Frei Gabriel de Frazzanò

FREI GABREL DE FRAZZANÒ – FRADE MENOR CAPUCHINHO

“O IRMÃO DE TODOS”
 

Nome de Batismo: Antonio Machi

Nascimento: 27/02/1907

Local: Frazzanó / Itália

Pai: Salvatore Machi

Mãe: Maria Papa

Admissão ao Noviciado: 08/12/1923

Profissão Religiosa: 09/12/1924

Nome Religioso: Frei Gabriel de Frazzanò

Profissão Perpétua: 07/06/1928

Falecimento: 17/04/1973 – Frutal MG / Brasil

 

            Frei Gabriel foi um religioso Capuchinho. Segundo testemunho de quem o conheceu, era um homem de grande estatura física, forte e trabalhador. Mas o que o distinguia era a grande envergadura moral, espiritual e, em todos os aspectos, de uma vida consagrada a Deus e a serviço do próximo, principalmente do pobre. Veio para o Brasil como missionário em 1936, ano em que a Província dos Capuchinhos de Messina abriu a missão em Minas Gerais a Pedido do Bispo de Uberaba, D. Frei Luiz Maria de Santana OFMCap.

            Frei Gabriel é da segunda turma de missionários que vieram para implantar a Ordem dos Frades Menores Capuchinhos em Minas Gerais. Os quatro missionários partiram da Itália, do porto de Nápoles, no dia 24/09 e chegaram ao Brasil no dia 10/10/1936. Chegando a Minas Gerais, Frei Gabriel foi designado para compor a Fraternidade de Carmo do Paranaíba. Os Capuchinhos haviam tomado posse dessa Paróquia de Nossa Senhora do Carmo no dia 08/02/1936 e, nos registros históricos, conta-se que houve “uma recepção calorosa aos frades que chegavam; todos se admiravam daqueles homens de aspecto austero, longas barbas, habito marrom, ainda não sabendo falar o português correto”.

            Em Carmo do Paranaíba, Frei Gabriel é encarregado da construção de uma nova igreja, dedicada a São Francisco de Assis. Nesse trabalho começa a aparecer o espírito de liderança do humilde irmão, que não media esforço para a execução desse empreendimento. Ele se desdobrou no seu dinamismo admirável, ajudado por um grupo de pessoas de boa vontade e o apoio e entusiasmo de todo o povo católico. No livro de tombo da paróquia, frei Inocêncio de Castelbuono deixou escrito em 05/10/1950 o seguinte: “A igreja de São Francisco está quase completada, graças ao incansável, inteligente e virtuoso religioso Frei Gabriel de Frazzanò, que não poupou esforço, fadigas, vigílias, viagens ofegantes para administrar, fiscalizar, dirigir os trabalhos inanes da construção da mesma igreja. O nome de Frei Gabriel ficará gravado pelos séculos, numa glória interminável, nas basálticas lajes que ele concretizou com as gotas do seu suor. Mas a glória maior será aquela que Deus lhe está preparando no céu”.

            Frei Gabriel, segundo os costumes da época, sendo um religioso irmão, tinha as suas obrigações de um homem consagrado, horários de oração em fraternidade. Tinha também os serviços domésticos, cozinha, serviços de sacristão, cuidados com a horta. Sabe-se que cumpria todas as suas obrigações domésticas e encontrava tempo para a oração e para o trabalho de construção. E também encontrava tempo para ajudar nas promoções que a paróquia realizava. Passados alguns anos, achou-se por bem construir mais uma igreja na periferia da cidade. A igreja é dedicada a Santo Antônio e é erguida no bairro Niterói. Mais uma vez, vê-se o notável esforço de frei Gabriel, que tudo fez para a edificação dessa igreja. Conclamava o povo, fazia festas, organizava novenas, pedia nas fazendas, ajudava nas barraquinhas, conseguia prendas para os leilões. Se cuidava de buscar os recursos para o empreendimento, não se esquecia da parte espiritual, rezava o terço com o povo, animava para a participação na Eucaristia. Em 1942, inaugurou a igreja e o pároco da época registrou no livro de tombo que Frei Gabriel fez tudo com a licença do superior local e prestando contas da administração, dia a dia. Ainda registramos seu empenho na construção do salão paroquial da referida paróquia e a ajuda na construção de capelas nas comunidades rurais. Em 1951, frei Gabriel foi transferido para Uberaba.

