada devoto do santo possa sentir de sua casa a mesma sensação sentida nas rotineiras sextas-feiras em nossas igrejas e possam ir além. Que cada um possa confiar inteiramente na graça de Deus; possa fazer sua parte para a solução do problema e não propagação da doença ao próximo; e possa retirar dessa situação um grande aprendizado humano e cristão. São Félix estará intercedendo por todos nós nestes dias, independente da unção com seu santo óleo. 
 

Frei Luan Dantas dos Santos, OFMCap

Pós-Noviço Capuchinho, bacharel em Filosofia pela Universidade Católica de Pernanbuco (UNICAP), reside atualmente no Convento santo Antônio, Natal-RN

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Maurício Soares de Souza (Convento São Félix de Cantalice)

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