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FREI APOLÔNIO TROESI

Publicado por Frei Antônio Macapuna | 09/05/2016 - 21:58

FREI APOLONIO TROESI:
* Alzano Lombardo – Bérgamo - Itália, 14/06/1932
† São Luís, Maranhão, Brasil, 09/05/2016


Natural de Alzano Lombardo, Bérgamo, Itália, aos 14 de junho de 1932; filho de Angelo Natale Troesi e Josefina Noris. Entrou no Convento aos 12 anos de idade, perfazendo, conforme os moldes formativos daquele tempo: Aspirantado, Postulado e Noviciado. Vestiu o sacro burel em Lovere aos 14/08/1948; aos 15/08/1949 emitiu a Profissão Temporária, também em Lovere e, aos 12/07/1953, em Lecco, emitiu sua Profissão Perpétua. No dia 25 de fevereiro de 1956, foi Ordenado Sacerdote, no Duomo de Milão, pelo               Cardeal Montini – Beato Papa Paulo VI –. 
Antes de vir ao Brasil, ainda na sua Província de origem, exerceu uma inconteste folha de serviços: em 1958, Professor no Seminário de Albino; em 1965 encontramo-lo em Varese como Professor; de 1967, em Sondrio, como Professor e Prefeito dos Estudos; em 1973, Varese: Guardião e Professor; em 1976, Secretário do Centro Missionário em Milão; em 1985, Brescia; 1986, em Albino como Guardião. No dia 12/08/1988, recebeu a obediência para vir ao Brasil como Missionário.     
Formado em literatura antiga, dedicou-se ao magistério eclesiástico nas Casas de Formação da Província Lombarda. Durante o Provincialato de frei Eufrásio Pisoni, ele coordenou o Centro Missionário Provincial, com especial atenção às Missões do Brasil, Camarões e Costa d’Avorio. Ao terminar esse serviço solidário, realizado com esmero e competência, foi enviado à Viceprovíncia do Maranhão, Pará e Amapá; chegando aqui, dedicou-se à preparação do centenário da fundação da Missão Lombarda no Norte do Brasil e às Obras Sociais aos pobres e, entre estas, sobressaem as “escolinhas do Anil”.  
Sempre sonhou e desejou ser missionário ad gentes, mas, devido aos seus dotes de engenho, inteligência e vasta cultura, os Superiores o seguraram na sua Província de origem, o quanto puderam. Mas, enquanto permaneceu na Itália, pode satisfazer sua vocação missionária, trabalhando como Secretário das Missões, acompanhando com interesse e ampla visão as problemáticas e desafios da evangelização nas diferentes partes do mundo, ajudando de coração generoso, aos Missionários e as Missões nas suas inúmeras necessidades. No dia 25 de fevereiro de 1989, o seu sonho tornou-se realidade. Finalmente, frei Apolônio pisou a Terra brasileira como Missionário.