            Frei Gabriel foi homenageado pelo poder legislativo e executivo de Carmo do Paranaíba em 1952, logo depois de sua transferência para Uberaba: foi denominada Avenida Frei Gabriel a ala direita da Avenida Costa Júnior. Esse foi o reconhecimento, pelas autoridades de Carmo do Paranaíba, de seus trabalhos nessa cidade e testemunho de um homem de Deus, que na simplicidade, na abnegação e na rigidez da época, soube servir e buscar discernir a vontade de Deus nas coisas pequenas e no serviço simples do dia-a-dia. Por isso é que foi chamado de “o irmão de todos”.

            Em Uberaba: Atendendo ao pedido de D. Alexandre Gonçalves Amaral, bispo diocesano, os Frades Capuchinhos chegaram a Uberaba em 1946. Foi confiada a eles a Igreja Santa Teresinha, à época capela da catedral. A Paróquia de Santa Teresinha foi criada por D. Alexandre Gonçalves Amaral em 20/09/1949 e entregue aos Capuchinhos, que já estavam ali.   Frei Gabriel chega a Uberaba em meados de 1951, para compor a Fraternidade e cooperar nos trabalhos, seja pastorais, seja de edificação da nova igreja matriz e da igreja dedicada a São Judas Tadeu. A sede da paróquia era uma igreja pequena. Na época em que frei Odorico Virga foi o pároco, em 1957, foi acertado que se faria uma nova igreja. A pequenina igreja ficou ali e no mesmo lugar foi-se edificando a nova igreja, que é uma igreja majestosa. Ao seu tempo, a igrejinha foi derrubada para continuação das obras. Frei Gabriel, juntamente com frei Odorico, pároco, em 1952, iniciaram as obras para construir a igreja dedicada a São Judas Tadeu, para cuja construção o trabalho de frei Gabriel foi determinante. Ele dedicou o melhor de si para recolher donativos e ofertas, administrava a construção e trabalhava com os operários. Todos os dias, estava na labuta para levantar a edificação, carregando material, ajudando no que fosse preciso. Iniciada a obra, ele queria vê-la pronta. Parece que tinha nele uma inquietude, que lhe era própria, assim como se quisesse acelerar os trabalhos, com sua força física e força de vontade.

            Na memória do povo ficaram guardados o empenho e todo trabalho realizado para a construção da Igreja são Judas. Conta-se que Frei Gabriel fez a “campanha do ovo”. Pedia ovos nas casas, na catequese, nas escolas e, depois de arrecadados, ele os ia vender no mercado. Toda a renda era aplicada na obra. Em novembro de 1954, sendo pároco frei Conrado de Troína e com a presença de D. Alexandre Gonçalves Amaral, foi inaugurada a nova Igreja São Judas Tadeu.

            Sendo a igreja já edificada e inaugurada, frei Gabriel conclamava o povo para a oração. Estava sempre incentivando, convocando, ensaiando cantos e rezando junto com o povo. Ia ao encontro das pessoas, participava de sua vida e procurava trazer a todos para a igreja, para viver mais intensamente a fé. No que chamamos hoje trabalho social, frei Gabriel ia ao encontro dos pobres, ajudava como podia, confeccionava sacolas de alimentos, se ocupava em ajudar os doentes.

            A Matriz da paróquia Santa Teresinha, era um templo pequeno. Em 1957, frei Odorico Virga, pároco nessa época, resolve fazer uma nova matriz, que é a atual igreja. Frei Gabriel foi o grande colaborador de frei Odorico neste empreendimento. Sabemos que frei Gabriel trabalhou braçalmente, envidou esforço para angariar recursos, ajudava na compra de material de construção, supervisionava o trabalho. Sua presença e liderança foram decisivas na construção da nova igreja matriz.

            Frei Gabriel viveu e trabalhou algum tempo também em Belo horizonte, destacando-se sua contribuição na construção da igreja matriz, dedicada a N. Sra. do Rosário de Pompéia.

            Em Frutal, Frei Gabriel chegou como missionário em 1936, foi sua primeira cidade em Minas Gerais. A vida dos frades Menores Capuchinhos é uma vida itinerante e com frei Gabriel não foi diferente. Ele morou em várias Fraternidades e sua vida era esse peregrinar. Onde era chamado, ia. Em Frutal morou várias vezes, mas a partir de (1957 ou 1962?) ele se fixou em Frutal. Desde a sua chegada a essa cidade, frei Gabriel granjeou muita estima e pôs-se ao serviço humilde de ajudar na igreja, na sacristia, na cozinha da Fraternidade e na assistência aos enfermos e aos pobres. Preocupado com a religião e com a recepção dos sacramentos, vivia sempre visitando famílias, aconselhando os casais e tentando fazer voltar à Eucaristia as pessoas que estavam afastadas.

