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Papa recebe 400 membros da família franciscana

25/11/2017 - 10h22
Em audiência, o Papa agradeceeuem seu discurso, aos Franciscanos por tudo o que fazem em favor dos pobres e desfavorecidos do mundo

O Papa Francisco recebeu nesta quinta-feira, 23, cerca de 400 membros da família franciscana da Primeira Ordem e da Terceira Ordem Regular. O Pontífice deu início ao seu discurso agradecendo aos franciscanos por todo o trabalho que desenvolvem junto aos mais pobres e necessitados.

 

LEIA NA ÍNTEGRA A MENSAGEM DO PAPA

Queridos irmãos

O “Senhor Papa”, como o chamava São Francisco, acolhe-os com alegria e em vocês acolhe os frades franciscanos que vivem e trabalham em todo o mundo. Obrigado pelo que vocês são e pelo que fazem, especialmente em favor dos mais pobres e desfavorecidos.

“Todos do mesmo modo são chamados de menores”, se lê na regra não Bulada. [1] Com esta expressão, São Francisco não fala de qualquer coisa de facultativo para os seus irmãos, mas manifesta um elemento constitutivo da  vida e missão de vocês.

De fato, na forma de vida de vocês, o adjetivo “menor” qualifica o substantivo “irmão”, dando ao vínculo da fraternidade uma qualidade própria e característica: não é a mesma coisa dizer “irmão” e dizer “irmão menor”. Por isso, ao falar de fraternidade é preciso ter bem presente esta característica típica franciscana da relação fraterna, que exige de vocês uma relação de “irmãos menores”.

Onde Francisco se inspirou para colocar a minoridade como elemento essencial da  fraternidade de vocês? [2]

Sendo Cristo e o Evangelho opções fundamentais de sua vida, com toda segurança, podemos dizer que a minoridade, embora não faltando motivações ascéticas e sociais, nasce da contemplação da Encarnação do Filho de Deus e se resume na imagem de fazer-se pequeno, como uma semente. É a mesma lógica do “embora fosse rico, se tornou pobre por causa de vocês, para com a sua pobreza enriquecer a vocês” (ver 2 Cor 8,9). A lógica do “despojamento” que Francisco aplicou à carta quando “despojou-se, até à nudez, de todos bens terrenos, para entregar-se inteiramente a Deus e aos irmãos” [3].

A vida de Francisco foi marcada pelo encontro com Deus pobre, presente entre nós em Jesus de Nazaré: uma presença humilde e escondida que o Poverello adora e contempla na Encarnação, na Cruz e na Eucaristia. Por outro lado, sabemos que uma das imagens evangélicas que mais impressionou Francisco é aquela do lava-pés dos discípulos na Última Ceia. [4]

A Minoridade Franciscana se apresenta para vocês como lugar de encontro e comunhão com Deus; como lugar de encontro e comunhão com os irmãos e com todos os homens e mulheres; enfim, como lugar de encontro e comunhão com a criação.

A minoridade é um lugar de encontro com Deus

A minoridade caracteriza de modo especial a relação de vocês com Deus. Para São Francisco, o ser humano não tem nada seu a não ser o próprio pecado, e vale quanto vale diante de Deus e nada mais. Por isso a relação de vocês com Ele deve ser aquela de uma criança: humilde e confiante e, como aquela do publicano do Evangelho, consciente do seu pecado. E atenção ao orgulho espiritual, ao orgulho farisaico: a pior das mundanidades.

Uma característica da espiritualidade de vocês é aquela de ser uma espiritualidade de restituição a Deus. Todo o bem que há em nós ou que possamos fazer é dom Daquele que, para São Francisco, era o Bem “todo o Bem, o Sumo Bem” [5] e tudo deve ser restituído ao “Altíssimo, Onipotente e bom Senhor”. [6] Nós fazemos isso através do louvor, nós o fazemos quando vivemos de acordo com a lógica evangélica do dom,  que nos leva a sair de nós mesmos para  encontrar os outros e acolhê-los na nossas vida.