MISSIONÁRIO NO “NORTE DO BRASIL”: 
FREI APOLONIO, escolheu palmilhar o chão sagrado dessa Missão do “Norte do Brasil”, anteriormente banhado no sangue dos seus coirmãos de hábito e de língua, amalgamado pelos pés de homens santos, de aguçado espírito de sacrifício que, não poupando a si próprios, entregaram-se à Missão ao custo de suas próprias vidas. Para ser missionários “ad gentes” não existem limites de idade. 
De 1989 a 2016, portanto há 27 anos, após uma longa folha de serviços prestados à sua Província, especialmente no Centro Missionário de Milão, escolheu vir ao Brasil como Missionário. Nesses 27 anos de Missão, sua missionariedade foi posta a serviço do Povo de Deus em São Luís/COHAB, como Vigário Paroquial (1989-1994); em seguida foi enviado a São Jorge do Prata, como Vicepostulador da Causa de frei Daniel (1995-1998); transferido a Belém (1999-2005), como Guardião e Vicepostulador; em Macapá, no período de 2006-2014, exerceu as funções: Vigário Conventual, Vice mestre dos noviços, Confessor das Irmãs Clarissas Capuchinhas e responsável pelas Obras Sociais de Macapá e Belém. No último Capítulo Provincial (2014) foi transferido para a São Luís/COHAB, como Vigário Paroquial, Confessor e Vicepostulador; e, finalmente, nos inícios de 2016 foi transferido para Vila dos Frades como Confessor dos Posnoviços. 
Ao chegar à Viceprovíncia em 1989, foi enviado ao Estudantado de Filosofia “Frei Lourenço de Alcântara”, cujo nome ele introduziu e onde foi de grande valia a sua presença de Capuchinho austero. Em 1993, fez parte da equipe do Centenário da Missão Lombarda no Norte do Brasil; a ele com sua equipe se deve o êxito daquelas efemérides jubilares. A ele também devemos a cura do livro: “Saíram para semear”, alusivo à comemoração dos cem anos de presença missionária dos Capuchinhos lombardos no Norte do Brasil. Frei Apolônio foi a alma das celebrações daquele frutuoso centenário. Nesse período, com a Irmã Fausta Milesi, dedicou-se aos mais pobres na invasão “Vila Litorânea”, na região metropolitana de São Luís. 
Depois de cinco anos em São Luís, em 1995 foi transferido para São Jorge do Prata/PA, como Vigário Paroquial, mas passando a semana em Belém onde estava a sede da Vicepostulação da Causa de Beatificação e Canonização do Servo de Deus, Frei Daniel de Samarate. A ele se deve a volta da nossa presença a Santo Antonio do Prata (1991), pois, motivado pelas celebrações do Centenário e, pela “Colônia do Prata” ser o lugar por excelência do apostolado missionário de frei Daniel de Samarate. 
Apaixonado pela Causa desdobrou-se na pesquisa histórica preparando o Processo Canônico. Nesse período, sempre motivado pela proximidade com os empobrecidos, adentrou nas palafitas belenenses, chegando ao Tucunduba e ao Pantanal. Ele abriu clareiras pastorais naqueles rincões geograficamente periféricos, onde mais tarde, construiu-se a Igreja de Santo Antonio, hoje Paróquia. No terreno anexo construiu uma Creche que, hoje, serve aos paroquianos do Tucunduba. Tanto no Tucunduba como no Pantanal, introduziu as adoções à distância, salvando da fome muitas crianças.


AGRADECIMENTOS: 

Frei Apolônio a Província Nossa Senhora do Carmo, sentida pela lacônica notícia do teu trânsito para as mansões celestes e, ao mesmo tempo, jubilosa pela certeza de teres alcançado o prêmio prometido pelo Senhor, te agradece, por teres escolhido a nossa Província como espaço privilegiado do teu apostolado missionário; pelo testemunho de Capuchinho austero, fraterno e orante. Mas, especialmente, te agradece pela tua presença formadora entre os nossos jovens formandos, desde a COHAB nos primeiros anos da tua chegada entre nós, passando pelo Estudantado de Belém e, sobretudo, pelos 09 anos que viveste no Noviciado em Macapá, forjando nos corações juvenis o ideal capuchinho, amalgamado na simplicidade, no espírito de sacrifício e na pobreza seráfica.
Após nove anos em Macapá, frei Apolônio foi transferido para o Convento da COHAB, em São Luís/MA, com a responsabilidade de animar o “Centro Missionário”, mas após um ano, os desígnios de Deus foram outros e ele, pela idade já adiantada e quiçá já alquebrado pelos sinais da enfermidade que o levou a óbito, solicitou ser transferido para Vila dos Frades (Coroadinho), desejoso de levar vida regular naquele Convento, haja vista ser casa de formação. Mas, Deus, em seus insondáveis planos de amor, o conduziu àquele Convento dedicado a Nossa Senhora dos Capuchinhos, para prepará-lo para o grande encontro com o Senhor a quem “seguiu suas pegadas” desde os seus 12 anos.


ENFERMIDADE:

 No dia 25 de abril de 2016, foi internado no hospital UDI/Jaracati, em São Luís e, para surpresa de todos, veio o diagnóstico: câncer no fígado já em estado de metástase. A luta pela vida constitui a essência do nosso viver. Frei Apolônio com inteligência do seu corpo: dormia cedo, não tomava bebida alcoólica, era vegetariano, não fumava; e com parcimônia, usava vinho como complemento alimentar, assim como aprendera de seus antepassados. Por causa disso, poucas vezes frequentou um consultório médico. Assim nos surpreendeu e deixou-nos apreensivos ao saber do seu estado de saúde. 