            O esforço inicial de frei Gabriel em Frutal foi a construção da nova igreja matriz. Ele trabalhou não só para angariar fundos para a obra, mas também no penoso trabalho braçal.

Foi nessa época que frei Gabriel iniciou uma diversificada lista de realizações sociais de grande cunho em Frutal. A primeira delas foi a construção do Asilo Pio XII, destinado a amparar a pessoa idosa, muitas vezes esquecida por seus familiares ou em situação de vulnerabilidade social. O lançamento da pedra fundamental aconteceu em 26/09/1962. No Natal daquele mesmo ano, a obra era inaugurada e, no dia 06/01/1963, já estava em pleno funcionamento, quando foi abençoada a capela dedicada a N. Sra. de Fátima, ao lado do asilo. Portanto, a estrutura básica do asilo foi construída em menos de três meses.

            Em 1966, aos 20 de setembro, frei Gabriel novamente reúne, no salão paroquial, algumas pessoas de boa vontade para apresentar mais um projeto sonhado por ele, a construção de uma “santa casa” – hospital São Francisco, para atender os pobres, naquela época muito carentes de assistência hospitalar. Foi considerado um louco, um sonhador por muitos. Mas existe loucura maior de que um Deus que morre na Cruz pelos homens, pelos pecadores? Imbuído desse espírito, Frei Gabriel lançou-se com um pequeno grupo de pessoas nesse empreendimento. O hospital São Francisco foi construído e, por muito, tempo funcionou como uma obra da Igreja Católica de Frutal, cumprindo a missão de salvar vidas e dando um maior alento aos pobres.

            No dia 04/01/1970, nova inauguração de uma obra imaginada, sonhada e concretizada por Frei Gabriel. Desta vez, a Casa da Criança Santo Antônio de Pádua. Nessa instituição, eram atendidos os meninos desamparados, órfãos e crianças cujos pais não tinham condições de os criar. Uma obra sem sofisticação, que não recebeu nenhuma ajuda governamental, mas que atendia à sua grande função que era a de amparar menores abandonados, assistindo-os, evitando sua marginalização e promovendo vidas.

            Frei Gabriel queria mais. O seu zelo não se limitava à assistência social, material. Era preciso também cuidar do espiritual, cuidar para que a mensagem de Jesus Cristo chegasse a todas as pessoas. Vendo que a cidade crescia, verificando que um populoso bairro da cidade não contava com uma igreja, ele ficava inquieto e, tratando com o pároco da época, começam a obra para a construção da Igreja Nossa Senhora Aparecida. A “Igrejinha” como era chamada, foi inaugurada em 1971. Via-se todo dia Frei Gabriel na dura lida de transportar material de construção. A obra foi crescendo; crescendo da piedade de um homem de Deus que se preocupava com o espiritual, com a evangelização da comunidade, que queria que todos acolhessem e vivessem os ensinamentos de Jesus Cristo. Tijolos, pedras, madeira, vidro, ferro, telha, bancos, altar, cálice: tudo foi numa sequencia natural, mas impressionante. Ele cuidava de tudo, pensava em tudo e tudo providenciava.

            Frei Gabriel teve o reconhecimento de seu trabalho em prol dos frutalenses, principalmente o seu trabalho em favor dos pobres e doentes. No dia 25/12/1965, em sessão de gala, foi-lhe concedido o título de “Cidadão Frutalense”. O título manifestava o reconhecimento do município da dedicação de frei Gabriel, na sua missão de homem consagrado a Deus, que foi ao encontro do anseio das necessidades do povo sofrido. Mesmo aceitando as homenagens, o frade não se envaidecia, pois para ele tudo o que fazia era movido pelo amor de Deus. Em seu coração havia apenas a vontade de fazer o bem, de servir. Este título apenas fazia com que mais pessoas pudessem se comprometer em ajudar nas suas obras, que afinal eram de todos. Frei Gabriel não era um homem de fazer discursos, de falar bonito, assim numa ocasião como essa ele recorria a uma pessoa douta e amiga, para falar por ele e agradecer a homenagem. Se lhe faltava o dom da oratória e da persuasão pela palavra erudita, sobrava-lhe o dom ou carisma da ação, da disponibilidade e do serviço. Essa atitude falava alto em sua viva, pois ele não vivia para si mesmo, mas para os outros.

            Em vida, frei Gabriel recebeu outro reconhecimento público por parte das autoridades de Frutal. Foi dado o seu nome a uma praça, uma praça modesta, mas acolhedora. Numa pedra, uma placa de bronze com os dizeres: “Jardim Público – Praça Frei Gabriel – Administração Dr. José Miziara M. Andrade – 04/10/1971”.

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Texto: Frei Vicente da Silva Pereira OFMCap