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Um relato missionário: "Uma Igreja que se faz carne e arma sua tenda na Amazônia"

08/02/2018 - 17h16
Frei Glaicon partilha de sua experiência missionária em Plácido de Castro no Estado do Acre.

No processo formativo dos Capuchinhos de Minas Gerais os Frades da etapa inicial vivem um tempo chamado de Estágio Formativo. Esse tempo é realizado logo após a conculsão do curso de Filosofia. O Estágio Formativo tem duração mínima de um ano e nele é proporcionado uma vivência missionária e intensa de nossa forma de viver franciscanamente. Frei Glaicon Givan Rosa vivenciou essa etapa no ano de 2017 no estado do Acre. 
O desejo missionário de Frei Glaicon surgiu do testetmunho missionário de uma Irmã Serva da Caridade e de um Frei Franciscano Capuchinho que trabalharam em sua cidade natal no sul de Minas. Frei Glaicon relata que foi esse testemunho missionário que o conduziu a Ordem dos Frades Menores capuchinhos e enfatiza que o ardor missionário permanece vivo e latente dentro dele. 
Alegremente, Frei Glaicon diz que sua história vocacional tem hoje um novo marco: antes e depois do Acre.
É nesse espírito missionário que Frei Glaicon partilha de sua experiência conosco nas linhas abaixo.

Palavras de Frei Glaicon:

Fui enviado para Plácido de Castro, uma pequena cidade no sul do estado do Acre, na divisa do Brasil com a Bolívia. Foi a primeira vez que a nossa Província de Minas Gerais enviou alguém para a Missão no Acre e nesse ano de 2018 Frei Warley viverá a missão na mesma cidade. Plácido de Castro é uma cidade pequena marcada na história pelo período da exploração da borracha nos grandes seringais, da colheita da castanha do Brasil e das práticas agropecuárias. De uma população composta de nordestinos, sulistas e mineiros que vivem grandes problemas com a falta de empregos e de perspectiva de futuro para os jovens e de um grande êxodo para a Capital Rio Branco.

Tive oportunidade de encontrar com tantas irmãs missionárias que partilharam comigo as suas experiências e me incentivaram no gosto pela missão. “Com tantos testemunhos de que a missão não é fácil, com tantas vidas doadas na radicalidade da missão evangélica, aqui estou. Ser o mais novo do grupo, tanto de idade, de vida religiosa e de Acre, me faz olhar para o rosto de todas essas senhoras marcadas pela entrega e me questionar sobre a minha participação na promoção do Reino. Com o coração carregado de angústias e de mágoas, de sensações de fracasso e de inutilidade, eu cheguei entre missionárias. ” (Retiro 3ª parte). Sou grato a cada uma delas pelas belas palavras partilhadas.

Meu tempo de missão se delineou em presenças simples junto ao povo para rezar, para dividir a vida, para sonharmos juntos com tantas coisas melhores e para fazer o que está ao nosso alcance. É, por certo, uma presença modesta. “Porque a vastidão da Amazônia Acreana me assusta? Crescido entre as montanhas em que o meu ‘horizonte horizontal’ não ia mais longe que o próximo espigão. E entre as montanhas das Gerais minhas raízes cresceram, .... Agora vejo-me diante, e dentro, de terra nova. E aqui sou chamado a dar o melhor de mim a quem espera o mínimo. Deus deu o tudo por mim, não posso negar aos outros as minhas flores que revelam que Deus me criou. Sou apenas uma pequena planta que colore com cores tímidas o chão da mata do Acre. ” (Retiro 16ª parte)

Viver a simplicidade e o grande contato com o povo, seja andando pela rua de bicicleta, visitando as famílias, indo às comunidades da zona rural, celebrando nas casas, acompanhando os grupos, ou simplesmente estando ao lado do povo nos momentos de alegria e tristeza, faz com que a vida se torne menos pesada e que se construa uma relação de maior confiança e afeto com as pessoas.

Experienciar a missão no Acre é viver uma Igreja que se faz carne e arma sua tenda na Amazônia, para que, ao lado dos pobres, dos seringueiros, dos quebradores de castanha, dos agricultores, se possa ter os pés bem firmes no chão da realidade e olhar para o alto sonhando, entre as copas da grande floresta, com o lugar de irmãos que chamamos de céu.

“Ouvi histórias belas e causos acreanos, e me encantei com a sabedoria do povo da mata e com o jeito simples de viver. Agora posso ser mais um com eles e, entre eles, ser sinal do sagrado que em todos nós habita como sua melhor morada.” (Do louvor à despedida 1ª parte)

“Ainda que com raízes tímidas e miúdas, penso que consegui desabrochar flores simples e singelas nessa terra acreana. Após o corte e a mudança, demora-se um tempo para se adaptar a terra. E agora se aproxima o Divino jardineiro para de novo podar e mudar-me, porém já conheço a ‘nova’ terra e já sei como florir lá. Porém, é de especial maneira levar os cuidados aprendidos aqui para que continue louvando e agradecendo ao Senhor da história que tão carinhosamente age em nós. Deixar nesta terra amores, amados e amigos pode, e vai custar-me muito. Porém, como disse Adélia Prado: ‘O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível’ é a mais perfeita verdade” (Perto do fim 3ª parte).

“E assim, de novo, elevo a mesma prece missionária: E já que Tu quiseste para mim esta longa Via-Sacra, no alvorecer de cada dia, ajuda-me a partir” (Perto do fim 4ª parte).

 

Nota de Frei Glaicon: Os fragmentos entre aspas fazem parte de textos maiores e são de minha autoria. Surgiram nos momentos de retiros e de reflexão. Cada texto leva um título relacionado ao sentimento e o momento que vivia e é subdividido em partes.

Fonte: Capuchinhos do Brasil /CCB

Por Frei Douglas Leandro de Oliveira (Cúria MG)

LUSIA
09 de fevereiro de 2018
Foi um presente conhecê-lo, Frei. Que Deus continue abençoando seus passos!
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