A minoridade é lugar de encontro com os irmãos e com todos os homens e mulheres

A minoridade se vive, antes de tudo, na relação com os irmãos que o Senhor nos deu. [7] Como? Evitando qualquer comportamento de superioridade. Isso significa erradicar os julgamentos fáceis sobre os outros e falar mal dos irmãos pelas costas – isto está nas “Admoestações”! – [8] rejeitar a tentação de usar a autoridade para subjugar os outros; evitar de fazer com que “sejam pagos” os favores que fazemos aos outros, na medida em que aqueles feitos pelos outros a nós os consideramos devidos;  afastar de nós a ira e perturbação pelo pecado do irmão. [9]

A minoridade se vive como expressão da pobreza que vocês professaram, [10] ao cultivar um espírito de não apropriação nas relações; quando se valoriza o positivo que existe no outro, como dom que vem do Senhor; quando, especialmente, os Ministros, exercitam o serviço da autoridade com misericórdia, como expressa, magnificamente, a “Carta a um Ministro” [11], a melhor explicação que Francisco oferece a nós do que significa ser menor com respeito  aos irmãos que lhes foram confiados. Sem misericórdia não há fraternidade nem minoridade.

A necessidade de expressar a  fraternidade de vocês em Cristo faz, sim, com que as relações interpessoais de vocês  sigam o dinamismo da caridade, de modo que, enquanto a justiça os levará a reconhecer os direitos de cada um, a caridade transcende esses direitos e os chama à comunhão fraterna; porque não são os direitos que vocês amam, mas os irmãos, que vocês devem acolher com respeito, compreensão e misericórdia. Os irmãos são importantes, não as estruturas.

A minoridade também precisa ser vivida em relação a todos os homens e mulheres com os quais vocês se  encontram no “andar pelo mundo”, evitando com máximo cuidado toda atitude de superioridade que os possa afastar dos outros. São Francisco exprime claramente esta instância nos dois capítulos da Regra Não Bulada, onde ele coloca em relação a escolha de não se apropriar de nada (viver sine proprio) com o acolhimento benévolo de cada pessoa ao ponto da partilha de vida com os mais desprezados, com aqueles que são considerados realmente os  menores da sociedade: “Cuidem os irmãos, onde quer que estejam […], de não   apropriar-se de qualquer lugar nem disputá-lo a outrem. E todo aquele que deles se acercar, seja amigo ou adversário, ladrão ou bandido, recebam-no com bondade”.  [12] E também: “E devem ser felizes quando vivem entre as pessoas de baixa renda e desprezadas, entre os pobres e os fracos, entre os doentes e leprosos, e entre os mendigos ao longo do caminho”. [13]

As palavras de Francisco nos impelem a nos perguntar enquanto fraternidade: onde estamos? Com quem estamos? Com quem nos relacionamos? Quem são nossos preferidos? E uma vez que a minoridade interpela não só a fraternidade, mas cada um de seus membros, é oportuno que cada um faça o exame de consciência sobre seu próprio estilo de vida; sobre seus gastos; sobre seu vestir; sobre aquilo que considera necessário; sobre a própria dedicação aos outros; sobre  fugir do espírito de cuidar de mais de si mesmos e também a própria fraternidade.

E, por favor, quando vocês desenvolverem alguma atividade com  os “mais pequenos”, os excluídos e os últimos, não o façam jamais a partir de um pedestal de superioridade. Pensem antes  que tudo aquilo que vocês fazem para eles é um modo de restituir o que gratuitamente vocês receberam. Como Francisco admoesta na “Carta a toda a Ordem”: “Nada de vós retenhais para vós mesmos”. [14] Criem um espaço acolhedor e disponível para que entrem na vida de vocês todos os menores do nosso tempo: os marginalizados, homens e mulheres que vivem em nossas ruas, parques ou estações; os milhares de desempregados, jovens e adultos; tantos doentes que não têm acesso a cuidados adequados; tantos anciãos abandonados; as mulheres maltratadas; os migrantes que procuram uma vida digna; todos aqueles que vivem nas periferias existenciais, privados da dignidade e até mesmo da luz do Evangelho.