ÚLTIMAS PALAVRAS:


Nestes últimos dias um telefonema da Itália surpreende aos seus acompanhantes. Sua Irmã Rita, ligou para saber como ele estava ao que ele respondeu telegraficamente: “Thaw, thaw, estou indo! Estou indo para um lugar muito lindo; lá é lindo!” Somente estas palavras e deixou o telefone. Qual filho de Francisco de Assis, frei Apolônio já estava imerso nos mistérios do seu Deus e seu “TUDO”. Ele que correu e guardou a fé, se preparava para receber o prêmio. Assim se dá o trânsito de um Homem de Deus!
Frei Apolônio chegou a esta nossa Missão, aos 57 anos de vida e 33 de Sacerdócio; e aqui viveu 27 anos de intenso e ardoroso serviço missionário. Hoje, sepultamos seu corpo envelhecido, debilitado e carcomido pela enfermidade, na venerável idade dos seus 84 anos de vida natural, 67 de Capuchinho e 60 de Sacerdócio.  


“IRMÃ MORTE”:

Na madrugada de 09 de maio de 2016, às 02:00, o Provincial me acordou para dar-me a lacônica notícia: “o frei Apolônio acabou de morrer”. A notícia trouxe-nos a sensação de um vazio, enquanto nosso Irmão, jazia inerte no leito hospitalar onde concluíra a sua existência terrena às 01:45 minutos, assistido por frei Joacy Fernandes. Um ar de fatalidade pairou entre nós durante a madrugada como se disséssemos: “tudo está consumado”. Frei Apolônio será velado durante o dia e a noite de hoje, na Igreja da Conceição Anil, onde haverá Missa de Corpo Presente às 18/30 e às 20 h. 
Esta manhã, por volta das 11 horas, contemplei o seu corpo morto deitado no esquife adornado com a efígie do Sagrado Coração de Jesus; merecida homenagem, pois, ele não deixava passar em branco suas primeiras sextas feiras. A porta do Templo aberta parecia uma guarita vazia. E o silêncio pairava sobre aquele corpo dilacerado, corroído pelo voraz câncer. O Círio Pascal colocado à sua cabeceira bruxuleava dando sinal de que, “aqueles que no Batismo foram sepultados com Cristo, com ele ressuscitarão”.
Afinal, ainda na atmosfera litúrgica da Ascensão do Senhor ao Céu, antes do raiar do novo dia (09/05/2016), frei Apolônio adormeceu no Senhor, pressagiado pelo mistério da Ascensão do Senhor que subiu ao céu, levando consigo uma existência carregada de muitos frutos. Nossa Senhora a quem ele muito amou nesta vida, o receberá gloriosa, e o conduzirá ao banquete das núpcias eternas.


DESPEDIDA:

Ao chegar entre nós, inseriu-se de modo tão espetacular entre nós que, pouco a pouco  conquistou a simpatia dos mais jovens. No Estudantado de Teologia em Belém, nos anos 1995/98, os estudantes o alcunharam, carinhosamente de “Pulu” e, mais tarde no Noviciado (2006/14), os noviços passaram a chamá-lo: “Popó”. As duas alcunhas, fraternalmente tituladas, indicam bem querer, confiança, estima e amizade, sinal da sua inserção no mundo dos formandos. Por sua presença franciscana entre nós; por ter escolhido vir somar forças conosco; por seu testemunho de Capuchinho austero; por seu testemunho de homem Consagrado e de Sacerdote abnegado, MUITO OBRIGADO! Que nossa Mãe, a Senhora do Carmo, volva para ti o seu olhar terno e misericordioso. 
Amanhã, 10/05/2016, daremos a nossa despedida a frei Apolônio. Na Igreja da COHAB, haverá a concelebração exequial às 08 horas da manhã, seguido do sepultamento no Cemitério São Pantaleão (Gavião), na seção II, túmulo 35Q, onde ele permanecerá até o ressoar das trombetas apocalípticas no dia da ressurreição dos mortos. Descanse em paz frei Apolônio e interceda por nós!    

 

Sobre o autor
Frei Antônio Macapuna

Frei Antônio Macapuna. Frade Capuchinho. Bacharel em Filosofia e em Teologia. Mestre em Teologia Espiritual Franciscana. Pregador de Retiro muito solicitado e conhecido. Por muito tempo trabalhou na formação como Mestre no: Postulado, Noviciado e Pós Noviciado de Teologia. Mora atualmente em São Luís, na Fraternidade Nossa Senhora dos Capuchinhos, na Vila dos Frades-Coroadinho.