Abra os vossos corações e abracem os leprosos do nosso tempo e, depois de ter tomado consciência da misericórdia que o Senhor  fez a vocês, [15] façam com eles misericórdia assim como a fez o Pai São Francisco [16] e, como ele, aprendam a serem “enfermos com os enfermos, aflitos com os aflitos”. [17] Tudo isso, longe de ser um sentimento vago, indica uma relação  tão profunda entre as pessoas que, transformando os seus corações, os levará a compartilhar a própria sorte delas.

A minoridade é um local de encontro com a criação

Para o Santo de Assis, a criação era “como um esplêndido livro em que Deus nos fala e nos transmite algo de sua beleza” [18]. A criação é “como uma irmã,  com a qual compartilhamos nossa existência e como uma bela mãe que nos acolhe nos braços” [19].

Hoje – nós sabemos – essa irmã e mãe se rebela porque se sente maltratada. Em face da deterioração global do meio ambiente, peço-lhes que, como filhos do Poverello, entrem em diálogo com toda a criação, emprestando-lhe  voz de vocês  para louvar o Criador e, como fazia São Francisco, tenham para com isso um cuidado especial, superando qualquer cálculo econômico ou romantismo irracional. Colaborem com várias iniciativas para o cuidado da casa comum, lembrando sempre a estreita relação que há entre os pobres e a fragilidade do planeta, entre economia, desenvolvimento, cuidado da criação e a opção pelos pobres. [20]

Caros irmãos, renovo a vocês o pedido de São Francisco: E sejam menores! Deus custodie e faça crescer a vossa minoridade.

Sobre todos vocês, invoco a bênção do Senhor. E, por favor, não se esqueçam de rezar por mim. Obrigado!

“‘Todos, da mesma forma, sejam chamados menores’. Com esta expressão, São Francisco de Assis não fala de algo facultativo para os seus irmãos, mas manifesta um elemento constitutivo da vida e da missão de vocês”, disse o Papa à família franciscana.

Francisco lembrou que na forma de vida franciscana, o adjetivo “menor” qualifica o substantivo “irmão”, dando ao vínculo da fraternidade uma característica e qualidade própria: “não é a mesma coisa dizer ‘irmão’ e dizer ‘irmão menor’. Por isso, falando de fraternidade é preciso considerar esta característica típica franciscana da relação fraterna que exige de vocês um relacionamento de ‘irmãos menores'”, disse o Papa.

O Papa destacou ainda que, uma característica da espiritualidade franciscana “é a de ser uma espiritualidade de restituição a Deus”.

“Todo o bem que existe em nós ou que nós podemos fazer é um dom Daquele que para São Francisco era o Bem, ‘todo o bem, o sumo bem’ e tudo é restituído ao ‘altíssimo, onipotente e bom Deus’. Fazemos bem através da oração, quando vivemos segundo a lógica evangélica do dom que nos leva a sair de nós mesmos para encontrar os outros e acolhê-los em nossa vida”, afirmou.

Segundo o Santo Padre, se vive o adjetivo ‘menor’ “como expressão da pobreza, que os franciscanos professam, quando se cultiva um espírito de não se apropria das relações, quando se valoriza o que há de positivo no outro, como dom que vem do Senhor; quando, especialmente, os ministros exercem o serviço da autoridade com misericórdia, conforme expressa magnificamente a carta a um ministro, a melhor explicação que nos oferece São Francisco do que significa ser menor em relação aos irmãos que nos foram confiados”.

Para o Santo de Assis, “a criação era como um livro esplêndido em que Deus nos fala e nos transmite alguma coisa sobre a beleza. A criação é como uma irmã, com a qual partilhamos a existência, e como uma mãe que nos acolhe em seus braços”.

“Hoje, esta irmã e mãe se rebela porque se sente maltratada. Diante da deterioração global do ambiente, peço a vocês para que como filhos do Pobrezinho de Assis, entrem em diálogo com toda a criação, oferecendo-lhe a sua voz para louvar o Criador, e como fazia São Francisco, tenham por ela um cuidado especial, superando todo cálculo econômico ou romantismo irracional. Colaborem com todas as iniciativas em prol do cuidado da Casa comum, recordando sempre a relação estreita entre os pobres e a fragilidade do planeta, entre economia, desenvolvimento, cuidado da criação e opção pelos pobres”, concluiu o Papa.

 

 

 

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Frei João Carlos Romanini (Conferência CCB)

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